Direita, volver, ou Um salto no escuro

A menos de cinco dias para as eleições presidenciais, o jogo está jogado.

Por mais que o Ibope de ontem tenha trazido uma diminuição da vantagem que Jair Bolsonaro ostenta sobre Fernando Haddad, não há mais tempo para que uma virada se materialize a essa altura do campeonato. Bolsonaro, que já entrara no segundo turno com um pé no Planalto e uma mão na faixa, já pode colocar a champagne na geladeira. Só um desastre de proporções bíblicas lhe tiraria a Presidência.

“E agora?”

Bem, agora é que são elas.

Até o momento, Bolsonaro gastou mais tempo no hospital e apagando os incêndios causados por sua entourage do que explicando suas propostas de campanha. Fora “mudar isso daí”, pouco se sabe sobre o que pretende o ex-capitão do Exército. Mesmo a delegação da agenda econômica ao seu Posto Ipiranga, o neoguru Paulo Guedes – ele próprio um desaparecido dos debates eleitorais – não resolve muita coisa, pois o economista não apresentou uma linha sequer do que pretende fazer ao sentar na cadeira de ministro da Fazenda. Nunca antes na história deste país, portanto, votou-se na mais completa ignorância sobre o que vai ocorrer nos próximos quatro anos de mandato presidencial.

Na verdade, Bolsonaro elege-se unicamente na esteira do antipetismo. Como a “direita” brasileira foi incapaz de produzir uma candidatura minimamente viável depois da débâcle generalizada do governo Dilma, só restou a quem não gosta do PT votar no único que fez oposição dia e noite ao partido da estrela vermelha. E, mais importante, o único que mostrava força suficiente para barrar a quinta vitória consecutiva dos petistas em pleitos majoritários.

Se por um lado a eleição de Bolsonaro representa a redenção de quem não aguentava mais ser governado pelo PT, por outro a maioria do seu eleitorado não parece ter pensado muito nas consequências de sua escolha. Além da duvidosa conversão de um campeão estatizante à agenda liberal, Bolsonaro traz consigo um passado difícil de engolir e um presente do qual, do pouco que se sabe, menos ainda se pode esperar.

Deixe-se de lado, por exemplo, que, na ativa, Bolsonaro foi preso por insubordinação e acusado de elaborar um plano que envolvia colocar bombas na Aman e na Vila Militar em protesto contra os baixos salários dos militares. Deixe-se de lado, também, os dois processos criminais que rolam no Supremo Tribunal Federal contra o candidato. Deixe-se de lado até a ausência de atividade parlamentar relevante em suas quase três décadas de Câmara dos Deputados.

Bolsonaro representa o que há de pior no militarismo tosco presente em alguns setores das Forças Armadas e mesmo em algumas camadas da sociedade. A idéia de que “eu prendo e arrebento” pode seduzir muita gente incauta, mas não sobrevive a duas linhas de um livro de História. João Figueiredo era general e presidia uma ditadura. Mesmo assim, foi um desastre como inquilino do Alvorada. Não resolveu nenhum dos problemas do país (inclusive a violência) e nos legou uma espiral hiperinflacionária que levaria uma década para ser resolvida. Não por acaso, sua melhor lembrança consiste no pedido para que lhe esquecessem, ao sair pela porta dos fundos do Planalto.

A História – sempre ela – oferece também paralelos com o passado não tão distante desta sofrida República. Como um meteoro que se choca contra o sistema político a cada 30 anos, por duas vezes o Brasil experimentou a eleição de outsiders, alicerçados em um puritanismo barato e em um conservadorismo de fancaria. Dispostos a mudar “tudo isso que está aí”, elegeram-se, em 1960, Jânio Quadros, e, em 1989, Fernando Collor de Mello. No primeiro caso, deu em renúncia (e mais tarde em golpe). No segundo, deu em impeachment. Nenhum dos dois é lembrado como exemplo de bom governante.

Bolsonaro pode traçar um caminho diferente? Claro. Mas, a julgar pelo seu histórico, é melhor ir se preparando. Boa coisa não deve vir.

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2 respostas para Direita, volver, ou Um salto no escuro

  1. Kellyne disse:

    É lá vamos nós, meu amigo, à espera de um milagre…numa esperança quase teológica…

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