Já faz algum tempo que o mundo político foi brasileiro foi tomado pela expressão “cristão conservador”. Muitas vezes substituída ou acompanhada pela indefectível variante “cidadão de bem”, os adjetivos designativos de certa parcela do povo brasileiro – quase sempre a sua elite -, acabaram tomando um rumo diferente daqueles a que designam os dicionários correntes da língua pátria. E, não raro, descobrimos “cidadãos de bem” quando eles surgem nas manchetes dos jornais, praticando atos como pedofilia, feminicídio, estupro y otras cositas más.
Não que isso fosse de todo inesperado. Afinal, se há algo que acompanha o cristianismo desde sempre é o seu correlato antípoda: o farisaísmo. Pessoas que falam sobre Deus sem saber ou sem ligar para os seus ensinamentos coabitam conosco desde que o mundo é mundo. O traço distintivo dessa aparente vertente de “neofariseus” é a submissão de todo o discurso religioso a um determinado sentido político, quase sempre enviesado. Se o sujeito está contra alguém (“meu político de estimação”), estará, por conseguinte, também “contra Deus”, como se uma coisa implicasse necessariamente a outra.
Nada mais falso.
Em primeiro lugar, as tentativas ridículas de indicar um candidato – qualquer que seja ele – como “enviado de Deus” ou “preferido do Senhor” violam diretamente o primeiro mandamento: Amar a Deus sobre todas as coisas. Embora o enunciando original tenha se destinado a condenar o politeísmo vigente naquela época, o sentido religioso do mandamento segue o mesmo: condenar toda e qualquer forma de idolatria, inclusive e especialmente aquela que pretende transformar os piores pecadores mundanos em substitutos do próprio Deus.
Em segundo lugar, que tipo de cristianismo se está a professar quando se prega a morte ou a destruição do outro? Não haverá uma viv’alma dentre os “cristãos conservadores” que tenha tomado ciência do segundo mandamento de Cristo (Amarás ao próximo como a ti mesmo)? O discurso de ódio vai na mão contrária de tudo o que os ensinamentos da Bíblia representam. Quem prega o extermínio de adversários, seja no sentido figurado, seja no sentido literal, pode chamar-se de qualquer coisa, menos de cristão.
Em terceiro e último lugar, que suposto pensamento cristão pode fazer com que pessoas aparentemente corretas passem pano para políticos que defendem tortura? Ou por acaso esses “cristãos” terão se olvidado de que o próprio Jesus foi Ele mesmo vítima de tortura; brutal, desumana e ignominiosa como o são todas as torturas? Não se sabe ao certo que livro guia esses “adoradores de Cristo”, mas certamente a Bíblia é que não deve ser.
É evidente que, por mais laico que seja o Estado, política e religião misturam-se em algum grau. Nunca é demais recordar que Jesus Cristo foi – Ele próprio – condenado à crucificação por um motivo político: subversão. Daí a plaquinha aposta por sobre a cruz em que o Cordeiro de Deus foi imolado: INRI – Iesus Nazarenus Rex Iudeaorum – Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus. Todavia, o discurso religioso não pode funcionar como biombo para atitudes manifestamente anticristãs, que se valem da ignorância e da crença do povo mais humilde para servir a outros propósitos que não os de Deus.
A verdade – é triste reconhecer – é que o “cristão conservador” tupiniquim tornou-se uma caricatura muito sem graça e terrível dele mesmo. Elevado ao patamar de bonus pater familias, esse exemplar curioso da fauna política nacional exala hipocrisia, ostenta malvadez e chega ao cúmulo se orgulhar da própria boçalidade. E, se há alguém que possa estar feliz com isso, pode estar certo de que não é o cara lá de cima.
Já o cara lá de baixo…
Um dia essas máscaras cairão!
Que triste um país mergulhado na hipocrisia de um farizsaísmo escancarado de emissoras de tvs que se dizem católicas. Olhos travados que não enxergam o fundo de poço que a nação está sendo jogada. Os bem remediados vivem a pensar que uma nação sobreviverá a custa de mentiras, venda de armas e exportação. O resto que se dane. E mais, um bando de julgadores que sentam nos tronos para julgar e condenar. Cuidado! Os olhos de Deus estão atentos! Ele conhece muito bem esses coraçoes podres na inveja, orgulho, vaidade e insensibilidade. Que cristãos que nada!