Uma igreja construída para não terminar nunca

Barcelona é uma das cidades mais alegres e festeiras do planeta. Principalmente depois das Olimpíadas de 1992, Barcelona virou uma referência cultural no mundo, especialmente quando o assunto é arquitetura e urbanismo.

Mas uma das atrações mais procuradas da cidade não é nenhuma das construções modernas. Na verdade, é uma das mais antigas. Provavelmente, a mais antiga igreja em construção no mundo: a Catedral da Sagrada Família.

Concebida, por Gaudí, a Sagrada Família está em construção desde – acredite – 1883. E até hoje não terminou.

Inspirada no estilo gótico, a Sagrada Família é desde sempre uma construção monumental. Com suas torres pontiagudas apontando para o Céu, seus pórticos laterais que embasbacam quem passa por ali, o que mais impressiona na Sagrada Família é o seu conjunto grandioso com uma fineza e riqueza de detalhes absolutamente incomum. Abaixo, uma pequena vista da fachada:

Ao projetá-la, Gaudí fiou-se na sua capacidade, simplesmente. Muita gente achou que não seria possível efetivamente construí-la; havia dúvidas se o projeto se agüentaria de pé (literalmente). Mesmo assim, começaram a erguê-la, vagarosamente, pedra por pedra.

Como se a lentidão da obra não bastasse, em 1935, durante a Guerra Civil Espanhola, os comunas malditos a queimaram, por raiva da Igreja Católica (que apoiava o exército de Franco). Pior que isso, queimaram também as maquetes e os croquis de Gaudí, que lá vivera recluso o final de sua existência.

Depois da II Guerra Mundial, começaram a reconstruir o templo. Resgataram alguns dos desenhos originais de Gaudí e finalizaram o projeto da Sagrada Família. Para felicidade geral da nação, os calculistas concluíram que o projeto era, sim, viável.

No projeto de Gaudí, haveria três grandes fachadas: nas laterais, a Natividade e a Paixão; à frente, a fachada da Glória.

A primeira delas a ser concluída foi a da Natividade. Ela foi concluída em 1930. Quem a visita pode verificar a diferença de idade pela cor da construção, bem mais escura que a sua correspondente, a fachada da Paixão.

Na fachada da Natividade, conta-se o nascimento de Jesus Cristo. Segundo consta, Gaudí preferiu fazê-la em primeiro lugar por ser ricamente decorada com adornos relativos ao advento de Cristo. Com isso, esperava que as pessoas “se empolgassem” com o projeto e não a abandonassem. Ele, obviamente, sabia que a construção não seria terminada durante a sua vida. Confira a foto abaixo:

No lado contrário à Natividade, está a fachada da Paixão. Concluída em 1976, a fachada da Paixão é o contrário da Natividade: seca, com linhas retas, segundo Gaudí, feita assim para fazer lembrar ossos humanos. A sensação que se quer passar é de drama mesmo, do flagelo da crucificação. Confira abaixo:

Última das fachadas, a fachada da Glória é ainda apenas um esboço no papel. Não começou sequer a ser construída. Não por acaso: é a maior e mais monumental das três. Por isso mesmo, ficará na frente da Catedral. Ela representará a Morte, o Juízo Final e Ascenção aos Céus dos eleitos. Abaixo uma representação de uma das maquetes que se encontra na cripta da Sagrada Família:

Por dentro, além de monumental, a Sagrada Família surpreende por ser um tanto, digamos, rusticamente biológica. As colunas lembram ossos humanos; as junções entre elas recordam os joelhos (cf. a foto abaixo). Há ainda vitrais belíssimos; alguns já colocados, outros à espera de seu dia. E há também verdadeiras “arquibancadas” pra receber a multidão de fiéis quando a igreja for terminada.

Mas ela será terminada um dia?

Diz-se que sim. De minha parte, acho que a própria história da construção contribui para que não se termine a construção. É como se o fato de ela se encontrar há tanto tempo inacabada acabe fazendo o “charme” da Sagrada Família.

De todo modo, se você vai a Barcelona, não deixe de visitá-la. Certamente, você nunca verá uma igreja igual na vida.

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