Ontem, quem se dignou a perder 1h30m de sua vida, deve ter assistido ao amistoso entre Brasil e Inglaterra, realizado em Londres. O jogo marcava o retorno de Felipão ao comando do escrete nacional, com Carlos Alberto Parreira na condição de “Zagallo” de Big Phil. O resultado? Todo mundo viu. 2×1 para a Inglaterra.
Nem preciso dizer que boa parte da galera ficou chateada. Mas, mais importante do que o resultado, é analisar as perspectivas daqui para a frente. E o que se prenuncia para 2014 não é nada além de um desastre de proporções épicas.
Desde o fracasso retumbante de 2006, a seleção vinha passando por um processo de renovação. Com todos os seus defeitos, Dunga havia promovido a aposentadoria de medalhões consagrados, mas que só mantinham a condição de titulares do time pelo histórico de conquistas. Ronaldo, Ronaldinho, Cafu, Roberto Carlos, enfim… A lista era bem grande, e a Dunga deve ser dado o devido crédito por ter a coragem de bater de frente com esses caras.
Veio Mano Menezes e, em princípio, seguiu a mesma linha. Aposentou Kaká, Júlio César, Lúcio, Adriano e mais alguns outros, privilegiando a nova geração que se formava, Neymar e Ganso à frente.
Como lhe faltassem os resultados, seja por incapacidade técnica sua ou dos jogadores que convocara, Mano alterou sua linha de trabalho. Procurou, primeiro, desaposentar Ronaldinho. Sem sucesso, deixou-o de lado e resolveu apostar em Kaká, que não faz outra coisa senão esquentar o banco no Real Madrid (e, na maioria das vezes, nem isso). Mesmo com as recaídas, a Mano deve ser dado o crédito de ter tentado ao menos alterar o estilo de jogo da seleção, abandonando o batidíssimo 4-4-2 que vem desde 1994 e tentando fazer com que o time jogasse coletivamente, com maior aproximação entre defesa, meio-de-campo e ataque, tal qual o Barcelona.
Quando Mano parecia ao menos ter encontrado uma linha para o trabalho, veio José Maria Marín e o demitiu. Para o seu lugar, um técnico consagrado, campeão do mundo (Felipã0), auxiliado por outro campeão do mundo (Parreira). A esperança era que ambos, técnicos experimentados, conseguissem imprimir um padrão de jogo à seleção, capaz de fazer frente às melhores seleções do momento.
Escrevi aqui neste espaço que o único técnico apto a fazer o Brasil jogar um futebol envolvente seria Guardiola. Mas o corporativismo dos técnicos nacionais acabou impedindo que o catalão viesse para o Brasil. O time do Bayern de Munique, que não é besta nem nada, tratou logo de contratá-lo.
Qual o problema de Felipão na seleção?
Bom, em primeiro lugar, Felipão na seleção significa, pelo menos até agora, o enterro definitivo de qualquer política de renovação no time. Ex-jogadores em atividades, como Júlio Cesar e Ronaldinho, voltaram a ser titulares, enquanto verdadeiras esperanças, como Lucas, ficam no banco. Não é preciso ser nenhum gênio para concluir que, daqui a alguns jogos, vai aparecer alguém sugerindo Kaká para “salvar” o time. E o resultado vai ser o mesmo.
Fora isso, como bem observou @jgveras, quem pode pensar em renovação quando olha pro banco e vê Felipão, Parreira, Murtosa e Paulo Paixão?
E aqui se manifesta o aspecto mais inquietante do problema. Se antes o problema do “ex-profissional” em atividade se limitava ao campo de jogo, hoje, parece ter contaminado o banco de reservas. Felipão e Murtosa vêm de uma campanha desastrosa no ano passado, rebaixando o Palmeiras para a 2ª divisão do Brasileiro. A última experiência de Parreira como técnico foi justamente no fiasco de 2006. Paulo Paixão pode até resolver, mas – convenhamos – preparador físico por preparador físico, Turíbio Leite é muito melhor. Todos, em maior ou menor grau, vivem de glórias passadas. São os títulos que um dia conquistaram, e não a sua atual capacidade técnica, que justificam suas presenças nos cargos. Esquece-se que lá se vão 10 anos desde que Felipão conduziu o Brasil ao penta. E quase 20 desde que o retrancado time de Parreira levou o caneco no Copa dos Estados Unidos.
Alguém poderá argumentar que é um diagnóstico muito precipitado, pois não se pode avaliar o trabalho por um só resultado. Mas, mais do que o resultado ruim, preocupa o pífio desempenho coletivo do grupo, um verdadeiro bando de jogadores em campo. A desorganização tática, associada à aposta em ex-jogadores em atividades, é prenúncio de que coisa boa não vem por aí.
A verdade – é triste dizer – é que a seleção está hoje na situação daquele sujeito ibérico que se joga de um prédio de 50 andares. Ao chegar no 25º andar, consola-se:
“Até aqui, tudo bem”.
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