Um novo inverno econômico?

Desde que a crise econômica mundial explodiu em 2008 com a quebra do Lehman Brothers, bancos centrais e governos mundo agora têm lutado para a tirar a economia da beira do precipício. Baixa das taxas de juros, injeções maciças de capital e acordos comerciais de toda ordem têm sido utilizados como armas para evitar uma nova “Grande Depressão”.

Até agora, no entanto, mesmo com o uso de medidas que deixariam qualquer economista mais ortodoxo de cabelo em pé, o resultado tem sido pífio. A economia americana parou de se decompor, mas está longe de ostentar o vigor de antigamente. O Brasil meio que parou no tempo e, hoje, crescemos a taxas ainda menores do que as do inacreditável período Fernando Henrique Cardoso – com razão tido pela maioria da população como um dos piores da história. Nem mesmo a China, outrora motor do crescimento mundial, consegue apresentar aquele crescimento econômico de dois dígitos que fazia inveja às demais economias emergentes. A pergunta que boa parte das pessoas – e até mesmo dos economistas – deve estar se fazendo é: o que se passa com o mundo?

Sem querer parecer catastrofista, é possível que 2008 tenha marcado a entrada da economia mundial em um novo inverno econômico.

Que a economia em geral obedece a ciclos de maior e de menor prosperidade, todo mundo intuitivamente sabe; não há qualquer novidade nisso. Mas, observadas no espaço de décadas, as fases da economia mundial podem ser mais bem definidas, sem darmos muita importância às variações anuais.

No começo do século XX, por exemplo, o mundo vivia uma época de bonança. Com colônias espalhadas pelo mundo, as metrópoles européias ostentavam níveis de riqueza jamais experimentados. Do outro lado do mundo, os Estados Unidos cresciam a taxas assustadoras, enquanto cuidavam de ocupar seu imenso território, conquistado à base de muito dinheiro e guerras. Era a Belle Époque.

Subitamente, estourou a I Guerra Mundial. Todo aquele mundo marcado pela opulência e pela sensação onipresente de prosperidade ruiu. Seu fim estava ali, à vista de muitos, mas ninguém quis enxergar. O globo entraria numa fase de decadência que atingiria seu vale mais profundo com o crash da Bolsa de Nova Iorque, em 1929. E assim continuaria mais ou menos até o fim da II Guerra Mundial.

Finda a guerra na Europa, era tempo de reconstruir o mundo. Com uma quantidade colossal de capital acumulado durante a guerra, os Estados Unidos financiaram a reconstrução do lado ocidental da Europa. No lado oriental, os russos cuidaram de investir nas áreas sob seu domínio para poder fazer frente ao avanço das economias liberais. Arrastados por eles, o resto do mundo foi junto, Brasil inclusive.

Com muito dinheiro, uma população maciçamente jovem e apta para o trabalho – milhões haviam morrido durante os conflitos – e um crescimento exponencial dos nascimentos (o baby boom), de 1950 em diante o mundo entrou em uma rota de crescimento sem paralelo na história mundial. Foi nesse período que floresceram os modelos de social-democracia. Parecia um tempo de prosperidade inesgotável. Não por outra razão, Hobbsbawn chama esse período de Era de Ouro.

Mas tudo acabou com a Guerra do Yom Kippur e a crise do petróleo que se seguiu. De 1973 até mais ou menos 1992, a economia mundial voltou a andar pra trás. Nessa marcha ré, levou consigo o mundo comunista sob influência da União Soviética. O sistema mundial seria agora unipolar, com os americanos ditando as cartas no planeta.

De 1993 em diante, o que se viu foi uma nova onda de prosperidade. Com a revolução ponto.com e a sofisticação dos produtos financeiros, os Estados Unidos voltaram a crescer como se fossem um tigre asiático. Do outro lado do mundo, a economia chinesa já tinha crescido o suficiente para que sua massa crítica fizesse diferença na economia mundial. Assim como nos outros casos, o resto da economia mundial foi arrastado junto; Brasil inclusive. E, assim como nos períodos anteriores, a era de prosperidade parecia sem fim. Não era.

O que se está vivenciando hoje é a ressaca de mais ou menos 15 anos de uma era de opulência que tinha dia e hora para terminar. Todo mundo sabia que os bancos de investimento americanos estavam criando riqueza do nada, a partir da reciclagem de créditos podres. Todo mundo sabia que o crescimento chinês de dois dígitos não iria durar para sempre, porque havia um limite material para ele. E todo mundo sabia que o crescimento europeu não iria muito longe, porque baseado exclusivamente no aumento da dívida pública.

Mas, assim como nos outros casos, ninguém quis enxergar.

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