Quem vai a Roma, normalmente pensa na mistura inigualável de heranças históricas seculares – como o Coliseu e o Foro Romano – e religiosas – Vaticano e todo o seu imenso acervo arquitetônico. Fora isso, há ainda uma gama de atrações urbanísticas, que vai desde a Fontana di Trevi, passando pela Scalinata di Spagna até chegar na Villa Borghese.
O circuito turístico romano é, de fato, muito grande, e quem quiser conhecê-lo a sério vai perder uns bons quatro dias só andando por aquelas vielas que exalam história de seus tijolos. No entanto, fora do circuito turístico tradicional, há aquela que, na concepção hierárquica da Igreja Católica, é a mais importante Basílica do mundo. E não, não é a Basílica de São Pedro. É a Basílica de São João de Latrão, ou, em bom toscano, San Giovanni in Laterano.

San Giovanni in Laterano
Todo mundo sabe que o Papa é o chefe da Igreja Católica. Alguns até lembram que esse título veio da tradição herdada dos princípios do cristianismo segundo a qual, entre todos os bispos do mundo, o de Roma exercia a primazia sobre os demais. Daí porque, antes mesmo de escolher o Papa ou o Vigário de Cristo, o conclave dedica-se a resolver um problema muito mais banal: quem será o Bispo de Roma.
Pois bem. Assim como não há general sem exército, não há bispo sem igreja para comandar. Portanto, tal qual os demais bispos, também o Bispo de Roma tinha de ter uma igreja para chamar de sua.
O tempo era de o Constantino. Depois de se converter ao cristianismo, o outrora imperador pagão resolveu construir templos para aquela que viria a ser a religião oficial do Império Romano. Conforme já foi explicado aqui, à falta de modelos arquitetônicos para construir igrejas, Constantino recorreu à Basílica de Maxêncio como exemplo para os futuros templos cristãos.
De uma só tacada, Constantino mandou construir três basílicas: São João de Latrão, São Pedro e São Paulo. Das três, duas ficavam fora das fronteiras da cidade romana: São Pedro ficava no Vaticano e São Paulo fora dos muros da cidade (não à toa, ficou conhecida como Basílica de São Paulo extramuros). Por ser a única que ficava geograficamente dentro da cidade, a Basílica de São João de Latrão ficou com a honra de ser a casa do Bispo de Roma. Com isso, ganhou o epíteto de Omnium Urbis et Orbis Ecclesiarum Mater et Caput (Mãe e Cabeça de todas as Igrejas de Roma e do Mundo).
Construída nos idos do século IV, a Basílica de São João de Latrão passou por diversas reformas. A mais importante delas foi em 1650, quando o papa Inocêncio X mandou transformar o projeto original em uma magnífica igreja barroca. A obra ficou ao encargo de um arquiteto chamado Francesco Borromini.
Borromini permaneceu tanto quanto possível fiel ao projeto original de Constantino. Manteve a nave central imensa, ladeada por arcos igualmente gigantes, nos quais se encontram esculturas enormes dos apóstolos. No teto, adicionou janelas, para que a luz desse leveza ao ambiente majestoso dentro da basílica. Alguns anos depois, o papa Clemente XIV mandou acrescentar a fachada monumental, à la São Pedro, para adornar o edifício.
Aliás, a evocação à Basílica de São Pedro parece uma constante para o visitante. Fora a imensidão espacial da igreja, um gigantesto baldaquino abriga o altar central, à semelhança do que ocorre na Basílica Vaticana. Outra semelhança é a existência do trono papal, a indicar a importância da Basílica para a Igreja de Roma. Basta dizer que, até o século XIX, todos os papas foram entronizados nela.

Trono papal
Quem for a Roma por mais de cinco dias, ou estiver de segunda visita à cidade, não deixe de visitar a Basílica de São João de Latrão. Definitivamente, vale muito a pena.