Crase pra que te quero

Confesso que não entendo o porquê de tanta confusão a respeito do uso da crase. Na maior parte dos casos, os erros podem ser evitados a partir de algumas noções básicas sobre ela.

Primeiramente, crase não é acento; crase é fenômeno. Um fênomeno língüístico em que a preposição “a” funde-se ao artigo definido “a”. Esse fenômeno é representado na escrita por um acento “`”, a que chamamos de acento grave, que é igual ao agudo, só que virado para o outro lado.

Pois bem. Quando usar a crase?

Se a crase resulta da fusão do “a”-preposição com o “a”-artigo, nunca se deve usar crase antes de substantivos masculinos. Ou você já viu algum substantivo masculino precedido do artigo definido “a”? (Se bem que, em tempos de Big Brother e transgêneros, isso já não é tão verdade assim, mas vá lá)

Alguém deve estar perguntando: “Ah, e quando eu vou a um restaurante português e vejo um “Bacalhau à Gomes de Sá”? Olha a crase aí antes de nome masculino!”

Sim, meu caro. O problema é que em “Bacalhau à Gomes de Sá” está implícita a palavra “moda”. O sentido é “Bacalhau à [moda de] Gomes de Sá”. Por isso a crase. Mas, em regra, salvo nesses casos, NUNCA se deve usar crase antes de substantivos masculinos.

E se a regra envolve artigo definido “a”, logo NUNCA – e aí NUNCA mesmo – se deve usar crase antes de verbo.

Do mesmo modo, se a crase depende da preposição “a” para existir, não se deve usá-la após verbos transitivos diretos.

Tá na dúvida se deve usar a crase? Uma boa dica é simplesmente trocar o substantivo que está na frente pra saber se é necessário ou não utilizar o acento grave.

Vejamos: “Vou à Farmácia”. A crase está bem ou mal empregada?

Substituindo “Farmácia” por “Supermercado”, tem-se: “Vou ao Supermercado”.

Viu? A preposição “a” juntou-se ao artigo definido “o”. Logo, no caso de Farmácia, há a preposição e o artigo definido “a”. O emprego do acento grave, portanto, está correto.

Sempre que, substituindo-se o substantivo feminino por um masculino, resultar em “ao”, não tenha medo: meta o acento.

Fuja como cramulhãozinho da cruz da utilização da crase antes de substantivos masculinos e verbos. Não deixe que o acento grave caia sobre sua cabeça.

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3 respostas para Crase pra que te quero

  1. ps: cara à tapa tem crase! #ficadica

    • arthurmaximus disse:

      Tem mesmo, Carol. Só que não. 😛 Na verdade, não há crase em “cara a tapa” porque o substantivo “tapa” aí não está definido. A expressão refere-se ao bofetão (tapa) de forma genérica. Logo, não há como se manifestar o fenômeno da junção da preposição “a” com o artigo definido “a”, do qual resulta a crase e, por conseguinte, a colocação do acento grave no a. Um abraço.

  2. Pingback: “Há, a, à”, ou A morte do verbo haver | Dando a cara a tapa

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