É impressionante.
Nas rádios, nas televisões, nos programas de auditório, seja na moda, na culinária ou nos programas de análise política, lá estão eles. Como chuchu em pé de serra, Youtubers brotam por onde quer que se vá e, hoje, é possível encontrar alguns deles até nos parlamentos espalhados pelo Brasil.
Não que isso seja algo exatamente novo. Não, não, absolutamente. Aqui mesmo neste espaço, já houve há algum tempo uma análise sobre o motor desse fenômeno: o “colunismo social” produzido através do Facebook. Potencializado pelo poderoso catalisador da imagem, esse fenômeno alcança agora as raias do paroxismo com a proliferação exponencial de uma vastidão imensa de subcelebridades, subitamente catapultadas ao estrelato.
Qual o problema dessa praga?
A primeira questão, como parece óbvio a qualquer pessoa, é que ninguém sabe nem quando, nem como, nem por que essas figuras surgem. De repente, o sujeito abre uma conta no Google, cria um canal do YouTube e passa a divulgar a primeira coisa que lhe vem à telha. Subitamente, alguém completamente desconhecido do público em geral passa a tornar-se um “influencer”, uma espécie de entidade mítica com poderes para ditar os rumos de uma legião de fãs. Ignora-se o passado da figura e até mesmo as motivações que lhe levaram a expor a imagem ao distinto público.
A segunda questão passa pelo tipo de material produzido por essas novas subcelebridades. Quase nunca há algo que se salve no meio de tanto cascalho produzido em série. No mais das vezes, tudo se resume a uma espécie de auto-reality, no qual a figura descreve o seu dia a dia, às vezes com algum toque de humor duvidoso.
“E daí?”, pode estar se perguntando você
Daí que, quando isso ficava restrito ao tripé “roupa-sapato-último grito da moda em Paris”, vá lá; opiniões sobre as futilidades do mundo da moda sempre foram uma constante nas nossas vidas e nunca ninguém morreu por causa disso. Mas quando se atravessa a fronteira do entretenimento inútil para literalmente invadir-se a arena pública e opinar sobre fatos políticos do país, a coisa muda de figura.
Há, por exemplo, gente recém-formada em Direito tratada como “autoridade” no assunto em programas matutinos nas rádios. Há, também, “analistas” de ciência política que jamais abriram um livro de Hobbes ou Locke na vida. E há, por fim, imbecis de marca maior que se projetaram na última onda reacionária do país para cavar uma boquinha no Parlamento. Logo o Parlamento, expressão máxima do Estado moderno, o mesmo Estado cuja redução é o mantra de onze em cada dez “influenciadores” desse tipo.
O que está em jogo, portanto, é um processo de massificação absurda da ignorância do nosso país. Pode-se dizer que esse fenômeno vem de longe. Por muito tempo, artistas da televisão sempre foram reverenciados como se fossem algum poço de sabedoria pelo simples fato de colocarem o rosto na TV. E, afinal, nunca há de se esquecer que Sílvio Santos foi candidato a Presidente da República e só não se elegeu graças a um arrumadinho de última hora enjambrado no TSE. Mesmo assim, dos artistas da televisão pode-se pelo menos dizer que antes construíram carreiras autônomas no seu próprio métier. Agora, não. Basta um computador com conexão à internet para que o sujeito alcance a casa de milhões de pessoas.
Por se tratar de algo novo, pode-se sempre dar o desconto de que é assim agora, “mas já, já essa onda vai passar” e as coisas vão voltar ao normal. Talvez. Mas, enquanto a educação no Brasil continuar a tragédia que é, dificilmente teremos uma reversão do quadro. Ficaremos cada vez mais reféns de “analistas” desse tipo. E não se espante se, em 2022, você estiver considerando seriamente a hipótese de votar em Luciano Huck para presidente.
Afinal, “ele tem uma longa história no Caldeirão…”
Pingback: O caso Monark, ou Liberdade de expressão x Nazismo | Dando a cara a tapa