Há na praça uma boa quantidade de livros do gênero: 1000 lugares para conhecer antes de morrer, Cidades que você tem que visitar, Os lugares mais interessantes da Terra, e uma quantidade virtualmente infinita de títulos semelhantes. De uma maneira ou de outra, esses livros procuram estabelecer critérios para guiar o turista de primeira viagem, sugerindo cidades para serem visitas, quer por questões históricas, quer por questões arquitetônicas, quer por questões culturais.
Pois bem. Se há uma cidade que, sozinha, reúne todos esses atributos, essa cidade é Veneza. Veneza é um dos 1000 lugares que você tem de conhecer antes de morrer, você tem que visitá-la e é, sem dúvida, um dos lugares mais interessantes da Terra.
La Serenissima, como a chamam os italianos, é uma cidade única. Quando se vai a Veneza, é como se você entrase no túnel do tempo e voltasse 500 anos na história. Sim, porque a cidade é rigorosamente a mesma há mais de meio milênio. Isso, é claro, não somente pelo instinto de preservação italiano, mas porque a geografia da cidade impõe o respeito à sua estrutura.
Veneza situa-se numa laguna no Mar Adriático. Protegida por um istmo, a cidade ergue-se sobre umas 100 ilhotas de argila localizadas dentro da lagoa marítima. Com o tempo, foram-se construindo edificações sobre as ilhas, permitindo a integração entre todas elas. São mais de 400 pontes que permitem você caminhar de um lado a outro da cidade, mesmo estando literalmente ilhado em toda a parte.
A cidade é cortada ao meio pelo Canal Grande, por onde passa a maior quantidade de barcos na serenissima. Além dele, mais uns 200 canais se espalham pela cidade, fazendo com que você veja água onde quer que vá.
Justamente por conta da geografia, não há ruas em Veneza. Apesar de você poder andar por toda a ilha a pé, não há espaço para automóveis lá. O ruído dos carros e a fumaça dos motores é substituído pelo falar alto dos turistas e – às vezes – pelo cigarro dos nativos. Ainda assim, muito melhor do que qualquer grande cidade do mundo.
Vende-se Veneza como a cidade mais romântica do mundo. É possível. A aura histórica, associada ao silêncio e ao “isolamento” da civilização devem ajudar os casais em lua de mel. Infelizmente, no entanto, nem tudo é romance em Veneza.
Primeiramente, em alguns lugares a cidade fede. Isso mesmo: FEDE. Pouca gente pára pra pensar, mas pra onde vai o esgoto na serenissima? Sim, vai para os canais, os mesmos pelos quais deslizam majestosas as extorsivas gôndolas. Fora isso, a iluminação é deficiente. Mesmo sem violência registrada, andar à noite em Veneza é uma aventura. Não só pelo aspecto labiríntico da cidade, mas porque a iluminação é extremamente precária. Quem tem pavor de becos escuros não deve se aventurar a sair à noite, sem rumo, pela cidade.
Exatamente por isso, uma das melhores dicas para quem vai a Veneza é: não se hospede na ilha. Prefira ficar em Veneza Mestre, a parte continental – e nova – da cidade. Lá os hotéis são mais baratos e você pode sair traqüilamente à noite, sem o receio de saber se vai conseguir encontrar o caminho de volta para o hotel.
Além dos aspectos normais, você correr o risco de ficar realmente ilhado na cidade. Vez por outra, um fenômeno conhecido como acqua alta faz a maré subir alguns metros, o suficiente para deixar a cidade inteira debaixo d´água. E leva alguns dias até o nível da água voltar ao normal. Passear pela cidade nessas circunstâncias, portanto, nem pensar.
Falando em passear, o melhor modo de conhecer a cidade é a pé. Há os ônibus – conhecidos como vaporetti – que te levam de uma ponta a outra da cidade, pela módica quantia de EU$ 6,50 o trecho. Há ainda a opção dos táxis, lanchas que fazem o mesmo serviço dos vaporetti. Mas esse é só pra quem estiver disposto a pagar uma bandeirada de EU$ 15 mais EU$ 1 euro a cada minuto dentro dela.
E não, as gôndolas não são meio de transporte em Veneza. Já foram um dia. Hoje, servem apenas para servir aos turistas, por preços ridiculamente caros. Pra quem tem um sonho e estiver disposto, prepare o bolso: uma voltinha de meia hora não sai por mens de EU$ 80.
Mesmo com todos os problemas, Veneza encanta. Tendo sido na Alta Idade Média uma das nações mais prósperas e poderosas do mundo, Veneza ainda guarda a lembrança da glória de outrora, especialmente em sua arquitetura. É como uma senhora da alta sociedade que, de repente, vê-se pobre. Por menos dinheiro que ela tenha, há uma certa distinção no trajar e no olhar que a diferenciam da malta ordinária.
Sem mais, vamos a um breve roteiro de três dias pela Serenissima:
Primeiro dia: dia de fazer o roteiro obrigatório. Saia do hotel e vá até Rialto, a famosa ponte sobre o Canal Grande na qual se encontram dezenas de lojinhas de quinquilharias, jóias e máscaras de carnaval. Pra quem quiser, lá também é o local para comprar peças produzidas com os famosos vidros de Murano, uma das ilhas próximas na qual se desenvolveu a técnica de fabrico do vidro artesanal. De Rialto, vá direto e reto para Praça de San Marco. Só faça um favor à cidade: não alimente os pombos. Eles infestam a praça como formigas num pote de açúcar. Almoce num dos restaurantes que estão por ali e siga à tarde para uma visita à Basílica de San Marco. Para quem acredita, lá estão os restos mortais de Marcos, um dos escritores dos quatro evangelhos de Jesus Cristo. Se ainda houver tempo, siga para o Palácio do Dogde, que fica ao lado da Basílica. Era lá a sede do poder dos líderes de Veneza. Uma jóia arquitetônica do chamado gótico-veneziano. Após a visita, procure um bom restaurante para jantar na Piazza de San Marco e depois chegar no hotel para descansar, porque o dia seguinte é dia de bater perna.
Segundo dia: dia de rodar igrejas. São muitas e várias, cada uma mas bonita do que a outra. Há a imensa Basílica de San Giovanni e San Paolo, a famosíssima Santa Maria della Salute, que forma junto com o Palácio Ducal a magnífica vista da entrada de Veneza, a belíssima Igreja dei Gesuiti, enfim…são várias opções à disposição, e é difícil escolher um roteiro para vê-las todas. O ideal é selecionar algumas no mesmo rumo da cidade e ir entrando, de igreja em igreja, pois cada uma tem uma história para contar. Nessas idas e vindas, aproveite que o dia está claro para se perder pelos becos venezianos. Acredite: não será difícil. Almoce e jante pelo caminho e, umas duas horas antes de anoitecer, tome o rumo do hotel, para não voltar no escuro. Do contrário, ficará tudo mais difícil.
Terceiro dia: dia de museus. Há muitos, a maioria próxima à Praça de São Marcos. Você por ir à Torre do Relógio, à Galleria della Accademia, ao Museu Arqueológico Nacional, ao Peggy Guggenheim enfim…há uma plêiade de opções, para todos os gostos: pintura, relíquias, arqueologia, etc. Organize sua caminhada e delicie-se com a história da cidade.
Bom, Veneza é isso. Uma formosa senhora cheia de histórias para contar. Bela e contraditória, é verdade. Mesmo assim, você quer um conselho? Visite Veneza antes que ela se acabe. Você não vai se arrepender.
sensacional!!
Obrigado, Jana. Um abraço.
Adorei
Obrigado, Cristina. Um abraço.
Meu Deus, nunca li tanta besteira num post só. Vou falar só até a parte que li pq desisti do resto. Primeiro lugar, Veneza não fede absolutamente nada! Tanto é que outros blogs colocam esse argumento como mito e eu posso falar pq acabei de voltar de lá. Outro absurdo é recomendar que vc não se hóspede na ilha. Se vc puder e tiver dinheiro pra isso se hóspede na ilha sim! Veneza em qualquer época do ano tem um fluxo grande de turistas, entao SEMPRE há movimento na rua de turistas além de MUITAS lojas abertas! Acabo de me hospedar em San Marco, onde fica a praça principal de Veneza, e se vcs puderem optem por San Marco ou Rialto! Não tem o pq sentir medo! Muitas pessoas e muitas lojas! Além do que vc não precisa ficar preocupado em pegar vaporeto (ônibus aquático) ou táxi por lá para poder voltar pra casa! Além do que são passagens caras, o vaporeto custa 7,50 euros! E o táxi acima de 60 euros!
Uma pena que você não tenha lido o post até o final, Bárbara. Quem sabe você teria compreendido que o post foi feito justamente para exaltar Veneza, não para depreciá-la. Que os canais de Veneza fedem é um fato objetivo, incontestável. Se você não sentiu o cheiro, de duas, uma: ou se limitou a passear pelo Canal Grande sem nunca ter se aventurado pelos pequenos e estreitos canais interiores da cidade, ou tem o olfato prejudicado. Recife, por exemplo, é belíssima. Mas nem por isso eu sou louco de dizer que seus canais não fedem. Isso, por si só, não prejudica a recomendação de que alguém deve visitar a cidade.
Quanto à iluminação, trata-se de outro fato objetivo. Veneza é terrivelmente mal iluminada, o que torna as saídas noturnas uma aventura, não por conta da violência, mas por conta do risco de perder-se (algo que acontece mesmo à luz do dia, registre-se).
O máximo que eu posso fazer, enfim, é recomendar um pouco mais de atenção e um bom livro de interpretação de texto. Quem sabe assim você consiga entender melhor o que as outras pessoas escrevem. #FicaaDica