Brasil, o país do futebol

E aí chegamos em 2014.

Ano de eleições, de refletir sobre os últimos quatro anos e pensar se vale a pena mudar ou deixar as coisas como estão. Mas, para a imensa maioria da população, a pauta que realmente interessa é outra. 2014 é ano de Copa do Mundo, de celebrar a festa do futebol e o retorno do maior evento do planeta ao país que mais idolatra o esporte bretão.

A despeito de uma sensação geral de torpor com a proximidade da Copa, há no ar um incômodo sentimento de que as coisas vão sair pior do que se imaginava. E não é só da ameaça de um novo levante das ruas que estou falando.

Que a maior parte do dinheiro gasto no evento da Fifa seria público, ninguém em sã consciência duvidava. Que a infraestrutura do país não estaria à altura do evento, tampouco alguém punha em questão. Que o legado do evento seria conversa mole pra boi dormir, era algo não só possível como até certo ponto esperado. O que ninguém imaginava é que o futebol brasileiro chegasse às vésperas da Copa do Mundo tão depauperado.

Desde o fim do Campeonato Brasileiro do ano passado até agora, o que se tem assistido é uma caminhada firme e segura em direção ao precipício. Apenas para rememorar, aconteceram em sequência os seguintes fatos:

1 – Na última rodada do Brasileirão, um jogo decisivo passou mais de uma hora interrompido por conta de uma briga entre torcidas organizadas. Quatro torcedores foram levados à UTI (felizmente, todos escaparam) e quase três dezenas foram presos. O resultado do jogo, contudo, foi mantido;

2 – Depois de uma trapalhada até hoje não suficientemente explicada, a Portuguesa escalou um jogador suspenso pelo STJD. Com isso, abriu a brecha para que o Fluminense, o time da eterna virada de mesa, conseguisse lhe tirar 4 pontos e fazer com que a Lusa caísse para a Segundona no seu lugar;

3 – Como posteriormente se verificou, todos os procedimentos do STJD violavam de modo frontal o que dispõe o Estatuto do Torcedor, pois suas decisões não eram publicadas no Diário da Justiça Federal. Sabe-se lá por quê, o STJD resolveu entender que o Código Brasileiro de Justiça Desportiva – uma norma administrativa de uma entidade privada – se sobrepunha ao Estatuto do Torcedor – uma lei federal;

4 – Desde então, uma guerra de liminares põe em xeque a realização do Campeonato Brasileiro. Ora a Justiça anula a decisão do STJD e manda rebaixar o Fluminense no lugar da Portuguesa, ora a Justiça decide manter o rebaixamento da Lusa e a virada de mesa. Enquanto isso, não se sabe se o Brasileirão de 2014: a) manterá o padrão dos últimos anos, com 20 times, em turno e returno; b) anulará o rebaixamento de todo mundo, fazendo com que se faça um campeonato com 24 times; c) vai efetivamente ocorrer, ocasionando uma versão 2014 da Copa João Havelange (2000);

5 – Iniciado o Campeonato Paulista, a torcida organizada do Corinthians resolveu voltar às raízes e ressuscitar o lema “Se não joga por amor, joga por terror”. Diante do baixo rendimento do time em campo, invadiu o CT, sitiou os jogadores e agrediu funcionários do clube. Tudo isso sob a batuta de um presidente que indaga solenemente “Quem nunca deu um murro em ninguém?”;

6 – Graças à invasão do CT corintiano, a greve de jogadores organizada pelo Bom Senso FC – adiada para o começo do Brasileirão 2014 – arrisca-se a ser deflagrada de imediato, paralisando o Paulistinha.

Há quem possa pensar que esse é um problema restrito ao panorama nacional. Ou, por outra ângulo, a seleção estaria a salvo da desgraça generalizada. No limite, danem-se os Estaduais e o Brasileirão. Enquanto a seleção jogar bem e ganhar, estará tudo bem.

É um pensamento estreito. Além do óbvio impacto da débâcle futebolística na seleção brasileira, é de se pensar com que cara receberemos o maior evento esportivo da Fifa com os campeonatos estaduais e nacionais paralisados por conta de uma greve de jogadores. E não uma greve qualquer, mas uma motivada pela falta de estrutura e de segurança para o desenvolvimento de suas atividades.

Fora isso, não custa lembrar que, enquanto o futebol brasileiro passava por esse processo de implosão, a maior estrela do escrete canarinho foi personagem principal de uma história mal contada sobre sua venda para o Barcelona. Não se sabe se houve algum tipo de crime na transferência de Neymar, mas é certo que o atacante jogou a final do Mundial de Clubes já negociado ao adversário e que, por algum motivo, o escândalo foi forte o bastante para derrubar o presidente do Barça, Sandro Rossell.

A verdade é que, aproximando-nos da Copa do Mundo, o Brasil deixou de ser somente o “País do Futebol”. Arrisca-se a tornar-se também o “Túmulo da Bola”.

Grandes emoções nos aguardam nos próximos meses.

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