Chegando ao final desta semana comemorativa do Dando a cara a tapa, resta saber o que o Blog espera para o mundo nesta desafiador ano de 2022.
Desde o 2020, o grande desafio do planeta tem sido a pandemia de Covid. Graças às vacinas desenvolvidas em tempo recorde contra o coronavírus, hoje o panorama sanitário é bem mais auspicioso do que foi no ano passado. Boa parte do mundo ocidental já se encontra vacinada e é isso que permite que a atual onda pandêmica tenha batido todos os recordes de casos das ondas anteriores, mas não tenha visto igual subida de internações e mortes.
Só isso, contudo, não resolve o problema. O próprio surgimento da ômicron é prova disso. Descoberta na África do Sul (só 24% da população vacinada), a variante é responsável por esse verdadeiro tsunami de casos no último mês e meio. Enquanto não houve vacinação maciça em escala global – o que implica fazer com que os países ricos mexam os seus traseiros gordos para distribuir imunizantes aos países pobres – o mundo inteiro continuará sob o risco do surgimento de uma nova variante que tenha escape vacinal. E aí, como no antigo Jogo da Vida, será como se fôssemos condenados a voltar 10 casas no tabuleiro da pandemia.
Mesmo diante desse quadro, é difícil imaginar o planeta voltando a março de 2020, quando o colapso hospitalar e até mesmo funerário obrigou dezenas de países um lockdown severo. As vacinas de RNA – provavelmente o maior avanço científico da humanidade no último quartel de século – permitirão uma rápida resposta contra novas variantes que consigam escapar à proteção conferida pelos imunizantes. A situação não está fácil, que fique claro, mas seria uma grande surpresa se voltássemos ao cenário catastrófico do começo da pandemia.
No lado da política internacional, a despeito de estarmos em pleno inverno do hemisfério norte, o ano começou bem quente. Rússia e OTAN se estranham há tempos sobre a situação da Ucrânia. Com separatistas ao leste do país querendo se juntar à Grande Mãe Rússia, Vladimir Putin enxergou uma grande oportunidade de fazer frente ao que considera uma ofensa à soberania russa, dada a possibilidade – remota – de que a Ucrânia venha a integrar a OTAN.
O jogo ucraniano – como, de resto, são todos os jogos de guerra – não comporta mocinhos. Quando houve a dissolução da União Soviética, ficou mais ou menos acertado nas entrelinhas que o ingresso da Alemanha Oriental – reintegrada à sua co-irmã Ocidental – seria o limite para expansão da área de influência da poderosa Organização do Tratado do Atlântico Norte. Todavia, esse limite já foi ultrapassado faz tempo por americanos e aliados, quando incorporaram à OTAN as ex-repúblicas bálticas (Estônia, Letônia e Lituânia).
Da outra banda, Putin tampouco pode posar de donzela ofendida nessa briga. Muito pelo contrário. O ditador russo está mais para o papel de velha prostituta pregando a castidade dentro do bordel. Desde 2014, quando uma revolta popular destronou um aliado russo do governo ucraniano, Putin age para desestabilizar países que querem se insinuar para o Ocidente. Antes do imbróglio atual, não nos esqueçamos, Putin invadiu a Geórgia, anexou a Criméia e fomentou os grupos separatistas que hoje infernizam o leste da Ucrânia.
O entrevero resultará em guerra de fato? Eis a questão.
Em condições normais, seria possível cravar que não. Nem do ponto vista econômico, nem do ponto de vista geopolítico, nem mesmo do ponto de vista sanitário (ainda estamos no meio de uma pandemia), uma guerra aberta faria sentido para qualquer das partes. O mais provável seria que se chegasse a algum tipo de acordo que evitasse o embate em solo ucraniano. Mas, como não vivemos exatamente em tempos normais, convém, sim, colocar as barbas de molho; tudo pode acontecer.
Na outra ponta – e nisso talvez a crise ucraniana desempenhe também papel relevante -, em novembro teremos as famosas eleições de midterm nos Estados Unidos. Como de hábito, no segundo ano do mandato presidencial, renovam-se os mandatos da Câmara dos Representantes e do Senado Norte-Americano. Em regra, os ocupantes da Casa Branca costumam colher derrotas nessas eleições, mas essas podem ser especialmente dolorosas para os Democratas.
Com margem de controle pequena na Câmara e ínfima no Senado (dividido ao meio, com a vice-presidente atuando para desempatar as votações), o partido de Joe Biden está seriamente arriscado a perder as duas casas. Considerando que os republicanos ainda atuam sob o domínio de Donald Trump, uma eventual derrota legislativa poderá fazer com o que o restante do mandato de Biden se esvaia em disputas intermináveis nas duas casas do Congresso, sem que praticamente mais nada da sua agenda possa andar de fato.
Assim como no Brasil, portanto, 2022 promete ser um ano de grandes tensões e emoções no âmbito da política internacional. Resta apenas rezar para que saiamos todos vivos dessa.
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