Verdade seja dita: a tecnologia contribuiu com muitas coisas, mas tem sido um desastre quando o tema é Língua Portuguesa. Seja porque a juventude de hoje só se interesse por vídeos curtos do TikTok, seja porque as novas formas de interação social praticamente revogaram a escrita formal como meio de comunicação, o fato é que a nossa derradeira flor do Lácio, inculta e bela, anda cada vez mais depauperada na linguagem cotidiana.
Para além do sempre incorreto uso do acento grave (nos casos de crase) e da morte (sem aviso) do verbo haver, agora estamos testemunhando um novo fenômeno a se alastrar pelas redes insociáveis: o absoluto desconhecimento acerca da utilização correta do “tampouco”. Aproveitando a vibe atual do nosso querido Exame Nacional do Ensino Médio (Enem – com “M”, viu, Sérgio Moro?), vamos retomar as nossas Dicas de Português para ver se é possível contribuir para minimizar esse mal que se espalha.
“Tampouco”, conforme ensinam nossos alfarrábios da língua de Camões, é um advérbio utilizado para expressar ou reforçar uma negação. Seu uso demanda, em regra, uma negativa anterior, que será reforçada ou acrescentada por uma negativa seguinte. Os exemplos são vários: “Não gosto do Flamengo, tampouco do Corinthians”; “Não coma doce de manhã, tampouco à tarde”; “Ela não fez a tarefa da escola, tampouco a de casa”. O sentido, como parece óbvio a qualquer néscio, é o mesmo presente nas expressões “nem mesmo”, “muito menos” e “sequer”, para ficar apenas nos sinônimos mais evidentes.
“Tão pouco”, ao revés, é uma expressão formada por duas palavras: o advérbio “tão” e o advérbio de intensidade “pouco”. Embora sonoramente pareça semelhante a “tampouco”, “tão pouco” quer significar, única e exclusivamente, a baixa quantidade de uma coisa qualquer. Por exemplo: “É tão pouco o dinheiro que tenho na minha conta”; “Nós estudamos tão pouco o português”; “Passei tão pouco tempo junto dela ultimamente”.
Infelizmente, contudo, temos assistido cada vez mais ao uso indiscriminado do “tão pouco” em casos nos quais deveria ser empregado “tampouco”. É certo que a velocidade da comunicação hoje em dia, aliada à possibilidade instantânea de passá-la adiante através de redes sociais, contribui para que erros dessa natureza acabem se propagando muito mais do que seria aceitável. Por isso mesmo, convém – em benefício próprio e da sanidade da nossa língua-mãe – procurar estudar um pouco mais e revisar as mensagens antes de enviá-las.
Afinal – convenhamos, né? -, isso custa tão pouco…