Dando a cara tapa – Semana especial das eleições: “O futuro”

Lula ganhou.

Nem bem saíram os resultados das urnas, o babalorixá petista já passou a se comportar como se posse já tivesse tomado. Tal é a desenvoltura do ex-líder sindical que até representar o Brasil em conferência internacional ele vai, ainda que o Brasil tenha oficialmente outro presidente no cargo. Trancado em seus rancores e ruminando a derrota, Bolsonaro foi reduzido à condição de ex-presidente em atividade.

E agora?

“Agora é que são elas”, como diria o matuto.

Antes de mais nada, deve-se destacar que Lula alcançou uma façanha inédita em nossa quase sesquicentenária república. Nunca, em momento algum da nossa história, uma única pessoa foi eleita três vezes para o cargo de presidente. Rodrigues Alves inaugurou a “reeleição” quando conseguiu se eleger novamente em 1918, após ter servido no Palácio do Catete de 1902 a 1906, mas morreu antes de assumir o segundo mandato. É verdade que Getúlio Vargas foi quem ocupou o cargo por mais tempo, mas somente por duas vezes foi eleito: em 1934 (depois de ter dado o golpe em 1930) e em 1950 (mandato do qual saiu morto, por próprio punho). Daí pra frente, embora Fernando Henrique ainda tenha sonhado brevemente com o retorno em 2006, ninguém conseguira tal feito.

Também é fato que o próprio Lula chegou a flertar com uma emenda golpista do tipo “Evo Morales” durante o seu segundo mandato. No auge da sua popularidade, algum dos nefelibatas stalinistas do Partido dos Trabalhadores sussurrou em seu ouvido o canto da serpente: “Por que não aprovar uma emenda para acabar com o limite de reeleição?”. Felizmente, a iniciativa estapafúrdia não foi levada adiante, sem embargo de que o torneiro bissílabo de São Bernardo tenha tentado governar por interposta pessoa: Dilma Rousseff. E deu no que deu.

Para tentar compreender o que nos espera no terceiro governo do ex-líder sindical do ABC, é necessário, antes, entender o que leva um sujeito que saiu consagrado ao se despedir do Planalto, com mais de 80% de popularidade, uma economia que bombava 7,5% ao ano e tinha conseguido eleger sua sucessora (a primeira mulher a sentar na cadeira de Presidente), a regressar ao mesmo posto que ocupara.

A primeira pista para responder essa questão talvez esteja no próprio desenrolar da história do que se passou desde que Lula desceu a rampa do Planalto. De 2011 pra cá, assistimos a um verdadeiro filme de horror, com povo na rua (2013), escândalos de corrupção em volume inaudito (Lava Jato) e um velho fantasma voltando a nos assombrar (inflação). Isso, registre-se, mesmo levando em consideração que o país voltou a sediar uma Copa do Mundo e recebeu pela primeira vez as Olimpíadas, fatores que deveriam aumentar a autoestima nacional (ocorreu o contrário). Se Dilma caiu, pois, a culpa recai única exclusivamente sobre ela e sobre quem a indicou: Luiz Inácio Lula da Silva.

Olhando em retrospecto o que deu errado, Lula pode tomar um novo caminho e reconstruir a própria imagem – hoje enxovalhada – como líder político. A despeito de alguns ruídos neste período de transição, Lula parece ter-se dado conta do recado que as urnas lhe mandaram. Se ele resolver implementar um “governo do PT”, estará acabado (e possivelmente sequer terminará o mandato). Se, ao contrário, promover um verdadeiro governo de união nacional, refletindo a “frente ampla” que ajudou a elegê-lo contra a máquina bolsonarista, o troféu de se tornar o “Getúlio Vargas do Séc. XXI” estará ao alcance da mão.

A esperança, portanto, é de que Lula governe com os olhos voltados para a História. E esse é o melhor lugar que um político tarimbado pode almejar estar. Sem se preocupar com reeleição e desprezando as picuinhas típicas do ofídiário brasiliense, o babalorixá petista poderá construir uma mitologia sobre a sua própria personagem. Livros e filmes existem aos montes contando sagas de ascensão-queda-ascensão, mas são poucos os casos da vida real que se encaixam nessa narrativa heróica. Depois de ter seu legado destruído por quem lhe sucedeu e amargar quase dois anos de prisão em um processo que posteriormente se reconheceu fraudulento (cortesia de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol), Lula parece tentar destronar todos os demais concorrentes no campeonato de “maior presidente de todos os tempos”.

No final das contas, porém, ninguém tem certeza de como será o terceiro governo Lula. Todavia, todo mundo sabe como seria um segundo governo Jair Bolsonaro. A simples percepção desse fato já nos permite vislumbrar o futuro com alguma dose de esperança no coração.

Toda a sorte do mundo ao novo Presidente, são os desejos sinceros do Dando a cara a tapa.

Ele e o Brasil merecem.

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