Quem tinha tempo e saco, ontem parou pra assistir ao debate dos presidenciáveis na TV Bandeirantes. Organizado em formato de pool com vários outros veículos de comunicação, o debate teve momentos previsíveis (Lula sendo acossado pelas acusações de corrupção) e momentos “imprevisíveis previsíveis” (Bolsonaro surtando com a jornalista Vera Magalhães). Ciro, como de hábito, pagou de franco-atirador, tendo acertar a tudo e a todos. De novidade, mesmo, apenas a boa surpresa com a dupla sul-matogrossense, Simone & Soraya, que deram um banho nos homens presentes ao recinto. Felipe D’Ávila? Quem é mesmo Felipe D’Ávila?
No dia seguinte, aconteceu o esperado. Quem era lulista disse que Lula foi bem, quem era Bolsonarista saiu arrotando que o Presidente “jantou” todo mundo, e quem era cirista ficou na convicção de que seu candidato levou algum. A imprensa, contudo, em um raro momento de unanimidade em momentos dessa natureza, cravou o que parece óbvio a qualquer pessoa que assistisse ao debate com o mínimo de isenção: Simone Tebet foi a grande vencedora da contenda. Mas a questão que fica é: essa vitória renderá votos para a senadora do Mato Grosso do Sul?
Que a vitória esmagadora no debate de ontem deve render algum voto para a candidata do PMDB, não resta a menor dúvida. Mas daí a achar que ela poderá explodir nas sondagens eleitorais e ultrapassar Bolsonaro para disputar o segundo turno contra Lula, vai uma grande distância.
Na verdade, desde algum tempo os debates pouco ou nada influenciam nas corridas eleitorais. No mais das vezes, as variações dão-se no limite da margem de erro. E são menores ainda os casos em que do debate resulta alguma mudança significativa no panorama eleitoral. É o caso, por exemplo, do último debate da Globo no primeiro turno de 2006, quando Lula faltou e a contenda foi para a segunda ronda. A hipótese, contudo, é bastante discutível, visto que, poucos dias antes ,havia estourado o escândalo do dossiê dos “aloprados”. É muito mais razoável, portanto, acreditar que a frustração da reeleição do petista no primeiro turno tenha muito mais sido decorrência desse escândalo do que à sua falta no debate global.
Ademais, como já foi tratado neste espaço quase uma dezena de vezes, a influência da televisão na corrida eleitoral é cada vez menor, como menor é a influência da televisão na nossa vida em geral. Não há qualquer razão para acreditar, portanto, que a ascendência decrescente da telinha sobre o “pensamento médio do telespectador”, de algum modo, não implica também ascendência decrescente sobre o “pensamento médio do eleitor”.
Seja como for, o debate de ontem deixa evidente que esse modelo de debate brasileiro encontra-se completamente ultrapassado. Perguntas rígidas, cronometradas, segundo um script um tanto enfadonho, tornam o “espetáculo” televisivo representado pelo debate algo deprimente. Pior que isso, claro, somente a presença de nulidades como Luiz Felipe D’Ávila, com representatividade virtualmente nula no eleitorado.
O que fazer, então?
O primeiro passo, por óbvio, é restringir a quantidade de candidatos. O ideal seria que somente os três primeiros colocados nas pesquisas estivessem lá pra disputar. Na pior das hipóteses, quatro, desde que estes quatro ultrapassassem um percentual pré-estabelecido de intenções de voto (10% ou 5%, por exemplo).
Na hipótese de haver quatro candidatos, seria disponibilizada meia hora cronometrada para todos eles. No total, portanto, o debate duraria exatamente duas horas. As perguntas seriam livres entre eles, sem restrição de assunto ou tema. A única imposição a ser feita seria que um candidato teria que fazer, na ordem do debate, pergunta para alguém que ainda não tivesse respondido. De resto, salvo dedo no olho, valeria tudo.
Para além da liberdade inquisitorial, esse formato permitiria aos próprios candidatos controlar o seu tempo de resposta. Quando achasse que deveria entrar mais a fundo em um determinado tema, o candidato não ficaria restrito àqueles dois, três minutos impostos pela programação de TV. Por outro lado, contudo, deveria ficar de olho para não gastar todo o seu tempo antes da hora, sob risco de condenar-se à mudez no final do debate, sujeitando-se a ataques dos outros candidatos sem o direito de replicar.
Haveria, obviamente, quem achasse ruim esse formato (os marqueteiros em geral). Os benefícios, contudo, parecem bem palpáveis, na medida que o debate fluiria de maneira mais livre, sem aquela pasteurização horrorosa imposta pelos tempo e púlpito estáticos. O eleitor poderia observar com mais clareza “quem é quem”, com o bônus de ver como os candidatos reagiriam sendo efetivamente colocados contra a parede, sem poderem – como ocorre hoje – mentir à vontade sem correr risco real de serem contraditados.
Ganharia com isso a TV (que atrairia maior audiência), o eleitor (que teria mais dados para julgar os candidatos) e a própria corrida eleitoral (que ganharia emoção real na disputa). Ganharia, enfim, a própria democracia.
Mas teremos algo do gênero?
A julgar pelo histórico, infelizmente não…