Saindo um pouco da mesmice das políticas nacional e internacional que acabou permeando este espaço nos últimos meses, vamos literalmente virar o disco e resgatar uma das seções mais idolatradas deste espaço: a sempre tão querida Música.
Desta feita, no entanto, não para exaltar ou recordar grandes nomes da música, seja daqui ou d’Álem-mar. Não. Neste caso especificamente, vamos identificar casos verdadeiramente vergonhosos da indústria fonográfica, nos quais a ausência de criatividade aliou-se de forma vagabunda à preguiça para gerar um das coisas mais asquerosas existentes em qualquer campo do conhecimento: o famigerado plágio.
O plágio, como se sabe, é uma forma desonesta de atribuir como sua a autoria de algo que foi produzido por outrem. Os casos são vários e a desonestidade não faz distinção de área de conhecimento. Ela pode acontecer na literatura, nas ciências, no Direito e, claro, também na música. De vez em quando, o sujeito é apanhado, mas é extremamente raro que daí resulte alguma consequência prática. Quem acompanha a política nacional, por exemplo, pôde observar casos de currículos de gente ilustre indevidamente adornados por títulos obtidos mediante o uso desse expediente espúrio, ou, ainda pior, que sequer existiam.
Para não tomar mais o vosso tempo e irmos direto ao que interessa, vamos rememorar aqui cinco casos de plágio da música mundial, alguns que nem sequer ainda foram estabelecidos pela crítica especializada (mas que ficam bem óbvios ao se comparar as canções), mas sem estabelecer qualquer critério de hierarquia entre eles.
Eis a lista:
1 – Taj Mahal x D’ya think I’m sexy?
Quem é mais velho vai se lembrar, mas houve uma época em que Jorge Ben Jor era maior do que Rod Stewart. Sim, o grande coveiro da música mundial é ícone da música pop romântica dos anos 70 e 80. Mas, nem por isso, escapou da acusação de plagiar nosso grande Jorge Ben.
O objeto da controvérsia gira em torno de um clássico da discografia de Jorge Ben: Taj Mahal. O refrão inconfundível da música (tê-têrê-tê,tê-têrê-tê,tê-têrê-têêêê) é rigorosamente idêntico, musicalmente, a um dos grandes sucessos de Rod Stewart: D’ya think I’m sexy?
Jorge Ben, claro, não deixou pra lá. Processou o cantor britânico, que, então, resolveu doar os direitos autorais da música ao Unicef. Anos depois, Rod Stewart reconheceu o plágio e o caso foi definitivamente encerrado.
2 – Mamãe passou açúcar em mim (Mommy sprayed sugar on me) x Sugar
Para quem pensa que os plágios só contaminam músicas antigas, eis aqui um caso clássico de plágio que passou despercebido da imensa maioria das pessoas e, para suprema vergonha da imprensa, até mesmo da tal “crítica especializada”. Sim, porque não faz muito tempo que o pessoal do Maroon 5 estourou nas paradas com Sugar.
Obviamente, quase ninguém dos dias de hoje ouviu ou mesmo sabe quem foi o grande Wilson Simonal. E menor ainda é o número de pessoas que conhece seu movimento – a Pilantragem – que tirava onda até mesmo com as próprias músicas. E foi assim que o clássico Mamãe passou açúcar em mim se tornou o infame Mommy sprayed sugar on me.
Embora o vídeo da versão em inglês da música não esteja mais disponível no YouTube, basta comparar ambos os refrões para saber de onde veio a “inspiração” para o sucesso dessa Boy Band.
3 – Eu nasci há 10 mil anos atrás x I was born about 10 thousand years ago
Engana-se, porém, que o plágio só acontece de gringos contra brasileiros. Há vários casos em que a cópia descarada toma a mão inversa. E não foi de nenhum caso menor, não, mas antes de um dos maiores sucessos do nosso rock nacional. Porque ninguém em sã consciência classificaria de outro modo Eu nasci há 10 mil anos atrás da dupla Raul Seixas/Paulo Coelho.
No entanto, pouca gente sabe que a, digamos, “fonte de inspiração” de Raulzito e Paulo Coelho é de outra lenda do Rock Mundial. Talvez, a maior de todas as lendas: Elvis Presley. Porque foi o “Rei” quem cantou, muitos anos antes, I was born about ten thousand years ago.
Embora a versão brasileira tenha lá suas originalidades, há o título e mesmo o ritmo a considerar. Duvida? Confira comigo no replay:
4 – Pour toi x Feelings
Pra mostrar que a questão do plágio não se restringe a uma briga entre lusófonos e anglófonos, o caso de Loulou Gasté e Morris Albert comprova que esse mau hábito desconhece fronteiras. Tudo bem que Morris Albert é quase um crossover de brasileiro com americano, já que, paulistano da gema, fez (mega)sucesso com sua inesquecível Feelings cantando em inglês.
O que pouca gente sabia, no entanto, era que a música havia sido escrita originalmente por um compositor francês chamado Louis “Loulou” Gasté, cujo título era Pour toi. Cantada em um filme B do cultuado cinema francês (Le feu aux poudres, traduzido macarronicamente como Albatrasse, o traficante sinistro), Loulou Gasté só foi descobrir o plágio depois que um conterrâneo seu “importar” Feelings de volta para a França, com uma versão intitulada Dis-lui.
Gasté, claro, não gostou nada da “novidade” e processou Morris Albert. Alguns anos depois, uma corte norte-americana condenou o cantor brasileiro ao pagamento de EU$ 380 mil como indenização a Loulou Gasté. Seja como for, trata-se do único caso do original-que-foi-plagiado-e-virou-versão-do-próprio-plágio. Durma-se com um barulho desses.
5 – You can’t catch me x Come together
E para terminar com chave de ouro esta página negra da música mundial, a comprovação maior de que o plágio desconhece não só fronteiras, mas também talento e sucesso mundiais. Pois quem iria imaginar que os Beatles – ou, mais especificamente nesse caso, o grande John Lennon – pudesse ceder à tentação de copiar músicas alheias para produzir os próprios sucessos?
Mas, por mais estranho e bizarro que isso possa parecer, esse lamentável equívoco aconteceu. E o objeto do plágio foi nada mais, nada menos, do que outra lenda do rock mundial: Chuck Berry. Ele, que gravara ainda nos anos 50 You can’t catch me, quase cai pra trás da cadeira quando ouviu os primeiros acordes de Come together no final dos anos 60.
Evidentemente, a coisa não ficou por isso mesmo. Chuck processou John e o caso acabou encerrado em um acordo sigiloso, cujos termos até hoje se desconhece. Ficou, no entanto, a lição de que mesmo os grandes gênios da humanidade podem cair em pequenos pecados.
Texto extraordinário parabéns