Recordar é viver: “Os sofrimentos do Jovem Werther”

Como a seção de resenhas de livros do Blog anda bem abandonada, vamos lembrar de tempos melhores, em que o Blog se preocupava com coisas mais interessantes do que a política ordinária de todo dia…

Os sofrimentos do jovem Werther

Publicado originalmente em 28.7.11

Todo mundo que ouve falar em Göethe lembra logo do Fausto. Escrito aos 90 anos e dedicado aos seus amigos mortos (já não havia vivos que valessem a pena recordar), Fausto é sem dúvida um clássico da literatura universal.

No entanto, pouca gente se recorda de outra obra de Göethe, anterior ao Fausto, mas igualmente profunda e desconfortante: Werther.

Werther

Publicado no auge da juventude, aos seus 25 anos, dizem os críticos que Werther tem algo de autobiográfico. Se tem mesmo, não sei. O fato é que Werther catapultou Göethe para o estrelato, de onde não mais sairia.

Trata-se de um romance epistolar. O personagem principal, Werther, escreve cartas ao seu amigo Wilhem, contando as coisas de sua vida. Cartas normais de uma vida normal. Até que, um dia, Werther conhece Charlotte, uma doce menina rica por quem se apaixona perdidamente.

O problema é que Charlotte já está noiva de Albert, um sujeitinho boa praça, mas mais velho do que ambos. Werther não consegue deixar de pensar em Charlotte. Ao mesmo tempo, sente-se dentro de um conflito pessoal, pois também não odeia exatamente Albert. Afeiçoa-se aos dois, mas o amor a Charlotte se sobressai.

O romance conta as aproximações e os afastamentos entre Werther e Charlotte. Werther nunca chega a se declarar oficialmente a Charlotte, embora o sentimento por ela seja claramente evidente. O momento em que Werther chega mais próximo de se declarar é quando Charlotte, muito recatada e fiel ao marido, pede para Werther deixar de visitá-la. Ao despedir-se, Werther declama um poema, no qual diz:

“Por que me despertar, ó sopro de primavera?

Tu me acaricias e dizes: “Derramo sobre ti as gotas celestiais do orvalho”.

Mas se aproxima o tempo em que murcharei; aproxima-se a tempestade que me arrancará as folhas.

Amanhã virá o viajante, aquele que me viu no auge de beleza.

Seus olhos hão de procurar-me por toda a parte.

E não me encontrarão mais”.

Werther chegara a uma conclusão trágica: para sair desse estado de coisas, um dos três deveria morrer. Charlotte, por motivos óbvios, estava fora de cogitação. Albert era a melhor opção, mas Werther não tinha coragem suficiente – nem disposição – para cometer um homicídio. Diante disso, pede emprestado uma pistola a Albert. Escreve uma carta de despedida a Charlotte e mata-se.

Escrita no auge do romantismo, reza a lenda que a obra detonou uma onda de suicídio entre jovens por toda a Europa. Não é pra menos. Nenhuma outra relata com tanta fidelidade os dramas de um amor juvenil. Nenhuma outra é capaz de retratar com tanta percuciência as crises de paixonite adolescentes pelas quais a maioria de nós já passou. “Amar ou morrer”, eis o lema irracional dos jovens desesperados de amor.

Embora tenha sido escrito no século XVIII, trata-se de um romante atemporal. É impossível ler Werther e não desenvolver uma empatia natural com a personagem principal. Esse é o segredo de seu sucesso.

Tempos depois, um francês chamado Jules Massenet resolveu escrever uma ópera baseada na obra de Göethe. Sem o mesmo sucesso do livro, é entretanto dessa ópera uma das árias mais conhecidas do repertório clássico: Pourquoi me reveiller? (Por que me despertar?) Ela é inspirada diretamente do poema declamado por Werther na obra.

Abaixo, a ária cantada por Luciano Pavarotti, com lágrimas nos olhos (comme il faut), no clássico show dos 3 tenores:

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