O perigo atômico, ou O risco que vem da Coréia

Parece mais do mesmo. Mas não é.

Quem acompanha o noticiário internacional deve ter visto que a Coréia do Norte testou com um sucesso mais um de seus mísseis. À diferença dos anteriores, contudo, este promete entregar algo que nenhum de seus predecessores poderia sonhar em alcançar: levar um artefato explosivo até os Estados Unidos.

Tudo bem que há muita gente diz que Alaska is not America, mas, pela primeira vez desde a Guerra Fria, um país abertamente hostil possui capacidade de lançar projéteis contra o território norte-americano. A essa altura do campeonato, pouco importa saber se, de fato, o novo brinquedinho de Kim Jong-Un tem capacidade de levar uma ogiva atômica miniaturizada em sua cabeça. Diante de tantos avanços – sempre encarados com ceticismo pelos “especialistas” internacionais -, não há muito mais dúvida que, hoje, é apenas uma questão de tempo até que a Coréia do Norte produza um míssil intercontinental atômico.

O que isso muda no panorama da eterna crise da península coreana?

Até então, todos os lances eram encarados sob uma perspectiva de “será que vale a pena comprar briga com esse doido?”. A possibilidade de abrir um conflito aberto com a dinastia dos Kim sempre foi encarada pelos Estados Unidos como um cálculo lateral. É dizer: o problema não era exatamente se a Coréia do Norte conseguiria se equiparar ao poderio americano, mas quanto prejuízo ela poderia causar à Coréia do Sul e ao Japão, seus dois principais rivais no Sudoeste Asiático.

Para além disso, sempre havia o receio de como a China encararia um conflito nos seus calcanhares. Uma vez que os chineses jamais engoliriam uma península coreana unificada, ainda mais sob o controle de um governo aliado dos Estados Unidos, não seria de todo desprezível a possibilidade de que o país acabasse por intervir no conflito apenas para manter o equilíbrio de forças na região.

Agora, não. Para os Estados Unidos, não se trata mais de encarar um possível conflito com a Coréia do Norte como uma guerra que pode causar danos severos a países aliados, ou mesmo de melindrar um inimigo íntimo poderoso como a China, mas de brigar contra um rival que pode, sim, causar danos a cidades americanas.

Pode parecer banal, mas, mesmo tendo passado por tantas guerras, os Estados Unidos nunca souberam o que era sentir o bafo de um conflito militar no seu cangote. Não por acaso, Pearl Harbor marcou tanto a história norte-americana. E olha que estamos falando do Havaí, com ilhas que ficam a 4 mil Km de distância do continente. Imagine, agora, uma cidade como Los Angeles sob bombardeio de mísseis, quiçá atômicos. Não é preciso ser analista internacional para entender o tamanho do drama que envolverá o cálculo político-militar daqui por diante.

O problema, no frigir dos ovos, é que nunca os dois países tiveram simultaneamente em seus comandos dirigentes tão emocionalmente instáveis. Se as loucuras de Kim Jong-Un já se incorporaram há tempos ao folclore das relações internacionais, Donald Trump não tem deixado muito a desejar nessa matéria. O simples fato de o presidente dos Estados Unidos responder ao lançamento balístico pelo Twitter com uma pergunta de mesa de bar – “Esse cara não tem nada melhor para fazer da vida?” – dá a perfeita dimensão do perigo que o mundo corre neste exato momento.

O melhor caminho, claro, seria uma saída negociada. Mas não se sabe se a China está realmente interessada em construi-la. E o que é pior. Não se sabe sequer se, mesmo com a pressão da China, os norte-coreanos cederiam aos apelos do seu único aliado. Como todo mundo está careca de saber, o programa nuclear e balístico da Coréia do Norte existe para garantir a sobrevivência do seu extravagante regime. E é difícil que Kim Jong-Un coloque voluntariamente seu “legado” em risco.

A verdade – é triste dizer – é que, desde a Crise dos Mísseis, nunca estivemos tão próximos de um conflito nuclear aberto. E só Deus sabe o que uma guerra nesses termos poderia causar ao mundo.

Tempos muito difíceis nos aguardam pela frente.

Esse post foi publicado em Política internacional e marcado , , , . Guardar link permanente.

Uma resposta para O perigo atômico, ou O risco que vem da Coréia

  1. Thais disse:

    Triste realidade só Deus mesmo para ter misericórdia pois nem consigo imaginar como seria tudo isso

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.