Um dia de pai

Pai de primeira viagem recebe a notícia apavorante da mulher:

“Amor, eu preciso sair”, informa delicadamente a esposa.

“Mas você vai pra onde?!?”, já responde ansioso o progenitor.

“Vou ali resolver uns probleminhas. Não se preocupe. Eu volto já”, replicou a mulher, tentando acalmar o esposo.

“E quem vai cuidar do bebê?!?”, pergunta o marido.

“Você, ué? Eu já dei de mamar, então ela não vai ter fome. Se ela fizer cocô ou xixi, é só trocar a fralda. E isso você já sabe fazer”, encerrou a mulher, intimando o esposo a assumir o papel de pai.

“Ok. Sem pânico. É só um bebê”, tenta se tranquilizar o pai. “Afinal, o que pode dar de errado?”

A primeira meia hora transcorre sem problemas. Coloca o bebê no balanço, puxa o tapetinho de atividades, distrai o rebento com aqueles brinquedinhos barulhentos da Chicco, e così la nave va.

Mas o tempo das distrações fáceis escorre rapidamente. Súbito, o beiço da criança começa a envergar em direção ao queixo, enquanto os olhos arqueiam como os de um chinês, deixando as sobrancelhas com a aparência de um acento circunflexo:

“BUUUÁÁÁÁÁÁ!!!!BUUUUÁÁÁÁÁÁÁ”, berra insistentemente o bebê.

Sem crise. Tira o bebê do tapetinho, coloca no braço. Uma música animada para tocar no computador e alguns passinhos de dança com o bebê no colo. O choro pára e o sorriso volta.

“Ufa! Quase pensei que fosse perder o controle da situação!”, imagina o pai.

Tolinho…

5 minutos depois, novo berreiro. Ainda mais forte que o anterior. As paredes tremem, os tímpanos estouram.

“Meu Deus! O que é isso?!? Parece que o mundo vai se acabar!!!”, finalmente se desespera o progenitor, receando que os vizinhos chamem a polícia, pensando que algum mal estivesse sendo feito ao menor.

Calma. Respira fundo. Hora de repassar na cabeça o checklist do cuidador:

“Ela mamou, então não é fome. Ela dormiu bem, então não é sono. Ela brincou, então não é enfado. Fome? Check. Sono? Check. Humor? Check. Deve ser então… FRALDA!!” exclamou mentalmente o pai.

Sim, era a fralda. Cocô. Muito cocô. Uma avalanche de cocô. Problema identificado, vamos resolvê-lo.

Coloca o bebê no trocador. Abre a roupinha. Tira a fralda. Passa o paninho para limpar. Enquanto tira a fralda e busca rapidamente a nova para colocar em seu lugar, o que acontece? Xixi. Muito Xixi. Rios de xixi. E o que é pior. Sem a fralda nova por baixo, o xixi inutilizou completamente todas as mantas que forram o trocador, juntamente com a roupinha que ele estava usando.

Calma. No panic. O que fazer primeiro?

Tira a roupa mijada do bebê. Bota o bebê mijado no braço. Pega no guarda-roupa novas mantas para substituir as xixadas no trocador. Pega uma roupinha nova. Bota tudo em cima da cama. Tira as mantas molhadas do trocador. Limpa o trocador. Coloca as mantas novas no trocador. Deita novamente o bebê no trocador. Começa o ritual de novo:

Limpa o bebê, passa a pomada, troca a fralda, veste a roupa e voilà: um bebê limpinho, feliz e sorridente novamente está no ar. Voltemos à sala, de onde nunca deveríamos ter saído.

Nesse momento, abre-se a porta da casa. Entra a esposa. Ela olha o pai vindo com o bebê no braço. E o bebê – claro – abre o sorriso mais lindo do mundo quando revê a mãe.

“Meu amor! Quanta saudade! Você ficou com seu papai, foi?”, diz a mãe ao filho, para logo depois emendar ao marido:

“Viu como não é tão difícil?”

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