Depois da queda, coice. Não bastasse estar jogando a Série B pela segunda vez em cinco anos, eis que as urnas de ontem elegem para presidente do Vasco ninguém menos que Eurico Miranda. Tal qual afirmou certa feita uma loira famosa mais pelos seus atributos físicos do que por sua inteligência, o time da Cruz de Malta deu uma virada de 360º.
Do retorno de Eurico pode-se dizer tudo, menos que foi algo inesperado. Já no final de 2013 se anunciava o retorno do ex-atual-dirigente ao comando da nau vascaína. Naquela época, pensava-se ainda na possibilidade de Dinamite resgatar um pouco do prestígio perdido e poder se contrapor à força de Eurico que, nos bastidores, organizava em torno de si as alas descontentes com os pífios resultados apresentados pelo time.
Faltou combinar com os russos (ou, no caso, com o botafoguense). Dinamite montou um time meia-boca para disputar o Carioca. Mesmo assim, aos trancos e barrancos, conseguiu chegar à final. A irritação da torcida com mais um vice-campeonato foi amenizada por mais um daqueles erros bizarros de arbitragem que insistem em favorecer o Flamengo. Todavia, faltou a Dinamite reação efetiva à “operação” sofrida pelo Vasco naquela final.
Pior do que isso, só o que está a se passar na Segundona. Com o mesmo time meia-boca, o Vasco faz uma campanha ridícula na Série B. Está hoje em 3º, sem a menor garantia de que terminará o campeonato no G4. Apenas para efeito de comparação, nessa mesma altura da competição em 2009, quando disputou pela última vez a segunda divisão, o Vasco já era campeão antecipado. Em resumo, o time pode até voltar à Série A, mas o fará pela porta dos fundos, subindo a rampa com as calças na mão.
Ao desempenho desprezível do time, soma-se o acúmulo do desastre administrativo. Sem patrocinadores oficiais, com trocas-trocas intermináveis nos bastidores e salários atrasados, Dinamite chegou às vésperas da eleição na curiosa situação de não ter um candidato para chamar de seu; todos eram oposição a ele. Se isso não fosse o bastante, com medo do efeito “deseleitoral”, seu apoio era publicamente rejeitado pelos três principais candidatos.
Nessas circunstâncias, fica fácil entender a razão pela qual Eurico voltou ao poder. Ninguém “melhor” do que ele representava a oposição ao mandatário de plantão. Curiosamente, o ex-dirigente vascaíno teve no seu principal rival o maior cabo eleitoral. É inútil pensar que Eurico se elegeu por suas próprias forças. Foi a rejeição ao sujeito que lhe apeara da presidência em 2008 que fomentou sua candidatura.
Chegando ao fim do mandato enjeitado por todos, tendo perdido a reeleição para deputado estadual, Dinamite termina sua trajetória como presidente do Vasco melancolicamente, promovendo a eleição do maior desafeto. É dizer: o sujeito que foi eleito para extirpar Eurico Miranda para sempre é o principal responsável por seu retorno triunfal à presidência do time.
O Vasco, hoje, é um roteiro de David Lynch: ninguém sabe onde vai parar.