Pouca coisa foi dita no noticiário tupiniquim, mas, na mídia internacional, não se fala de outra coisa senão da possibilidade de sair amanhã um acordo entre o Irã e as seis potências que com ele negociam seu controverso programa nuclear. Se isso realmente vier a acontecer, como efetivamente se aguarda, as implicações para a geopolítica mundial podem ser muito maiores do que se imagina.
Em primeiro lugar, o Irã voltaria em grande estilo à comunidade internacional. Desde a Revolução Islâmica de 1979 – e os incidentes nela ocorridos, como a invasão da embaixada americana -, o antigo Império Persa é tratado como pária do mundo. Poucos querem tê-lo por perto. Menor ainda a quantidade dos que se dispõem a recebê-lo em casa. E absolutamente ninguém confia nele. Se um acordo for assinado, tudo isso mudaria, e o Irã passaria a ser cortejado como potência regional que é.
Em segundo lugar, um Irã reintegrado à comunidade internacional poderia trazer maior estabilidade para o mercado de petróleo. Dono da quarta maior reserva do planeta, o país pode aumentar sua produção e expandir seu mercado consumidor, caso o embargo imposto pela ONU ao seu petróleo seja levantado. Com isso, o preço da principal commodity mundial deixaria de ser um tormento para a inflação e crescimento mundiais, fazendo com que o resto do mundo passe a tratar de outros temas mais relevantes do que o abastecimento de seus carros.
Em terceiro lugar, um Irã pacifista desmontaria o discurso belicoso da direita americana e deixaria falando para as paredes a direita israelense, ambas loucas para mandar pelos ares os aiatolás de Khomeini. Sem a ameaça “real” de uma bomba nuclear iraniana – supondo que eles efetivamente a estivessem construindo -, não haverá qualquer justificativa para uma eventual ação militar contra o país. Com isso, o blá-blá-blá barato de que “Israel tem o direito de se defender” teria que ceder passo a medidas mais concretas da nação judia em favor da paz, especialmente no que toca aos assentamentos ilegais nas áreas ocupadas por Israel.
Se as previsões otimistas se concretizarem amanhã, isso permitirá ao Irã exercer um papel de influência internacional digna de quem é o terceiro maior exportador de petróleo do Oriente Médio, com localização geográfica estratégica e um poderio militar considerável ante seus vizinhos. O Irã deixará de ser visto com completa desconfiança pelas potências ocidentais e, sentando-se à mesma mesa, poderá ajudar a desatar nós aparentemente insolúveis da região, como a tutela da Síria sobre o Líbano, os ataques do Hezbollah a Israel e, quem sabe, até mesmo a questão palestina. Como no jogo de xadrez, o movimento de uma única peça pode reordenar a seqüência de todo o jogo, mudando seu resultado final.
Por isso, dedos cruzados, porque a jogada de amanhã pode alterar o futuro da ordem geopolítica mundial e definir as jogadas seguintes do tabuleiro pelas próximas três décadas.