Hoje, em sua coluna, o Elio Gaspari fala sobre a falta que faz ao Brasil uma Thatcher. Em resumo, o artigo defende que Margaret Thatcher construiu sua vida política movida por idéias conservadoras e, com elas, lutou e conseguiu ganhar três eleições sucessivamente na Inglaterra. Enquanto isso, no Brasil, passou-se 21 anos com gorilas comandando o país, mas que se recusavam a assumir a condição de “conservadores”. Eram, no máximo, “centristas”.
Não quero entrar aqui no mérito sobre o legado de Lady Thatcher. Afinal, personagens dessa dimensão não autorizam julgamentos históricos tão precipitados. Daqui a uns 50 anos, talvez seja possível definir se a Dama de Ferro fez mais mal ou bem ao Reino Unido. No entanto, em um ponto Elio Gaspari está coberto de razão: o que o Brasil está precisando – e é pra ontem – é de um partido que se assuma como sendo de direita.
Desde 1964 pra cá, a expressão “direita” no Brasil tornou-se palavrão. Quer xingar algum político? A primeira coisa que vem à cabeça é chamá-lo “de direita”.”Direita”, portanto, deixou de ser a expressão representativa de um pensamento político para se transformar em um estuário de todas as maldades das classes dirigentes. Houve corrupção? É porque é o sujeito é “de direita”. Empregou parentes? Só pode ser de alguém “da direita”. O desemprego aumentou? Culpa “da direita”. O Brasil provavelmente é o único país do mundo no qual um político aceita até com certa naturalidade a pecha de corrupto – rouba, mas faz – mas não admite de forma alguma ser identificado como “conservador” ou “de direita”.
A bem da verdade, nunca houve propriamente direita no Brasil. Nem mesmo antes de 1964. O que havia – e ainda há – é uma classe dirigente atrasada, reacionária, oligarca e demofóbica, que adora defender o cumprimento da lei para todos, desde que não seja para eles. É essa elite que, por exemplo, adora reclamar do tamanho do Estado, mas é a primeira a se achegar a ele para demandar favores. É a mesma elite que adora falar de coisas como “custo Brasil” enquanto não investe um só centavo no aumento da produtividade de seus trabalhadores.
Do ponto de vista teórico, o pensamento conservador – aquilo que se convencionou chamar de “direita” – defende coisas como: menor intervenção do Estado na economia, menos assistencialismo, maior investimento privado e o cumprimento irrestrito da lei a todos os cidadãos. Pode-se ou não concordar com essas bandeiras, mas o fato é que nenhuma delas implica converter o sujeito que as defende em “corrupto”, “reacionário” ou “nepotista”.
Do ponto de vista prático, os males do Brasil não podem ser atruibuídos à direita. Primeiro, porque ela simplesmente não existe. Segundo, porque 11 em cada 10 problemas da Administração Pública derivam da cultura patrimonialista, que desconhece coloração partidária. Quando essa gente chega ao poder – seja “de direita” ou “de esquerda” – não vem movida pelo sentimento de servir à população, mas pelo desejo de ganhar maior raio de ação para impulsionar seus interesses privados.
Do ponto de vista histórico, é possível que a direita ostente no currículo maiores serviços à população mundial do que desserviços. Não custa lembrar que foram os governos “de direita” de Roosevelt e Churchill que ajudaram a derrotar o nazi-facismo na Europa. Foram também os conservadores Reagan, Kohl e – olha ela – Thatcher que desmontaram a União Soviética e acabaram com a chamada “Cortina de Ferro”. Ninguém em sã consciência será capaz de dizer que o pensamento político de todos eles causou mais mal do que bem à humanidade.
Do ponto de vista eleitoral, o surgimento de uma direita clássica no Brasil traria de volta o equilíbrio ao cenário nacional. Hoje, todos os partidos situam a si próprios “à esquerda” do espectro político e, ao chegar ao poder, governam praticando políticas tanto de um lado como do outro. Elege-se gato e governa-se lebre. O aparecimento de um partido declaradamente de direita teria a virtude de tornar mais transparente o embate político, permitindo ao eleitor a oportunidade de escolher outro modo de governar.Assim como Thatcher fez na Inglaterra, reúnem-se as idéias, juntam-se os candidatos e vai-se à luta. Quem tiver mais votos, leva.
Simples assim.
Em primeiro lugar, assumir posições decisivamente de direita no Brasil e na América Latina, assemelhadas a de partidos na Europa e EUA é bem díficil, em virtude das realidades socioeconômicas bastante diferentes. Exceto o Chile de Pionochet, a direita( ou melhor dizendo as direitas) do nosso continente caracteriza-se pelo conservadorismo político e social, é consciente ou inconscientemente influenciada pelo positivismo, defende um nacionalismo misturado com ufanismo, demonstra forte aversão aos movimentos de massa e faz a defesa intransigente da ordem, mediante, particularmente, medidas dráticas ou mesmo draconianas contra a criminalidade comum. A direita do tipo inglesa ou norte-americana, a la Thatcher ou Reagan, dificilmente encontra defensores no Brasil, mesmo entre os grandes empresários que querem os altos lucros capitalistas. mas não prescindem da sustentação do Estado. Quem melhor hoje se aproxima dessa direita, dita genericamente neoliberal, é o PSDB, que pelo nome já se revela uma distorção ideológica. Além disso, é bom frisar que a direita européia representada nos grandes partidos, prefere se dizer de centro-direita e conservadora e deixar essa denominação de diretia para os agrupamentos neonazistas. No Brasil recente, o único exemplo autêntico dessa direita defendsora intransigente da iniciativa privada , do livre mercado( nem sempre tão livre assim e ) da desregulamentação econômica e da supremacia do individualismo foi o PL de Afif Domingos, logo destruído pela mídia na campanha presidencial de 1989 e também pela classe média que ao se aperceber da extensão das propostas de Afif dele se afastou para, a exemplo do que ocorreu por várias vezes na nossa história, engrossar as fileiras do moralismo, quase sempre conduzido por demagogos, à epoca personificado por Collor de Melo..