Os riscos do desconhecimento da história

Não é segredo pra ninguém que este que vos escreve é um fã declarado da História. Estudá-la e conhecê-la traz muitas vantagens, especialmente para aqueles que conseguem projetar o futuro a partir do que aprenderam com o passado.

Mas uma das funções menos conhecidas da História é preveni-lo de passar por constrangimentos. Sim, porque quem não conhece História arrisca-se a passar muita vergonha por aí. E isso acontece com muito mais freqüência do que você imagina.

Ontem, por exemplo, houve um debate entre os candidatos a prefeito de Fortaleza. Do lado de fora, havia a onipresente claque contratada para “apoiar” cada um dos candidatos. E, como sempre acontece nesse tipo de evento, o “apoio” aos candidatos acaba em bate-boca ou briga entre os membros das torcidas organizadas. Quando de um dos lados está Ciro Gomes, as chances de isso acontecer multiplicam-se exponencialmente.

No calor da discussão de ontem, algum militante do PSOL falou um impropério qualquer contra o candidato do PSB. Conhecido por seu temperamento mercurial, Ciro Gomes xingou de volta. De uma hora pra outra, ambos os lados começaram a se chamar reciprocamente de “fascistas”.

Espirituosamente, um dos repórteres presentes resolveu perguntar a duas militantes do PSB o que significava o xingamento. “Uma pessoa falsa”, disse uma. “Alguém que não deixa os outros falarem”, disse outra.

O ódio cega, diz o ditado. Não só os olhos, mas principalmente a razão. Nesse caso, esquece-se de que a forma mais rápida de perder um debate é apelar ao argumento ad terrorem. Em todos os casos, em qualquer circunstância, sempre que alguém chama o outro de “nazista” ou “fascista”, é sinal de que perdeu a discussão.

Nazismo e fascismo foram dois eventos históricos únicos – no pior sentido da palavra. A barbárie provocada por Mussolini e, principalmente, por Hitler não encontra paralelo, nem antes, nem depois da II Guerra Mundial. Tachar alguém com semelhante adjetivo constitui, na melhor das hipóteses, um exagero desproporcional a qualquer que seja a agressão.

Fascismo e Nazismo representam um sistema de governo no qual se extingue toda e qualquer forma de representação democrática. Fulcrado principalmente na censura e na propaganda oficial, o sistema alicerça-se na repressão a qualquer forma de oposição, se necessário até mesmo pela eliminação – no sentido militar – dos inimigos. O nacionalismo é exacerbado e invariavelmente descamba para o racismo, como aconteceu na Alemanha. Direitos fundamentais são ignorados em favor do crescimento econômico do país. Com isso, estabelece-se os dois pilares de sustentação desses regimes de exceção: a pregação de superioridade dos cidadãos nacionais e o desenvolvimento de um dínamo econômico capaz de fazer com que a maior parte da população aceite passivamente o regime de exceção. Conquistam-se, em suma, corações e mentes (leia-se: bolso).

Francamente, será que em algum segmento do espectro político brasileiro pode-se encontrar algo parecido com um fascista ou um nazista?

Na dúvida, utilize os bons e velhos adjetivos do vernáculo: “autoritário”, “anti-democrático”, “intolerante” e por aí vai. Deixe os fascistas e os nazistas queimando no inferno para onde foram mandados, que é melhor.

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2 respostas para Os riscos do desconhecimento da história

  1. Erich von Manstein disse:

    Essa costume de acusar o lado oponente em uma discussão de ser nazista virou uma praga na internet. Inclusive esse comportamento foi bem descrito pela lei de Godwin, descrita nessa entrada da wikipedia: http://en.wikipedia.org/wiki/Godwin's_law

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