O derretimento do dólar e o maior calote da história

Dia sim, o outro também, no noticiário nacional é inundado com notícias e reportagens sobre o derretimento do valor do dólar no mundo. Sempre aparecem as mesmas figurinhas de sempre: analistas do mercado dizendo que não há nada a fazer, empresários reclamando que o governo não faz nada para conter a desvalorização do dólar, e etc, etc, etc.

Quem acompanha o blog, sabe que, desde 1971, o dólar não tem lastro. Ou seja: o dólar vale por si mesmo, não existe nenhum ativo real por trás dele – como o ouro – garantindo seu valor de face.

Quando estourou a crise do subprime em 2008, os americanos se viram diante da maior ameaça de recessão prolongada desde a crise de 1929. Bancos quebravam a torto e a direito. Com medo de tomar calote, ninguém emprestava dinheiro pra ninguém. Sem crédito, ninguém compra. E, sem vender, ninguém produz. O risco de o país cair novamente em uma depressão era bem real. O que fez o Banco Central Americano (FED)?

Mandou rodar a máquina. Traduzindo: mandou imprimir uma quantidade colossal de dólares para, no jargão econômico, injetar liqüidez no mercado. A intenção era clara: garantir que nenhuma banco quebraria mais por falta de dinheiro no mercado. Todo mundo estaria garantido. Desse modo, o FED esperava quebrar o círculo vicioso iniciado com a quebra do Lehman Brothers.

O problema é que, segundo um princípio básico da economia, o valor de uma determinada mercadoria é determinada pela sua oferta: quanto mais tem, menos vale; quanto mais gente interessada em tê-la, mais vale. Eis a famosa lei da oferta e da procura.

Com dólares sendo impressos como jornal do dia, a tendência óbvia é fazer com que o valor da moeda despenque. Pros Estados Unidos, isso teria três efeitos positivos:

Primeiro, tornaria o preço de suas mercadorias mais baratas em relação a outras moedas. Conseqüentemente, aumentariam as exportações, atenuando a queda da atividade industrial.

Segundo, o valor real de suas dívidas ao exterior seriam diminuídas. Como as dívidas do governo americano são tomadas em dólar, se o dólar passa a valer menos, a dívida real cai de valor.

Terceiro, os ativos do governo e das empresas americanas nos outros países passam a valer mais. É só imaginar uma fábrica comprada por uma empresa americana no Brasil por R$ 20 milhões. Se o dólar valesse na época R$ 2, a fábrica teria o valor equivalente de US$ 10 milhões. No entanto, se de repente US$ 1 passa a valer R$ 1, a mesma fábrica passaria a valer US$ 20 milhões.

O que está em curso, portanto, é o maior calote da história do capitalismo mundial. Exatamente por isso, China, Brasil, Japão e outros grandes detentores de reserva em dólar puxam os cabelos e compram desesperadamente os dólares que entram em seus mercados. Não só para impedir a valorização de suas moedas, mas, também, para garantir que seus ativos em dólar não passem a valer cada vez menos. Isso explica, em parte, porque o dólar não despenca simplesmente de uma vez, mas vai derretendo aos poucos, numa lenta e dolorosa agonia.

Quem diria? No novo milênio, o país conhecido pela segurança das relações jurídicas e credor do mundo inteiro é agora candidato a maior caloteiro da história. Já os países a quem ele gostava de ditar regras econômicas são seus credores apreensivos, com medo do tamanho do calote que podem tomar.

Eis o capitalismo do século XXI.

Esta entrada foi publicada em Economia. Adicione o link permanente aos seus favoritos.

3 Responses to O derretimento do dólar e o maior calote da história

  1. Avatar de Rômulo César Mourão Rodrigues Rômulo César Mourão Rodrigues disse:

    Além disso tudo, prejudica seriamente as nossas exportações e facilita as importações (cotadas em dólar), porquanto o exportador é obrigado a liquidadar ( transformar em reais) o valor auferido com as vendas, e o importador precisa de bem menos reais para efetuar as compras. Em consequência, o saldo positivo de nossa balança comercial tende a diminuir cada vez mais, o que reduz as margens de investimento e podem nos levar, mais uma vez, a depender do hot money para fechar o balanço de pagamento. Se não for isso, me corrija, por favor. Um abraço.

  2. Avatar de Deilton Deilton disse:

    Vai quebrar! A cada análise que leio vejo a luz no fim do túnel se apagar. Os Estados Unidos não têm como pagar suas dívidas e em pouquissimo tempo não terão mais como empurra-las. O certo é que o mundo irá abraçá-lo numa longa e profunda recessão, de consequências econômicas, sociais e consequentemente políticas desconhecidas. Aqui no Brasil não tenho dúvida, será mais uma vez os pobres e a classe média a pagar pela crise. O governo vai segurar o calote americano em nomeda estabilidade economica internacional, cai continuar transferindo recursos aos banqueiros nacionais através da dívida pública, que tenho certeza ser a mais segura do mundo. É mais fácil achar vida na lua que o governo brasileiro dar calote nos bancos nacionais, vamos amargar o calote americano e continuaremos a sustentar os proxenetas financeiros nacionais.

Deixar mensagem para Rômulo César Mourão Rodrigues Cancelar resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.