Não foi surpresa pra ninguém.
Ansiada por uns, temida por outros, Jair Bolsonaro enfim foi preso. Tudo bem que o ex-presidente não foi (ainda) para a Papuda, mas pouca gente duvida de que esse será o seu destino após o julgamento final do processo contra os golpistas. Depois de descumprir as medidas cautelares impostas por Alexandre “Xandão” de Moraes, Bolsonaro agora está literalmente preso dentro de casa, sem poder sair a lugar algum sem autorização judicial.
Com a decisão de Moraes, Bolsonaro agora se junta ao rol formado por Temer, Lula e Color na condição de ex-presidentes que foram ver o sol nascer quadrado. Da redemocratização pra cá, apenas Itamar, Fernando Henrique e Dilma escaparam da desonra. Ou seja: de sete presidentes, nada menos que quatro foram, por razões variadas, mandados ao cárcere. Sinal de que a nossa democracia, infelizmente, vai mal.
No caso específico de Bolsonaro, seu destino processualmente parece selado. O processo transcorreu normalmente, as provas juntadas aos autos são avassaladoras e, pelo rito, faltam apenas as alegações finais dos réus antes do julgamento propriamente dito. Salvo pelo voto do ministro Luiz Fux, todos os outros já são conhecidos. E todos eles vão na direção da condenação do ex-presidente.
Durante meses, colocou-se uma espécie de “ameaça” sobre a Justiça. “Se Bolsonaro for preso, o Brasil vai parar”. Enquanto a Direita dizia que haveria uma tal comoção que levaria o país à convulsão social, a Esquerda, ironicamente, dizia que o Brasil ia parar como um “segundo carnaval”. Ontem, verificou-se que nenhum dos dois cenários se concretizou. Numa espécie de anti-clímax, Bolsonaro foi preso e a vida seguiu como era antes. Salvo a patética “ocupação” das mesas do Senado e da Câmara pela oposição bolsonarista, nenhum incidente digno de nota foi registrado em qualquer canto do país.
“E agora?”
Bem, agora não há muito mais o que fazer. A despeito de críticas às cautelares que foram impostas, Alexandre de Moraes não tem muita margem para voltar atrás agora, ainda mais quando se caminha para a fase final do processo do golpe. Se ele simplesmente dá o dito pelo não dito e solta Bolsonaro, correria o risco de ficar tão desmoralizado que o próprio julgamento do caso seria colocado em xeque. Se Xandão não segura a prisão dele agora, por que seguraria mais à frente, quando ele de fato for condenado?
Há quem diga que, como mau atacante, Bolsonaro tenha “cavado a falta”, isto é, sabendo que Xandão decretaria sua prisão, teria ido “ao encontro do zagueiro”, provocando um ato que confrontava expressamente a determinação judicial, sabendo que seria preso em seguida. Pode ser. Mas, se a estratégia foi essa, trata-se de uma idéia estúpida, A essa altura do campeonato, a única “ajuda” que Bolsonaro pode esperar vem da pressão norte-americana. E não há nenhuma personagem mais odiada no Brasil atualmente do que o Nero Laranja.
Especula-se nos bastidores uma espécie de “acordo”, através do qual Xandão voltaria atrás na decretação da prisão, enquanto as sanções de Donald Trump seriam amaciadas amanhã. quando deve entrar em vigor o tarifaço imposto pelo Nero dos nossos tempos. É difícil, contudo, acreditar numa concertação dessa ordem. Primeiro, porque a interlocução de Xandão com a trupe bolsonarista e a Casa Branca é zero. Segundo, porque seria de uma ingenuidade atroz acreditar que o Laranjão pudesse submeter as suas vontades às vicissitudes dos BOs de Jair Bolsonaro. Só quem acredita em Terra plana ou “ditadura do Judiciário” pode acreditar que Eduardo Bolsonaro, o famoso “Bananinha”, disponha de tamanha influência no Salão Oval.
Bananinha, aliás, parece ter “piscado” no meio desse tiroteio todo. Segundo notícia divulgada pela CNN, o Filho 03 de Bolsonaro teria pedido a Donald Trump para aliviar as sanções contra o Brasil, em troca da abertura de um “diálogo” com o Supremo. Se de fato isso ocorreu, trata-se de mais uma prova da pouca inteligência que habita no clã Bolsonaro. Caso Eduardo Bolsonaro peça alívio das sanções e Trump negue o refresco, ficará escancarado pra todo mundo que eles não têm poder algum junto ao Laranjão – e que, portanto, Bolsonaro seria só um mais um pretexto para o tarifaço. Caso – numa hipótese improvável – o Nero dos nossos tempos atenda à solicitação do Bananinha, ficará ainda mais evidente a chantagem imposta contra o Brasil para salvar a pele do ex-presidente.
Seja como for, a hora parece ser de trincar os dentes e esperar pelo impacto. Amanhã saberemos até onde vai a influência dos Bolsonaro junto a Donald Trump e, por conseguinte, até onde o Laranjão está disposto a ir nessa briga particular com o povo brasileiro.
Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.