É uma piada. De mau gosto. Mas, infelizmente, (ainda) somos obrigados a conviver com ela.
Que Bolsonaro e sua famiglia sempre foram patriotas de fancaria, isso ninguém duvidava. Fora a cada vez mais restrita bolha da Bozolândia – uma realidade paralela em que a Terra é plana e as urnas foram fraudadas para tirar a vitória do “Mito” -, ninguém nunca acreditou nessa esparrela. O sujeito que adorava gritar aos quatro ventos “dar a vida pela Pátria” nunca teve outra coisa em seu horizonte senão o próprio rabo. A chantagem de Donald Trump contra o Estado brasileiro é apenas o mais recente e abjeto exemplo dessa postura covarde que Bolsonaro exibiu por toda a sua vida.
Para quem, de boa fé, ainda não entendeu a natureza do problema, convém falar em português claro: Jair Bolsonaro despachou seu filho Bananinha para conspirar contra o Brasil e os brasileiros. As sanções às exportações brasileiras – porque seria vernacularmente impróprio chamar de “tarifas” percentuais impostos por razões políticas – nada mais são a não ser uma forma de tentar dobrar o Estado de Direito às vontades do Nero Laranja. Pouco importa o que você ou qualquer outra pessoa ache sobre Lula. O que está em jogo aqui são as instituições brasileiras, não uma pessoa individual.
Como último ato de desespero visando a livrar seu pai de uma condenação certa, Eduardo Bolsonaro conseguiu convencer Donald Trump a taxar em 50% todas as exportações do Brasil para os Estados Unidos. Como se isso não bastasse, as redes bolsonaristas ainda se prestaram a espraiar o terror entre gente humilde e ignorante, de que os Estados Unidos cortariam o GPS do Brasil ou retirariam o país do sistema Swift. Ambas as alternativas são tecnicamente inviáveis, mas, ainda assim, o mero alarde é suficiente para causar pânico em quem não entende como essas coisas funcionam.
Ademais, é de se perguntar se, mesmo diante de toda a loucura inata do Laranjão, ele se prestaria a tomar ações que são equivalentes a uma declaração de guerra a uma nação amiga por conta de Bolsonaro. Se um país que nunca atacou os Estados Unidos, sempre foi tido como aliado e não representa sequer uma ameaça existencial ou lateral a qualquer interesse norte-americano pode ser atacado desse jeito, que tipo de confiança o mundo pode ter em qualquer coisa que venha dos Estados Unidos? Se o que já está acontecendo é ruim o bastante para minar a credibilidade dos americanos, que dirá se algo do gênero viesse realmente a ocorrer. Seria como assinar uma sentença de morte na suposta liderança que os Estados Unidos exercem sobre o “mundo livre”.
Fora isso, nenhum país sério do mundo reconhece o Brasil como um estado de exceção. Com todas as críticas que se podem fazer ao Supremo Tribunal Federal – e elas não são poucas -, afirmar que vivemos uma “ditadura do Judiciário” é o tipo de alucinação que só pode ser produzida por gente de má fé ou que fumou maconha estragada. A democracia brasileira não está doente. Pelo contrário. Nunca esteve tão bem. Ainda mais agora, quando, pela primeira vez em sua história, parte-se para a condenação de criminosos que conspiraram pela derrubada do regime democrático.
O que Eduardo Bolsonaro e seus comparsas fazem, em resumo, é tentar sequestrar um país inteiro para salvar uma única pessoa. Quando o responsável pelo sequestro é Donald Trump e a pessoa a ser salva atende pelo nome de Jair Bolsonaro, dá pra se ter a exata noção do absurdo da situação que estamos vivendo.
A essa altura, eles já deveriam estar pensando em mudar o mote da campanha deles. Ao invés do já infame “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, deveriam adotar agora o “Anistia acima de tudo, Trump acima de todos”.
Não mudaria nada pra eles, mas pelo menos seria mais honesto…