Treze anos depois, cá estamos.
É o que você vai entender, lendo.
O mundo contra o Irã, ou Como se constroem as guerras
Publicado originalmente em 12.1.12
Uma das profissões mais, digamos, “confortáveis” do mundo é a de historiador. Basta pensar que seu objeto de estudo é estático. A relação entre o fato histórico e o historiador é tal qual a de um legista com um cadáver: ele não se mexe, não reclama, não o contradiz. De fato, analisar um fato passado é muito mais fácil do que prever um fato futuro. Há uma imensidão de variáveis que podem determinar o seu acontecimento da forma prevista ou não. Por isso mesmo, é muito mais confortável tratar com algo já ocorrido do que com algo ainda por acontecer.
Com as guerras, passa-se algo semelhante. Toda guerra analisada por um historiador é vista como inevitável. Mas sua inevitabilidade só é descoberta depois. Difícil mesmo é prever a eclosão de uma guerra e sua dinâmica antes de sua deflagração. É o que vou tentar fazer agora. Já que não sou historiador, posso dar-me o direito a arroubos de futurologia.
Há alguns anos o Irã vem desenvolvendo um programa nuclear. Com fins pacíficos, dizem eles. Com fins militares, dizem as potências ocidentais.
Por óbvio, pode dar-se de barato que eles estão, sim, em busca de uma arma nuclear. Nenhum país do mundo que pesquisou o tema parou no conhecimento da produção elétrica a partir da fissão nuclear. Todos seguiram a marcha em direção ao conhecimento completo do clico do átomo. Até mesmo o pacifista Japão. A única diferença é que eles optaram por não produzir a bomba. Mas, se quiserem, a tecnologia está lá, à mão.
A questão é: têm os iranianos razão em buscar a bomba? Do ponto de vista puramente objetivo, a resposta é sim. Ponha-se por um instante no lugar deles. Só porque você começou um programa nuclear – e, na melhor das hipóteses, está a anos-luz da bomba – começam a pôr embargos a suas vendas externas. Pressionam o seu país de toda forma. No limite, começam a assassinar os cientistas que participam do programa. Não satisfeitos, vivem soltando rumores sobre um ataque ou mesmo uma invasão de seu país. Mesmo que inicialmente você não buscasse uma arma nuclear, não mudaria de idéia com toda essa pressão?
Convencidos da necessidade de impedir um Irã nuclear, os países ocidentais querem agora esticar a corda e impor um embargo às vendas de petróleo, praticamente o único produto da pauta de exportação persa (o outro é o magnífico caviar). Um embargo teria um efeito devastador na já fragilizada economia iraniana. Não significa uma interrupção total da venda, como provou Saddam Hussein quando vivo. Significa “apenas” vender o óleo no mercado negro com um preço muito menor do que o do mercado internacional. Mas, pra quem depende dele pra viver, um embargo ao petróleo pode tornar-se questão de vida ou morte.
Se isso realmente acontecer, engana-se quem acha que os iranianos começarão a pipocar misséis contra Israel. Talvez até o façam, só pra fazer o mal. Mas esse não será o principal objetivo deles. Será interromper o tráfego de navios pelo Estreito de Ormuz, por onde passam os petroleiros carregados de Kuwait, Iraque, Emirados Árabes e – principalmente – Arábia Saudita. Isso – claro – para atingir diretamente os Estados Unidos, óleodependentes do produto exportado pelas nações árabes.

Fora afetar a economia americana e jogar o preço do petróleo nas alturas, o fechamento do Estreito de Ormuz lançará automaticamente todos esses países contra o Irã. Mesmo detestando Israel, quando a crise atingir o bolso dos exportadores de petróleo, não é difícil imaginar de que lado eles ficarão. Até porque, entre árabes e persas, não é simpatia o que exatamente rola.
Cercado por todos os lados, o Irã tentará destruir as instalações petrolíferas (poços, refinarias, portos, etc.) dos seus vizinhos, especialmente os da Arábia Saudita, maior produtor mundial e parceiro preferencial dos americanos. Aí, já viu: preço do petróleo nas alturas e economia mundial namorando uma nova depressão.
Embora seja difícil antever quanto tempo a guerra vai durar (apostaria em algo entre seis meses e um ano), não é difícil imaginar quem sairá vencedor ao final. O Irã não tem como fazer frente à força de Estados Unidos e Israel. Isso se os velhos parceiros bons de guerra França e Inglaterra não resolverem também dar uma forcinha. Mas o custo para o mundo será enorme.
Vale a pena pagá-lo? Claro que não. Mas quem disse que os “çábios” da geopolítica internacional estão preocupados com isso?
Terminando esse pequeno exercício de futurologia, recomendo que você fique sossegado. Afinal, pra quem leu o post Santos x Barcelona, como vidente, este que vos escreve é somente um modesto blogueiro.