Já que a semana foi marcada, entre outras coisas, pela ampliação do bloco de países conhecido por Brics, talvez seja uma boa hora pra recordar um dos posts mais antigos deste espaço.
Até porque, doze anos depois, a pergunta nele formulada continua tão atual quanto antes.
É o que você vai entender, lendo.
O papel do Brasil no mundo
Publicado originalmente em 11.07.11
Um das coisas que mais me irritam – na verdade, não irritam, exatamente, mas me inquietam – é o fato de o Brasil não ter um “projeto de vida”. Ao contrário das principais potências do mundo, não há uma “doutrina” brasileira. Não há um planejamento de como o Brasil quer se inserir no time dos grandes e, em lá chegando, qual o papel que deseja desempenhar. Em termos mais simples, o Brasil ainda não fez a pergunta que todo jovem faz a sim mesmo: “O que eu quero ser quando crescer?”
Veja o caso dos Estados Unidos, por exemplo. Quando começou a expandir-se territorialmente e viu dentro de si a enorme capacidade de mobilização industrial, associada a uma grande oferta de matérias-primas, não tiveram dúvidas: vamos expulsar os europeus das Américas. Elaboraram a chamada “Doutrina Monroe”, que, sinteticamente, pregava a “América para os americanos” (do Norte, complemento eu). Colônias européias na América não seriam mais aceitas, assim como a intervenção de europeus em problemas americanos. Foi aí que os EUA começaram a fazer da América do Sul o seu “quintal”.
Para comprovar o quanto os americanos estavam dispostos a agir para alcançar os seus objetivos, basta dizer que chegaram ao limite de forjar o afundamento do navio de guerra “Maine” para justificar uma guerra com a Espanha. Depois dela, nunca mais a antiga potência ibérica teve a mesma influência sobre suas antigas colônias.
Não faço aqui qualquer juízo de mérito. O que pretendo ressaltar é somente o fato de haver um objetivo, enfim, saber-se o que quer da vida, e depois buscar meios para alcançá-los.
Depois da II Guerra, os EUA, já uma potência mundial, vislumbraram somente um adversário à altura: a União Soviética. Com a retaguarda garantida, o projeto agora era reafirmar seu poder por todo o globo, impedindo, a qualquer custo, o avanço socialista. Surgia aí a “Doutrina Truman”. Para alcançar esse objetivo, valia tudo, até mesmo apoiar os piores fascínoras para não caírem nos braços de Moscou. Bem ou mal, conseguiram seu intento, embora a fatura esteja sendo cobrada agora, tardiamente (vide as revoltas pipocando pela África, Oriente Médio e Ásia).
No Brasil, não há nada disso. Fora um objetivo difuso, repetido à exaustão, de ter um assento no Conselho de Segurança da ONU, não há um projeto de inserção brasileira no mundo. Várias perguntas continuam sem resposta: queremos sentar no CS pra quê? Estamos dispostos a decuplicar nossos gastos militares para participar de incursões militares mundo afora? Estamos dispostos a ver soldados brasileiros voltando ao país em caixões por conta de uma guerra no fim do mundo? Em suma: qual o papel que o Brasil quer desempenhar no mundo?
Sem isso, continuaremos a atuar de forma errática no cenário internacional. Entra governo, sai governo, continuaremos a repetir a mesma ladainha. Mas sem responder à pergunta fundamental: “o que queremos ser quando crescermos?”