Dando a cara a tapa – Semana especial das eleições: “A vitória”

Há uma lenda entre os analistas políticos de que “segundo turno é outra eleição”. Falso. Quem acompanha o Blog há algum tempo, viu que, desde pelo menos 2018, a conclusão é o oposto daquela que é difundida na grande mídia. Segundo turno é a mesma eleição.

Truísmo? Reducionismo barato?

Não exatamente.

O segundo turno é a mesma eleição porque ninguém em sã consciência,pode imaginar que o eleitor que escolhe um candidato na primeira ronda vá trocá-lo pelo adversário na segunda oportunidade. Salvo aquelas hecatombes apocalípticas que ninguém pode intuir ou prever, os votos colocados no cesto de um candidato acompanham-no no segundo. A disputa, portanto, dá-se em torno dos votos distribuídos aos outros candidatos que não se classificaram para a rodada final. No caso específico do segundo turno de 2022, portanto, a briga de Lula e Bolsonaro era pelos votos dados a Ciro Gomes e Simone Tebet (7% do total).

Considerando o patamar de votos alcançado por um e outro, Lula precisaria somar aos seus 48,5% de votos do primeiro turno apenas 1,5% mais um para alcançar a maioria absoluta do eleitorado. Ou seja: bastava ao torneiro bissílabo de São Bernardo somar cerca de 1/5 dos votos distribuídos aos demais candidatos para ganhar. Bolsonaro, ao revés, precisaria convencer cerca de 80% dos eleitores de Ciro e Tebet que era preferível vê-lo novamente na Presidência a testemunhar o retorno do Partido dos Trabalhadores ao Planalto. Não é preciso ser estatístico ou gênio para perceber que o desafio do atual Presidente representava uma tarefa hercúlea desde sempre.

Bolsonaro bem que tentou, registre-se. As injeções maciças de dinheiro, feitas ao arrepio da Constituição e das leis, mas amparadas na tal da “PEC Kamikaze”, certamente contribuíram para aumentar sua competitividade. Além disso, reconheça-se que o Presidente, Carluxo e o Gabinete do Ódio sempre desempenharam como louvor a tarefa de ressuscitar o “perigo vermelho”, a ponto de boa parte da população cair na esparrela de que Lula e o PT seriam “comunistas” (risos). Isso, contudo, sempre pareceu pólvora seca para abater um candidato a “novo Getúlio”, conforme se alertou aqui.

Fora isso, o atual incumbente do Planalto carregava consigo diversas bolas de ferro, das quais ele dificilmente conseguiria se desvencilhar. A pandemia, claro, era a principal delas, mas as rachadinhas de sua família e o desempenho desastroso da economia tampouco ajudaram nisso. Não por acaso, por qualquer pesquisa séria que se analisasse (e olha que elas erraram horrores também neste ano), Bolsonaro sempre aparecia com mais de 50% de rejeição no eleitorado. Donde se conclui que, caso a oposição lançasse um chimpanzé bêbado para concorrer contra o atual Presidente, o chimpanzé bêbado teria matematicamente mais chances de ser eleito do que ele próprio.

Para além das dificuldades intrínsecas de sua candidatura, Bolsonaro ainda teve de lidar com os tiros que literalmente foram disparados contra ele na última semana da eleição.

No primeiro incidente, Roberto Jefferson retomou em grande estilo seu papel de homem-bomba. Ele, que já explodira o PT quando detonou o escândalo do Mensalão numa entrevista à repórter Renata LoPrete, agora atingia em cheio a candidatura do Presidente ao receber com tiros de fuzil e lançamento de granada a policiais da PF que foram à sua casa prendê-lo.

Como desgraça pouca é bobagem, na véspera do pleito a dublê de deputada e influencer Carla Zambelli resolveu fazer cosplay de Kate Mahoney (“Dama de ouro“) e saiu correndo pelas ruas dos Jardins. De arma em punho, a deputada achou por bem ameaçar com bala um sujeito que lhe xingara. Para quem se vangloriava de sua política armamentista para “defesa do cidadão de bem”, convenhamos, não é a melhor das propagandas eleitorais.

Lula, em resumo, ganhou porque sempre foi favorito na disputa. Desde que fora libertado, Lula esteve à frente em todas as pesquisas realizadas pelos institutos mais sérios neste último ano e meio antes da eleição. Mesmo com o apoio do Centrão, com PEC dos Precatórios e com a PEC Kamikaze, Bolsonaro nunca conseguiu ultrapassar a sua nêmesis nessas mesmas sondagens.

Sabemos, portanto, por que Lula venceu.

Mas por qual razão exatamente Bolsonaro perdeu?

É o que será analisado no nosso post de amanhã.

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