As vacinas contra a Covid, ou A vitória da Ciência

Tanto já se escreveu, aqui e alhures, sobre a terrível pandemia que se abateu sobre nós desde o começo do ano passado. Com quase 200 milhões de casos mundo afora e mais de 4 milhões de mortos (550 mil só no Brasil), a Covid-19 marcará para sempre uma geração que aprendeu a viver com máscaras e a evitar algo que talvez seja o instinto mais natural de qualquer ser humano: o contato com o próximo. Há, literalmente, milhões de motivos para chorar a tragédia que se abateu sobre o mundo. Mas, se por um lado a pandemia encontra-se inexoravelmente ligada à idéia de desgraça, por outro lado também há motivos para se ter esperança.

Quando os primeiros casos começaram a pipocar na China ainda em dezembro de 2019, pouco se sabia sobre essa nova variante de coronavírus que atingiu a humanidade. Temia-se os seus efeitos, mas, naquela época, a maioria não imaginava que o mundo pudesse passar por algo semelhante ao que se passou. Na melhor das hipóteses, teríamos uma “gripezinha”, que causaria apenas pequenos aborrecimentos cotidianos. Na pior, poderíamos ver a reprise da crise da H1N1, que explodiu de repente, mas em poucos meses foi debelada com vacinação em massa mundo afora. Como se viu, contudo, o buraco era bem mais embaixo.

Ao contrário do H1N1, que basicamente é a versão rediviva da influenza responsável pela gripe espanhola, o coronavírus desconhecia vacinas preventivas para o seu combate. Seus “parentes” mais próximos são o Sars-Cov (responsável pela Síndrome Respiratória Aguda Grave) e o vírus da Mers (responsável pela Síndrome Respiratória do Oriente Médio), para os quais já havia até estudo de vacinas em andamento, mas em nível ainda bastante incipiente. Enquanto no caso do H1N1 pôde-se adaptar o que já havia em relação à vacina contra a gripe (conhecida e aplicada desde os anos 30), no caso do coronavírus os cientistas que tiveram de partir praticamente do zero.

Pois bem. Em menos de um ano, os cientistas responsáveis pelo desenvolvimento de vacinas saíram do “praticamente zero” a vacinas aptas a serem aplicadas de forma maciça em grandes populações. Para fins de comparação, o recorde de velocidade até então pertencia à vacina contra caxumba, que durou quatro – QUATRO – anos até obter autorização das agências reguladoras para sua aplicação em massa.

Mas não foi só na velocidade de desenvolvimento que as vacinas surpreenderam. Utilizando tecnologias novas, foram desenvolvidas vacinas absolutamente seguras e de altíssima eficácia. Com mais de um bilhão de doses aplicadas, são irrelevantes os relatos de incidentes graves relacionados à aplicação de quaisquer das vacinas aprovadas pelas grandes agências. E, se até então o mundo costumava pensar em vacinas fabricadas a partir de pedaços ou fragmentos dos vírus das próprias doenças (caso da Coronavac, por exemplo), desta feita deu-se um passo além. As vacinas de RNA mensageiro (Pfizer e Moderna) abrem todo um novo mundo de possibilidades para a Ciência. Além dos vírus digamos, “tradicionais”, é possível pensar no uso dessa tecnologia até para o combate ao câncer e a outras doenças para as quais não existe, hoje, cura disponível.

Diante do verdadeiro salto tecnológico ocorrido neste ano e meio de pandemia, pode-se afirmar, com relativa margem de segurança, que as perspectivas para uma eventual nova onda de mortes causadas por um novo vírus são bem melhores. Caso surja – bate na madeira! – uma nova pandemia no futuro, é razoável imaginar que novas vacinas serão desenvolvidas de maneira ainda mais rápida e com igual segurança e eficácia como o foram nesta crise de Covid-19.

O que a tragédia da pandemia demonstrou, portanto, não foi somente o poder destrutivo da Mãe Natureza, condensado na forma de moléculas microscópicas de alto poder contagioso. Ela demonstrou, também, a incrível capacidade do ser humano de enfrentar desafios e superar obstáculos através do uso racional e metodológico da sua própria inteligência.

Um viva, pois, à Ciência e a todos os cientistas.

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