Os 80 anos do Rei Pelé

Pois é, meus caros. Na próxima sexta-feira, o maior jogador de futebol de todos os tempos, o vascaíno mais querido da história e, possivelmente, o ser humano mais famoso que já pisou nesta Terra, completa redondos oitenta anos de idade. Sim, estamos falando dele mesmo: Edson Arantes do Nascimento, ou, como designa o apelido que o lançou para a história, Pelé.

Mineiro de Três Corações, Pelé cresceu em Bauru, interior de São Paulo. Filho de seu Dondinho, um ex-atacante do Fluminense, e de uma dona de casa, Dona Celeste, o pequeno Edson recebeu o apelido que o projetou para o mundo por conta de uma dificuldade fonética. Como o guri não conseguia pronunciar direito “Bilé”, nome do então goleiro do Vasco da Gama, a turma da vizinhança começou a chamá-lo pelo nome que ele pronunciava em seu lugar: “Pelé”.

E por falar em Vasco da Gama, o maior jogador de todos os tempos não poderia torcer por outro time, não é? Berço do movimento negro no futebol, pode-se dizer que “graças” ao Vasco supercraques como Pelé puderam aparecer para a bola. Ainda em sua infância profissional, Pelé jogou pela primeira vez no Maracanã com a camisa do Gigante da Colina, em um combinado Santos-Vasco, naquilo que seria, em suas palavras, “a maior emoção” da sua vida.

Mas o que fez de Pelé o maior craque de todos os tempos? E mais: como o “mito Pelé” alcançou os quatro cantos da Terra, transformando-o numa figura tão popular como o Papa, capaz até de parar uma guerra na África?

Comecemos pela segunda parte. Para além do óbvio fato de que Pelé foi o maior jogador que já desfilou sua elegância em um campo de futebol, alguns fatores extracampo contribuíram decisivamente para a criação dessa fama absolutamente desproporcional, embora merecida, para um jogador de futebol.

Pelé era a maior estrela da seleção de 1970, o maior time de futebol de todos os tempos. Calhou de o escrete canarinho liderado por Mário Jorge Lobo Zagallo se apresentar justamente na primeira Copa do Mundo que foi transmitida ao vivo e em cores para o mundo inteiro. Até então, os fanáticos pela bola tinham de se contentar com o rádio (sem imagens) ou, na melhor das hipóteses, com transmissão em preto e branco. Foi, portanto, a primeira vez que o mundo pôde se deliciar com seu esporte mais popular com todo a explosão de cores de um estádio lotado de torcedores.

Fora disso, havia política por trás. O belga Jean-Marie Faustin Godefroid Havelange (ou “João Havelange”, como queiram), era presidente da CBD, a antecessora da CBF. Homem de negócios (nem sem lícitos), mas reconhecidamente de grande visão empresarial, Havelange enxergou longe. Viu que aquela caixinha quadrada que as pessoas colocavam na sala para receber imagens transmitidas por satélite o futuro do futebol. O, digamos, “Projeto Pelé” servia como uma luva para sua plataforma de campanha à entidade maior da bola. Quatro anos depois do Tri no México, Havelange era eleito presidente da Fifa.

Toda essa campanha midiática, no entanto, não resultaria em nada se não houvesse matéria-prima naqueles dois pés que conduziam a bola. E ali havia matéria-prima de sobra. Pelé chutava com os dois pés, cabeceava como poucos, driblava com uma facilidade atroz e, sobretudo, era dono de uma inteligência espacial que lhe permitia posicionar-se melhor do que ninguém e de uma inteligência futebolística que lhe permitia antecipar jogadas que seus marcadores jamais imaginariam que acontecessem.

Sempre haverá quem conteste que, considerando-se cada item individualmente, Pelé poderia não ser o líder em nenhum deles. Garrincha poderia ser um melhor driblador, Dadá Maravilha poderia cabecear melhor, Romário não encontra igual dentro da pequena área. Mas, mesmo assim, Pelé é facilmente enquadrável no Top 3 de qualquer critério utilizado para se definir um bom jogador de futebol. Se qualquer uma dessas características, isoladamente, é capaz de produzir um futebolista diferenciado, quando se reúnem em um único indivíduo são capazes de construir um ídolo, uma unanimidade.

Pelé, portanto, não é Pelé porque marcou mais de mil gols (Puskas também conseguiu e Friendereich marcou até mais), ou porque ganhou três Copas do Mundo (único espécime). Na síntese incontestável de Carlos Drummond de Andrade, “difícil não é marcar mil gols como Pelé. Difícil é marcar um gol como Pelé”.

Abaixo, breves 15 minutos de teaser de Pelé, porque somente um longa metragem é capaz de reunir tantos melhores momentos do Rei em campo:

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