Final de ano chegando e sempre vem alguém com aquela história: “Não tô com dinheiro pra nada”.
Como metade da população brasileira integra esse ramo, e a outra metade apenas adia a frase para o pós-réveillon, vamos recordar um antigo post de Economia, no qual se fornecem algumas orientações para ajudar nesse tipo de caso.
Porque ficar devendo não é mole, não…
Organizando suas contas financeiras
Publicado originalmente em 20.9.12
Nesse período de gente endividada, acho que convém fornecer algumas dicas sobre como tentar reorganizar suas contas em tempos de caos financeiro. Afinal, é ou não é uma das missões deste espaço funcionar como serviço de utilidade pública?
O primeiro problema do endividado é identificar a origem da encalacrada onde se meteu. A situação de colapso financeiro nunca – ou quase nunca – chega de repente. Trata-se de um longo processo de desorganização que acaba onde todo mundo sabe: em desespero pessoal, desagregação familiar e um longo período com o nome sujo na praça.
Portanto, antes de qualquer coisa, antes mesmo de tentar negociar as suas dívidas, a primeira pergunta a fazer é: como eu cheguei até aqui?
Em alguns casos raros, há eventos que determinam o colapso financeiro. Uma doença própria ou na família, quando não se tem plano de saúde. A perda repentina de um carro ainda por pagar, quando não se tem seguro. Mas, quase sempre, o endividamente resulta de condutas, digamos, “evitáveis” por parte do sujeito.
Os exemplos são vários. Emprestar dinheiro aos outros quando não se tem, comprar um bem de alto valor (carro ou imóvel) sem planejar os custos de manutenção no orçamento mensal (condomínio, seguro, consertos) ou, o que é mais comum, simplesmente não conseguir gastar somente o que você ganha por mês.
Acredite se quiser: 90% dos endividados não são pessoas que gastam demasiadamente todo o mês. São pessoas que gastam um tantinho, R$ 100,00 ou até menos que isso, a mais do que ganham todo mês. Com o tempo, aquilo que parece pouco vai se convertendo em uma dívida gigante no cartão de crédito. Quando o sujeito acorda pra situação, já está com o nome no SPC.
O primeiro passo, portanto, é fazer uma tabela. De um lado, uma pergunta: “quanto eu ganho por mês?” E quando eu digo “quanto eu ganho por mês” estou querendo dizer “quanto eu ganho fixo por mês”. Sim, porque grande parte das dívidas vêm de descompassos entre receita e despesas de pessoas que têm renda variável: vendedores, profissionais liberais, freelancers, etc.
Uma vez definido quanto você ganha fixo por mês, do outro lado da tabela coloque suas despesas obrigatórias. E quando eu digo “obrigatórias” são as despesas a representar o mínimo essencial que você não pode se furtar a pagar: moradia (aluguel e/ou condomínio), alimentação, plano de saúde (pra quem tem), energia elétrica, colégio dos filos (pra quem tem) e transporte. Nada além disso.
Somadas umas coisas e outras, veja quanto sobra no final do mês. Se estiver faltando, você tem que pensar em um modo de aumentar sua receita permanente, seja aumentando o seu próprio trabalho ou o do seu companheiro(a), quando houver. Há também a possibilidade de cortar despesas, mas isso é muito difícil de praticar. Cortar na alimentação é cruel demais (salvo os supérfluos), e, em alguns casos, implica riscos que não compensam o sacrifício, como cortar o plano de saúde ou colocar os filhos em uma escola pública.
De todo modo, uma das duas coisas você tem que fazer. Do contrário, não adiantará parcelar dívidas ou negociar com credores. Mais hora, menos hora, lá estará você de volta ao buraco novamente.
Bom, feito isto e verificado que você tem uma pequena sobra no final do mês, é hora de partir para solucionar as dívidas.
Em primeiro lugar, quite as mais caras. Cartões de crédito são os campeões nesse ranking. No geral, os juros do cartão de crédito são tão extorsivos que quando um sujeito chega no nível de inadimplência total, o desconto sugerido para uma quitação à vista é violento. Tipo: uma dívida de R$ 10.000,00 pode ser quitada com R$ 500,00. Para o banco, a diferença é nenhuma. Afinal, sua dívida já foi lançada como prejuízo. Qualquer coisa que vier será lucro. A ordem, portanto, é chorar miséria até não poder mais.
Em segundo lugar, se não tiver dinheiro para quitar as dívidas mais caras, faça um empréstimo de custo menor (consignado, por exemplo), para conseguir quitá-las à vista. Assim, você fica com uma única prestação de custo financeiro mais barato.
Mas atenção: só faça esse empréstimo se o valor da prestação não fizer com que o valor total das suas despesas obrigatórias ultrapasse o das suas receitas fixas. Não vai adiantar nada pagar as outras contas e, daqui a três meses, ver-se encalacrado novamente.
Se isso acontecer, o melhor é esquecer a dívida. Sim, isso mesmo, ESQUECER. Dívidas de cartão de crédito, por exemplo, dificilmente são executadas. Até porque, boa parte das instituições financeiras praticam anatocismo (cobram juros sobre juros) y otras cositas más. Elas sabem que, em um processo judicial, dificilmente conseguirão receber tudo que cobram. O pior que fazem é colocar o nome do pobre coitado no SPC ou no SERASA. Acostume-se a não ter crédito por 5 anos – tempo em que seu nome ficará sujo – e siga em frente.
Em terceiro e último lugar, se você tiver uma prestação de casa ou carro atrasada, tente renegociar com o banco. Embora, nesse caso, eles não ‘esqueçam” a dívida como acontece com o cartão de crédito, para o banco não é vantajoso executar a garantia da dívida. Muitas vezes, o valor do carro ou do imóvel está depreciado e não cobrirá o valor total em aberto. Para a instituição financeira, mais vale negociar a diminuição da prestação e o alongamento do prazo do que partir para um confronto judicial, com todas as despesas que isso implica.
Essas são apenas pequenas dicas. Mas o mais importante é manter os olhos abertos e prestar atenção: sempre que sua conta começar a virar os meses no negativo, comece a se perguntar por que ralo está indo seu dinheiro. Assim como nas doenças, detectar a insolvência no princípio tornará o problema mais fácil de ser resolvido.
Porque, pra quem está devendo, viver deixa de ser um prazer. Torna-se um martírio.