O culto à língua portuguesa bem escrita sempre foi uma constante deste espaço. Em parte, por preciosismo puro do Autor; e em parte, porque este que vos escreve encontra-se cada vez mais convencido de que o nosso velho e bom vernáculo anda carente de gente que lhe dê a devida atenção.
Uma vez que os assuntos dessa seção do Blog acabaram rareando com o tempo, vamos recordar hoje um dos primeiros e mais visitados posts deste espaço.
Porque escrever é preciso…
Escreva melhor, ou Como deixar seu português mais bem escrito
Publicado originalmente em 24.1.11
Um problema recorrente identificado tanto na linguagem escrita como na oral é a dificuldade de muitas pessoas em utilizar corretamente o “melhor” e o “pior”.
Eu sei, eu sei, parece meio estranho sair por aí dizendo mais bem e mais mal. Por isso a insistência em dizer melhor e pior sempre.
Não consigo alcançar a razão desse preconceito. Provavelmente é trauma de 2a. série, quando o professor ficava martelando na nossa cabeça: “Mais bom, não! MELHOR!”
Há algum tempo, por exemplo, Fernando Henrique, em mais uma de suas trapalhadas, resolveu esculhambar o torneiro bissílabo de São Bernardo dizendo o seguinte: “Nós queremos brasileiros melhor educados, e não brasileiros que desprezam a educação, a começar pela própria”.
Qual o problema dessa frase?
Como você deve se lembrar, “melhor” é uma palavra que se destina a substituir a expressão “mais bom”. Do mesmo modo, “pior” serve para substituir “mais mau” (com U).
Em alguns casos, melhor também pode servir para substituir “mais bem”, quando for utilizado como comparativo de superioridade de “bem”. Exemplo: Fulano escreve melhor do que Beltrano. Quando está descansada, ela escreve melhor.
Mas quando há particípios envolvidos, a regra é escrever na forma analítica. Ou seja: mais bem. Por exemplo: esse texto está mais bem escrito do que aquele; o artigo está mais mal formulado do que o outro.
Nesse caso, não há opção. Você deve utilizar mais bem e mais mal. Faça isso sem medo. Esse é o português mais castiço.
Se você tiver dúvida, faça o seguinte: substitua o “melhor” ou o “pior”. Se a troca resultar em mais bom ou mais mau, mantenha do jeito que está. Tipo: eu vou fazer isso porque é melhor pra mim. Se você trocar, ficaria: eu vou fazer isso porque é mais bom pra mim. Chega dói nos ouvidos.
Agora, se houver algo assim: “Seu texto de agora está melhor escrito do que o que você escreveu há dois meses”. Fazendo a troca, ficaria: “Seu texto de agora está mais bem escrito do o que que você escreveu há dois meses”. Veja como o texto fica melhor e mais elegante.
E mais correto também. Para a maioria dos gramáticos, antes de particípio a regra é a utilização da forma analítica. Por isso, a vergonha do Fernando Henrique ao criticar a suposta ignorância alheia demonstrando a sua própria.
Fique atento e não tenha medo de escrever corretamente.
Valeu meu caro Senador. O FHC é um ótimo exemplo de quem se julga saber muito do idioma, mas comete barbarismo( nada contra os bárbaros).