Um dos assuntos pendentes no recesso do Blog diz respeito a uma das categorias mais negligenciadas deste espaço: os esportes. Nesse quesito, sinto que falta compartilhar convosco as minhas impressões e expectativas do que se pode esperar da próxima Copa do Mundo depois que o juiz der o apito inicial no jogo Brasil x Croácia.
Olhando-se em retrospecto, pode-se dizer que o padrão de qualidade dos jogos da Copa do Mundo obedece a ciclos mais ou menos uniformes: a cada três Copas, temos uma com futebol de primeira, uma com futebol de segunda e uma com futebol de várzea. Isso aconteceu, por exemplo, em 1950 (baixo nível técnico), 1954 (qualidade bem mais razoável) e 1958 (qualidade excepcional).
Ocorre, no entanto, que pode haver variações na sequência da qualidade. Por exemplo: 1970 foi das mais fantásticas de todos os tempos. 1974 foi só mais ou menos. E 1978 foi um desastre completo. Esse padrão se repetiu nas três Copas seguintes: 1982 (boa), 1986 (razoável) e 1990 (considerada a pior de todos os tempos).
Depois da infame Copa na Itália, a coisa melhorou um pouquinho na Copa dos Estados Unidos e alcançou um nível inesperadamente grandioso na Copa da França. De fato, boa parte dos comentaristas esportivos e do público em geral ainda não deu ao evento de 1998 o devido crédito, pois nele se viu o futebol mais vistoso em Copas do Mundo desde a inesquecível Copa de 1982.
Depois de 1998, no entanto, o que se assistiu foi uma débâcle generalizada. 2002 foi das mais deprimentes. Não custa lembrar que estivemos a um passo de ter uma final entre Coréia e Turquia. Por sorte da Fifa (e nossa), Brasil e Alemanha passaram à final e deram alguma dignidade ao evento. 2006 seguiu uma linha tosca, superada apenas pela última, na África do Sul. De tão ruim, a Copa de 2010 chegou a ser comparada à de 1990, não havendo ainda consenso sobre qual das duas foi a pior.
Depois de mais de uma década assistindo ao maior evento futebolístico do mundo apresentar uma festival de peladas dignas dos campeonatos de periferia, a maior parte dos analistas espera algo melhor para a Copa do Brasil. Fundamentalmente, as expectativas se assentam na quantidade de craques e à mudança no padrão de jogo imposto pela atual campeã mundial, a Espanha. Sem querer dar uma de chato, acho que está havendo uma sobrevalorização das expectativas.
Em primeiro lugar, a maior parte dos craques esperada para a Copa ou está baqueada (caso de Cristiano Ronaldo) ou em má fase (caso de Messi). Mesmo o nosso maior craque, Neymar, acabou de sair do estaleiro, e não é certo de que consiga render no Mundial o mesmo que rendeu na Copa das Confederações.
Fora isso, poucos países realmente adotaram o estilo espanhol de valorizar a posse de bola e trocar passes curtos para envolver a defesa adversária. Salvo a Alemanha, nenhuma outra seleção segue esse estilo. Mesmo o Brasil, decantado como o mais forte favorito ao título desde a conquista do ano passado, joga em um esquema de blitz, tentando pressionar a saída de bola do adversário para tomá-la mais próxima ao gol. Depois disso, é um esquema baseado na velocidade, sem a famosa troca de passes no meio-de-campo que tanto caracterizou nosso futebol.
Do ponto de vista da qualidade, portanto, não se deve esperar a Copa dos sonhos. Na melhor das hipóteses, teremos algo muito mais parecido com 1994 (que não foi tão ruim com a maioria imagina) do que com 1982 (a segunda melhor de todos os tempos, atrás apenas da Copa de 1970).
Quanto aos candidatos, apesar dos pesares, continuo acreditando no Brasil. Tem um esquema montado, joga em casa e, como todo mundo sabe, é o país mais favorecido pela arbitragem na história das Copas. Numa disputa parelha como promete ser esta Copa, isso tem tudo para fazer a diferença.
Pingback: O balanço esportivo da Copa | Dando a cara a tapa