Há mais ou menos um ano, este que vos escreve resolveu divertir-se com as previsões econômicas para o ano que se encerrou. Dizia eu, então, que uma das coisas mais curiosas do mundo era a credibilidade dada às análises quase astrológicas produzidas pelos “çábios” do mercado. Entra ano, sai ano, os mesmos sujeitos que erram todas as previsões econômicas para o ano continuam produzindo as mesmas projeções furadas.
Que os práticos da quiromancia financeira continuem vendendo seu peixe como se nada tivesse acontecido, coisa é que não admira nem causa consternação. Afinal, assim como o Pai Ambrósio, que joga cartas, biriba e tarô, o sucesso do negócio depende diretamente da capacidade do sujeito de acreditar na própria fantasia. Estranho é imaginar que, depois de tantas comprovações da falsidade das projeções, tanta gente continue ainda emprestando algum grau de confiabilidade aos chutes produzidos pelos “çábios”.
Felizmente, hoje as taxas de juros já não sobem e descem conforme a mudança na vírgula que os “jênios” produzem com seus chutes. O Banco Central – com algum atraso, é verdade – há tempos caiu em si e resolveu dar ao tal “Boletim Focus” o valor que ele realmente tem: nenhum.
Ano passado, por exemplo, apenas pelo tão-só espírito de emulação, resolvi entrar na onda do trambique profissional e dar minhas cacetadas quanto às projeções para os principais indicadores econômicos.. Em um post sobre as previsões econômicas de 2013, coloquei lado a lado a minha precisão futuróloga e as “expectativas” dos tais “analistas de mercado”. Eis o que se projetava:
“1 – Inflação:
– Focus: 5,49%.
– Blog: 6,5% (podendo estourar a meta).
2 – Dólar:
– Focus: R$ 2,08.
– Blog: R$ 2,20 (podendo chegar a R$ 2,25)
3 – PIB:
– Focus: 3,26%.
– Blog: 2,3% (podendo chegar a 2%)”.
Vamos, então, à prova dos nove: qual chute foi mais apurado? O do “Mercado? Ou o deste que vos escreve?
No primeiro item, ainda não se tem os números exatos, pois a inflação de dezembro ainda não foi divulgada. No entanto, pelas projeções mais precisas, espera-se que o ano de 2013 tenha encerrado com um índice ao redor de 5,8%. Nesse caso, pela margem de erro, ponto para os “cábios”, que erraram por apenas 0,3%. Tudo bem que o represamento dos reajustes dos preços administrados acabou resultando numa manipulação indireta da inflação anual, pois, se os reajustes tivessem observado o que estava pactuado, a inflação de 2013 não terminaria abaixo de 6,8% (o que confirmaria o estouro da meta previsto pelo Blog). Mesmo assim, como reajuste abortado não implica reajuste real, 1×0 para o mercado.
No segundo item, o jogo empata. Afinal, hoje é quase ridículo pensar em um dólar a R$ 2,08. No ano, terminou em R$ 2,35. Embora alguém venha a dizer que os R$ 0,10 podem tirar a previsão da margem de erro, em junho escrevi outro post reajustando minha previsão, quando os “jênios” ainda defendiam um dólar a R$ 2,10 no final do ano. 1×1 no cômputo geral.
No terceiro item, para encerrar com chave de ouro o embate épico entre a chutometria avançada e a cara-de-pau sem tamanho de um mero curioso de economia, o Blog deu um baile. Embora os números do PIB só sejam divulgados em março, o mais provável é que 2013 tenha terminado com um crescimento na exata medida do que foi previsto aqui: 2,3%. Se não isso, algo pouco abaixo disso, o que estaria também dentro da margem de erro estabelecida na previsão. 2×1 é o placar final.
O que isso mostra?
Nada. Apenas que ninguém deve planejar sua vida econômica com base nas projeções dos “çábios” do mercado. Se for para dar dinheiro e ser enrolado com quiromancia barata, melhor pagar a uma cartomante, que pelo menos exerce o trambique de forma profissional e com maior desenvoltura e propriedade do que os “jênios” financeiros.
Para manter a tradição neste ano que se inicia, vamos novamente confrontar as previsões do primeiro Boletim Focus deste ano e os pitacos deste que vos escreve. Só que, dessa vez, vou ampliar o confronto com mais dois parâmetros: saldo da balança comercial e taxa de juros no final do ano.
1 – Inflação:
– Focus: 5,97%.
– Blog: 6,4% (podendo estourar a meta, se os preços administrados não forem novamente represados).
2 – Dólar:
– Focus: R$ 2,45.
– Blog: R$ 2,70 (podendo chegar a R$ 2,80)
3 – PIB:
– Focus: 1,95%.
– Blog: 1,5%.
4 – Saldo da balança comercial:
– Focus: US$ 8 bilhões.
– Blog: US$ 12 bilhões.
5 – Taxa de juros ao final do ano:
– Focus: 10,5%
– Blog: 11%
Em 2015, veremos se a regulagem do meu chute continua tão apurada como esteve em 2013. Quem viver, verá.
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