Graças a Darwin, por André Averburg

Ontem, no post “Por que a religião é tão importante?”, um ilustre visitante – André Averburg – deixou sua contribuição na parte dos comentários, sugerindo a visita ao seu blog para ler um texto correlato ao que fora aqui escrito. Trata-se de um artigo sobre Darwin e sua famosa Teoria da Evolução.

De certa maneira, apresenta-se nesse texto um ponto de vista diferente do que foi exposto pelo Autor. Visto que uma das diretrizes deste espaço é primar pelo contraditório, oferecendo ao leitor a oportunidade de confrontar idéias para chegar por si a uma conclusão, com muito gosto transcrevo o artigo de André Averburg.

Assim como este que vos escreve, André é responsável por um blog multi-temático (O Meio e o Si). Para quem quiser visitá-lo, aqui vai o link. Com a experiência de quem já gastou um bom naco do seu tempo lendo os artigos que ele escreveu, posso dizer: vale a pena.

Graças a Darwin

darwin

A teoria da evolução das espécies por seleção natural, desenvolvida por Charles Darwin no final do século XIX, é provavelmente a descoberta mais genial e importante da história moderna. Genial pela simplicidade e intuição. Importante porque nos possibilitou entender melhor o mundo no qual vivemos, oferecendo também argumentos contra antigas afirmações infundadas sobre a natureza e nosso meio. Mas além de nos ensinar sobre a origem e mutação das espécies, o Darwinismo oferece ensinamentos fundamentais sobre o comportamento humano. Alguns exemplos são particularmente interessantes e até curiosos.

Por exemplo, por que a grande maioria das pessoas gosta tanto de comidas gordurosas, como chocolate, carne vermelha ou pizza? Há milhares de anos, quando nossos ancestrais ainda viviam apenas da caça e coleta de frutos silvestres, era comum que ingerissem calorias de forma errática. A vida era dura e as pessoas passavam dias a fio comendo frutas e outros “petiscos selvagens” de baixa caloria, até que um grande animal finalmente fosse caçado. Portanto, gradualmente, o corpo humano evoluiu de forma a que os que tinham mais aptidão e gosto para acumular gordura tornaram-se mais bem capacitados a sobreviver e passar seus genes adiante. Trata-se de um instinto de sobrevivência que reside em nós desde quando éramos nômades.

O Darwinismo também oferece explicações no campo do sexo e dos relacionamentos. Relações sexuais são prazerosas porque ao longo do tempo aqueles que mais gostavam e buscavam se reproduzir foram sobrevivendo e procriando. Ademais, o que chamamos de “química” entre duas pessoas, sentida através do olfato, paladar, tato e até olhar, são instintos desenvolvidos gradualmente ao longo de milênios para encontrarmos pares que nos complementem geneticamente e proporcionem a melhor prole. Até questões mais inusitadas podem (ao menos tentativamente) ser respondidas sob a ótica darwinista, por exemplo: por que homens tendem a achar mulheres de salto alto atraentes? O cientista Carl Sagan ofereceu uma resposta curiosa: no subconsciente masculino, mulheres de salto têm mais dificuldade de fugir de seu assédio, tornando-se “vítimas” mais fáceis. Animal!

Até a propagação da religião pode em parte ser explicada através da seleção natural. Segundo o evolucionista Richard Dawkins, para explicar o fenômeno religioso devemos ir além das explicações usuais (apesar de válidas) como a necessidade de as pessoas “encontrarem repostas” ou “apoiarem-se emocionalmente”. Parte da resposta está no comportamento evolutivo das crianças. A explicação seria que, ao longo dos anos, as crianças que mais obedeciam aos pais foram as que melhor se adaptaram ao meio e sobreviveram aos riscos que a vida proporciona. Por exemplo, imagine dois meninos há dez mil anos atrás brincando em frente a um ninho de cobras. Ambos escutaram a mesma informação dos pais: “não toque no ninho!”. No entanto, um é curioso demais e se arrisca; o outro, apesar da curiosidade, obedece aos pais sem contestar. Bom, é óbvio o que acontece com o primeiro e quem sobrou para contar a estória. Da mesma forma, a religião, assim como outras normas impostas pelos mais velhos, se prolifera de geração em geração justamente no momento de nossas vidas quando somos mais vulneráveis e menos contestadores. Mais tarde, na vida adulta, ela já é parte tão forte do indivíduo que mesmo os mais racionais têm dificuldade em romper com a ordem.

Graças a Darwin, temos hoje a capacidade de entender melhor nosso meio e a si próprios. Se todo indivíduo somasse a esses ensinamentos a ética e a compaixão, teríamos um mundo melhor, menos apoiado em superstições e menos sujeito a extremismos.

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