Outro dia, fuçando na net, acabei me deparando com links para vídeos no Youtube de um programa interessantíssimo. Chama-se Inteligência ao quadrado, e é produzido por uma televisão americana. O formato é bem atraente: um moderador entre duas bancadas, cada uma formada por dois cientistas. Entre eles, um debate sobre uma pergunta fundamental: “A Ciência refuta Deus?”
O tema já foi abordado lateralmente em um dos primeiros posts deste espaço. Critiquei, então, o entendimento segundo o qual o criacionismo é algo de carolas tapados, enquanto a iluminação estaria somente do lado dos darwinistas. Longe de querer estabelecer quem tem razão em qualquer dos lados, na verdade pretendi o inverso: provar que uma coisa não exclui necessariamente a outra.
Nesse debate, com muito mais profundidade do que este que vos escreve seria capaz de dissertar, os quatro participantes – Lawrence Krauss, Michael Shermer, Dinesh D’Souza e Ian Hutchington – digladiam-se acerca da proposição “A Ciência refuta Deus?” Não vou antecipar-vos o resultado do debate, mas vou apenas pontuar alguns dos principais pontos levantados por um lado e por outro.
Do lado a favor da resposta posivita à questão, Lawrence Krauss argumenta que, desde Darwin, Deus perdeu o monopólio da criação da vida, pois esta seria gerada a partir de mutações e recombinações genéticas, entre as quais as mais aptas a sobreviver seriam escolhidas a partir de uma lei universal conhecida por “Seleção Natural”. Restar-lhe-ia, somente, a criação do Universo, pois seria irracional admitir um Universo criado a partir do nada. No entanto, segundo ele, a Ciência estaria prestes a demonstrar que tudo aquilo que está ao nosso redor poderia ser criado a partir do nada. Aliás, esse é o nome de seu livro: Um Universo a partir do nada.
Na mesma linha, Michael Shermer explica como seríamos fruto de um processo de seleção natural no qual os indivíduos mais propensos a cair em erros do tipo “falso-positivo” seriam mais aptos a sobreviver. Em um exemplo curioso, Shermer explica como um homem das cavernas, ao ouvir um som por detrás dos arbustos, imagina que aquilo pode ser um predador ou só o vento que mexeu as folhas. Se o sujeito esperar muito, pode ocorrer uma de duas coisas: pode efetivamente ser só o vento; ou pode ser um predador e, nesse caso, ele se torna o almoço. Na dúvida, é melhor se afastar, pensando que é uma fera, do que esperar pra ver se foi só o vento. Daí a explicação para a origem da necessidade de nosso cérebro de tomar decisões rápidas sem a quantidade suficiente de evidências para tomar uma decisão perfeitamente correta.
Na outra bancada, Ian Hutchington, lembrando muito a pregação de um pastor, recorda que Newton, Pascal, Boyle, Dalton, Faraday, entre outros, eram todos cristãos, e acreditavam na existência de um ser supremo, a despeito de sua inegável condição de grandes cientistas. Além disso, a Ciência depende de um universo nos quais as leis naturais sejam constantes e insuceptíveis de violação. A existência de fenômenos que violam as leis da física – como os momentos iniciais do Big Bang – lançam por terra a pretensa universalidade da Ciência, ao mesmo tempo em que tornam racional a crença em um ser capaz de “dobrar” essas mesmas leis quando achar necessário.
Dinesh D’Souza vai à raiz do problema, ao questionar a inexistência de respostas científicas para três perguntas fundamentais: “Por que há um Universo?” “Por que estamos aqui?” “O que acontecerá depois que morrermos?” Considerando que a Ciência limita-se a explicar a Natureza e suas leis, perguntas acerca de intenções e propósitos não podem ser respondidas por ela, porque simplesmente ela só descreve os acontecimentos naturais e os replica em laboratório. Mais do que isso, todas as leis do Universo parecem estar numa “fina sintonia”. É dizer: se qualquer dos parâmetros existentes no Universo fosse minimamente diferente do que é, as galáxias, as estrelas, os planetas, a própria vida seria impossível. E não seria racional admitir que essa sintonia fina das leis universais fosse obra simplesmente do acaso.
Até pelo background científico dos debatedores, o debate fica muito centrado em questões físicas acerca da formação do Universo. Outras questões científicas igualmente relevantes acabaram passando ao largo dele. Por exemplo:
1 – Como explicar que o Universo surgiu do nada sem violar o princípio da conservação das massas de Lavoisier, segundo o qual “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”?
2 – A teoria da evolução explica de forma relativamente satisfatória a transição entre formas de vida – mais aptos substituindo menos aptos -, mas como explicar a criação de espécies “do nada”, sem a prévia existência de uma variação anterior dessa mesma espécie? Ou, mais sinteticamente, como explicar a Explosão Cambriana?
3 – Mais relevante: como explicar o surgimento da própria vida? Sabe-se que ela deriva fundamentalmente da “mixagem” de DNA. Mas ninguém sabe de onde o DNA surgiu. Argumenta-se que ele pode ter surgido de uma conjunção aleatória de proteínas. Cálculos probabilísticos indicam que a chance de isso ocorrer seria de 1 dividido por 1 seguido de 130 zeros. É racional acreditar que um acaso tão estatisticamente improvável tenha dado origem à vida?
Não vou adiantar mais detalhes do debate. Deixarei apenas essas perguntas no ar e, cada um com suas crenças, que faça seu próprio julgamento acerca do que é crível e do que não é crível.
Para quem quiser assistir ao programa, aqui vai o link para o primeiro dos vídeos: