Hoje, saiu a notícia de que o Banco Central Europeu abriu as burras e resolveu emprestar EU$ 500 bilhões aos bancos da eurozona. Com isso, fica provada a tese de Josias de Souza: é errando que se aprende…a errar.
Há umas duas semanas consegui assistir ao filme Too big to fail, por sugestão da amiga Kellyne. Se os comandantes da eurozona também o tivessem assistido, provavelmente os erros cometidos pelos americanos não estariam sendo repetidos agora.
Em resumo, a situação é a seguinte:
Nações endividadas (Itália, Grécia, Espanha, Portugal e etc.) não conseguem mais obter crédito para rolar suas dívidas. O caso fica mais dramático porque todas são deficitárias, isto é, gastam mais do que arrecadam. Logo, se não tiverem acesso ao crédito, simplesmente não terão dinheiro para tocar o dia-a-dia do governo.
Há mais de 10 anos, os bancos europeus, principalmente os alemães e os franceses, financiaram indiscriminadamente a farra fiscal desses países. Quando o euro veio ao mundo, países não muito distantes em desenvolvimento dos países chamados “emergentes” subitamente se viram catapultados às condições de crédito de nações como França e Alemanha, ricas, prósperas e já desenvolvidas. Agora, a farra está cobrando a conta.
A maior parte dos economistas – Delfim Netto inclusive – defende que o Banco Central Europeu compre títulos das nações endividadas, pra permitir que tomem fôlego até conseguirem consertar suas contas cortando despesas do Estado. A Alemanha que, sozinha, manda mais que todos os outros países europeus juntos, bateu o pé e disse que isso não pode acontecer. É o tal do moral hazard, ou, em vernáculo, o risco moral. Emprestar aos países endividas significaria “premiar” as nações irresponsáveis.
Curiosamente, a mesma nação que impede o empréstimo aos países europeus aquiesce com o feito aos bancos europeus. Quer dizer: ao invés de emprestar diretamente aos países, empresta aos bancos para que eles emprestem aos países.
No filme Too big to fail, depois de muitas idas e vindas, concorda-se que a melhor solução será injetar uma quantidade astronômica de dinheiros nos bancos americanos. Com isso, esperava-se que eles voltassem a emprestar ao consumidor. Com dinheiro no bolso, o povo voltaria a comprar. Comprando, reativaria a economia, fazendo a economia crescer, única maneira de sair de uma crise fiscal braba.
O problema é que não combinaram com os russos. Ao receber o dinheiro, os bancos investiram em títulos do governo americano e de países emergentes. Emprestar ao consumidor, que era bom, nem pensar. Por isso, os lucros dos bancos nos anos seguintes foram fabulosos, mas os EUA continuaram em recessão.
Agora, reprisa-se o mesmo filme na Europa. Com a desvantagem de que o leme está sendo comandado pela míope Angela Merkel. Quem pensa que ela está preocupada com a Europa ou com o euro, engana-se. Na verdade, sua única preocupação é salvar os bancos alemães, encalacrados até o pescoço com os títulos das nações quebradas.
Pode ser que o empréstimo de hoje alivie os “mercados” por algum tempo. Mas não passará disso. Daqui a pouco, a lenta agonia a conduzir a europa rumo ao caos retornará com toda a força. Espera-se apenas que a débâcle não sirva de pretexto para o retorno da direita racista e xenofobista de parte da Europa. Seria o fim de uma idéia que permitiu à Europa passar o maior período de sua história em paz, sem conflitos relevantes entre as nações.
Previsões sombrias, meu amigo! Tomara que seu espírito de pai Dinah continue adormecido… bjos
Nem tanto, minha cara. Outro dia o Krugman escreveu uma coluna com o mesmo receio. Vamos torcer para que o pior não aconteça. Beijos.
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