Depois da anexação da Áustria (Anchluss, em 1038), Hitler convenceu-se cada vez mais que as potências ocidentais não teriam cojones para fazer-lhe frente. De todo modo, ele estava decidido a não repetir os erros de estratégia que levaram a Alemanha a perder a I Guerra Mundial. E a primeira coisa a fazer era garantir que não haveria uma guerra em duas frentes. Para isso, produziu uma das mais esdrúxulas e inesperadas alianças da história: o Pacto Molotov-Ribbentrop, ou simplesmente Pacto Germano-Soviético.
“Por que esdrúxula?”
Bem, Hitler subiu na vida porque, entre outras coisas, fazia propaganda radical contra o comunismo. Não custa lembrar que a radicalização do nacional-socialismo teve como pretexto o incêndio do Reichstag, atribuído aos comunistas. Foi esse o estopim que precipitou a Alemanha num caminho sem volta de centralização do poder em torno do Der Füher. Portanto, a última coisa que se poderia imaginar era Hitler aliando-se ao inimigo que lhe serviu de escada para ascender ao poder.
Deve-se dizer, também, que a ascensão de Hitler foi vista com simpatia por boa parte da direita européia e americana. Para eles, Hitler era um anteparo eficaz contra a possível cooptação da Alemanha pela “ameaça vermelha”. Além disso, pela posição geográfica, no centro da Europa, a Alemanha anti-comunista serviria como escudo contra eventuais desejos expasionistas do gigante vermelho. Para boa parte dos políticos da época, Hitler era um mal menor frente à União Soviética. Desnecessário dizer o quanto estavam errados nessa avaliação.
Mas, ao contrário da imagem de louco insandecido que se propagou no pós-guerra, Hitler estava muito longe de ser tapado ou desorientado. Mandou seu ministro das relações exteriores, Joachim Ribbentrop, ter com o seu correspondente soviético, Vyacheslav Molotov (o mesmo que deu nome ao coquetel). Arquitetaram um segredo um pacto de não-agressão, segundo o qual, além de não se atacarem, repartiriam ainda a Polônia, no meio caminho entre os dois.
Para Stalin, o acordo fazia sentido. Afinal, tendo ganhado a disputa interna contra Trotsky, seu desejo era voltar-se para o próprio umbigo, e não espalhar a revolução comunista pelo mundo. Além disso, Stalin temia que aos potências ocidentais, apoiando-se no anti-comunismo dos nazistas, incentivassem uma invasão da URSS pela Alemanha, desviando a atenção da França e do resto da Europa Ocidental. Ademais, o acordo garantia umas terrinhas a mais para a União Soviética, como metade da Polônia e o apoio alemão para a anexação da Estônia e da Letônia.
Para Hitler, o acordo fazia todo o sentido. Primeiro, anexaria mais terreno ao seu desejo de expansão territorial. Segundo, manteria os soviéticos nas suas fronteiras, impedindo – pelo menos enquanto fosse conveniente aos alemães – que entrassem na guerra e obrigassem a Alemanha a uma guerra em duas frentes. Por último, pensando mais adiante, eliminava qualquer barreira territorial entre a Alemanha e a URSS, facilitando uma futura invasão do território soviético, que compunha a base do chamado “espaço vital alemão”: área rica em petróleo terras férteis e matérias-primas necessárias ao desenvolvimento industrial dos tedescos.
Mantido inicialmente em segredo, o Pacto Germano-Soviético pegou os aliados de surpresa. Pensando que os temores recíprocos entre Alemanha e URSS anulariam mutuamente qualquer ímpeto expansionita, na verdade viram dois gigantes se unindo e representando, a um só tempo, a ameaça de uma grande onda de devastação no leste da Europa.
Como disse Eric Hobbsbawn em sua Era dos Extremos, na assinatura desse pacto Hitler teve seu momento de Bismarck. Para sorte dos aliados, os momentos de brilhantismo foram ofuscados pelos erros subseqüentes, mas isso é outra história.
A verdade é que ninguém no lado ocidental imaginara algo semelhante. Como sempre, as previsões dos políticos e dos militares da época baseavam-se na guerra passada. Erro que custaria caro, muito caro, às potências ocidentais.