Os perigos do acidente vascular cerebral

Não sei se foi por conta de ser vascaíno ou se foi em razão dos problemas médicos familiares recentes, o fato é que esse AVC do Ricardo Gomes realmente mexeu comigo. E hoje, não por acaso, saiu uma reportagem no Jornal O Povo dizendo que o AVC causa mais mortes do que os assassinatos e os tão temidos infartos do miocárdio.

De maneira a tentar ajudar todo mundo que freqüenta este espaço, vou alinhavar algumas coisas que aprendi sobre acidentes vasculares cerebrais nesses últimos dois meses de estudo intensivo de medicina.

O acidente vascular cerebral é uma manifestação súbita de insuficiência de circulação sangüínea no cérebro. Há dois tipos de AVC: isquêmico e hemorrágio.

No AVC isquêmico, ocorre a obstrução de algum vaso cerebral, seja por conta de um trauma (queda, pancada), trombose (formação de coágulos no sangue), arterioesclerose, etc. Em termos bem rasos, é como se fosse um “infarto” no cérebro. Há a obstrução do vaso e, por conta disso, a irrigação dos neurônios na área afetada fica prejudicada. Sem oxigêncio e nutrientes, os neurônios morrem. E o que é pior: eles não se regeneram.

No AVC hemorrágico, há o rompimento de um vaso cerebral. Ele é causado por estouro de aneurismas, coágulos ou por lesão do vaso. Além do problema da falta de irrigação das células, o sangue na cabeça aumenta a pressão intracraniana, o que pode ocasionar a morte boa parte do tecido cerebral. Pra piorar, as células neurais são muito sensíveis ao sangue e sofrem um processo de irritação ou inflamação ao serem “banhadas” por ele. Daí a necessidade de operação imediata para drenar o sangue da cabeça.

Em caso de AVC, o risco de seqüelas (perda das funções motora, cognitiva, etc.) é maior se o lado esquerdo do cérebro for atingido. Por incrível que pareça, ele concentra quase 80% das funções cerebrais. Se o lado afetado for o lado direito, o risco de seqüelas é menor, dado que ele responde apenas por 1/5 da atividade cerebral.

Em termos de fatores de riscos, o AVC possui mais ou menos os mesmos do infarto: tabagismo, sedentarismo, pressão alta, colesterol elevado, diabetes, histórico familiar negativo, todos esses são fatores que aumentam a possibilidade de se ter um AVC.

Como o cérebro é uma área muito sensível e os riscos de uma lesão nessa área são enormes, é fundamental diagnosticar rapidamente. Normalmente, problemas de fala, dificuldades de locomoção, “travamento” do rosto, paralisação de um dos lados do corpo, todos esses são sintomas clássicos de AVC. Se alguém apresentar qualquer deles, deve ser levado imediamente para uma emergência médica.

Chegando ao hospital, normalmente será feita uma tomografia computadorizada. Primeiro, porque é mais rápida. Segundo, porque é mais barato. Ela permite saber se o caso é mesmo de AVC. No entanto, após a estabilização do quadro, exija dos médicos a realização de uma ressonância magnética. Com ela, é possível identificar com precisão as áreas do cérebro afetuadas pelo acidente. Médicos de plano de saúde normalmente não gostam de pedi-la porque é muito mais cara do que a tomografia computadorizada. Justamente por isso, também é difícil encontrar clínicas que tenham o equipamento. Por isso, procure saber se o hospital a tem ou, se não tiver, onde existe na cidade um equipamento apto a realizar o exame.

Em termos de prevenção, um exame muito bom é a angiotomografia cerebral. Injeta-se um líquido no sangue e, ao passar pela máquina, obtém-se um “raio X” do sistema vascular cerebral. É possível saber se há obstruções, coágulos, aneurismas, processos de arterioesclerose, etc. Se o sujeito sentir tonturas, mal estar, dor de cabeça ou qualquer dos sintomas acima, recomenda-se fazer um exame como esse a fim de prevenir problemas maiores no futuro. Antecipar-se ao AVC pode ser decisivo para uma vida saudável.

Depois do AVC, todo cuidado é pouco. Das pessoas que sofrem um AVC, 25% voltam a ter outro incidente no prazo de 5 anos. Portanto, os exames e o acompanhamento por um médico devem ser freqüentes e rigorosos.

No mais, fica a recomendação de sempre: faça exercícios, coma alimentos saudáveis, não fume, evite o excesso de álcool, coma menos sal. Pequenas coisas, mas que podem fazer a diferença entre um envelhecimento saudável ou com seqüelas causadas por um acidente vascular cerebral.

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