O tempo em que as músicas tinham letra

Pode parecer saudosismo, mas, de uns tempos pra cá, parece que a qualidade do conteúdo musical tem despencado ladeira abaixo. Não que algumas décadas atrás não se produzisse porcaria, também. Taí a seção “Despontando para o anonimato” para provar. Mas, de certo modo, a música em geral tem sofrido bastante pela falta de talento das novas gerações.

Parafraseando o Piquet, a tecnologia “perdoa” muito os músicos de hoje em dia. Como a maior parte da música deriva da parafernália eletrônica que a envolve, dá-se mais valor ao arranjo (isto é, à montagem da canção com diversos instrumentos e efeitos sonoros) do que à letra propriamente dita. Com isso, as músicas ficaram vazias. Até mesmo as legais você ouve, curte, mas não consegue extrair qualquer mensagem que possa servir pra vida.

Nesse aspecto, se há um cara que é insuperável, ele se chama Elton John. Eu sei, eu sei, o sujeito é escandaloso, espalhafatoso, cheio de cri-cri. No entanto, quando o assunto é qualidade de letra, não tem pra ninguém: ele é o cara.

Ele mesmo sabia disso. Aproveitando-se do próprio chamariz de sua reputação de cantor com letras profundas, Elton John escreveu uma belíssima música autoexplicativa: Sad songs(say so much). Na letra, Elton John praticamente ensina como produzir músicas como ele:

Guess there are times when we all need to share a little pain

(Acho que há momentos em que nós todos precisamos compartilhar um pouco de dor)

E, mais na frente, ele diz:

And it´s times like these when we all need to hear the radio

( E é em tempos assim quando nós precisamos ouvior o rádio)

Cause from the lips of some old singer we can share the troubles we already know

(Porque dos lábios de algum velho cantor nós podemos partilhar problemas que já conhecemos)

No refrão, o “conselho”, quase uma autopropaganda:

Turn them on, turn them on, turn on those sad songs

(Sintonize-as, sintonize-as, sintonize nessas canções tristes)

When all hope is gone, why don´t you tune and turn them on?

(Quando toda esperança se for, por que você não as sintoniza e as escuta?)

Outra canção, essa verdadeiramente antiga, um dos primeiros sucessos de Elton John, constantemente é negligenciada por boa parte do público. Skyline Pingeon dificilmente toca nas rádios, a não ser nos programas de revival. Talvez porque ninguém pare pra pensar na beleza de sua letra. Ela começa com um pedido singelo:

Turn me loose from your hands, let me fly to distant lands

(Liberte-me de suas mãos, deixe-me voar para terras distantes)

Elton John explica o sofrimento do “passarinho na gaiola”:

For this dark and lonely room reflects a shadow cast in gloom

(Pois esse quarto escurto e solitário reflete uma sombra envolvida em tristeza)

And my eyes are mirrors of the world outside

(E os meus olhos são espelhos do mundo lá fora)

Muitas outras músicas de Elton John fizeram sucesso. Algumas, belíssimas, foram escritas em forma de despedida, como Daniel, para o seu irmão morto; Empty Garden, para John Lennon; e, é claro, Candle in the Wind, escrita originalmente para Norma Jean (Marylyn Monroe) e posteriormente adaptada para o funeral de sua amiga, Diana Spencer, vulgo Lady Di.

Uma de minhas favoritas é talvez a mais existencialista delas. Don´t let the sun go down on me traz um dos pedidos de reconciliação mais lindos que já se escreveu. O sujeito ajudou a garota, que depois o abandonou. Perdê-la, pra ele, é como perder tudo. Na letra, Elton John diz:

It’s just too late to save myself from falling. I took a chance and changed your way of life

(É muito tarde para salvar-me da queda. Eu aproveite a chance e mudei seu jeito de viver)

But you misread my meaning when I met you. Closed the door and left me blind by the light

(Mas você me entendeu mal quando eu te encontrei. Fechou a porta e deixou-me cego pela luz)

Por isso, o sujeito implora:

Don’t let the sun go down on me, although I search myself, it’s always someone else I see

(Não deixe que o sol se ponha em mim, embora eu procure a mim mesmo, é sempre outra pessoa que eu encontro)

I’ve just allowed a fragment of your life to wander free

(Eu apenas permiti que um fragmento de sua vida vagueasse livre)

But losing everything is like the sun going down on me

(Mas perder tudo é como se o sol se pusesse em mim)

Abaixo, o vídeo ao vivo dele cantando com seu caso de então, George Michael. Para ver, ouvir, e lembrar com saudade dos tempos em que as músicas tinham letra:

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