O que aconteceu hoje no Rio de Janeiro é o retrato mais bem acabado dos males que a extrema-direita representa para o país. Numa operação verdadeiramente Tabajara, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, resolveu mandar a polícia a campo para prender integrantes do Comando Vermelho. Sem qualquer espécie de planejamento maior, os representantes das forças do Estado foram às ruas como um Exército que se dirige a uma luta campal. Até o momento, o saldo é de 8o suspeitos presos e 64 mortos, sendo quatro destes policiais que participavam da operação.
Uma simples comparação com outra operação recente contra o crime organizado é capaz de dimensionar o tamanho do desastre. Na “Carbono Oculto”, seis pessoas foram presas e mais de 350 foram alvos do inquérito. Utilizando-se de inteligência e estratégia, os promotores e a polícia conseguiram desvendar uma rede que teria lavado nada menos do que R$ 46 bilhões, através de um intricando esquema com fundos da famosa Faria Lima (que adora gritar contra a corrupção dos outros). Nenhum morto. Nenhum ferido.
Sopesando a operação de agora com a Carbono Oculto, o leitor amigo poderá concluir: qual das duas causou mais dano ao crime organizado? A que prendeu 80 e matou 60 soldados do crime? Ou a que estourou a boca da lavagem de dinheiro?
Embora Cláudio Castro não seja ele próprio um extremista, é certo que bajula a extrema-direita bolsonarista visando a um cargo no Senado Federal nas próximas eleições. Sem ter o que apresentar para a população e tendo de brigar pela única vaga da direita restante (a outra está reservada ao 01 do clã Bolsonaro, Flávio), Cláudio Castro deve ter pensado que sair pro pau com o crime organizado poderia lhe render votos no ano que vem. Se a idéia era essa, é bem possível que o tiro tenha saído pela culatra.
O exemplo da guerra campal aberta contra a bandidagem no Rio de Janeiro é emblemático do modus operandi da extrema-direita brasileira. Como sua, digamos, “atividade política” é restrita à tática do “causar”, o grosso do que essa galera faz é simplesmente produzir vídeos em série para “lacrar” nas redes sociais. Olhando-se a fundo, não existe um só caso de parlamentar da extrema-direita que tenha produzido algo efetivamente relevante para a população que o elegeu.
Peguemos os casos de Carlos e Eduardo Bolsonaro, por exemplo. Tendo começado a vida parlamentar praticamente adolescentes, os hoje marmanjos Carluxo e Dudu Bananinha apresentaram e conseguiram aprovar um total de zero – isso mesmo: ZERO – proposições legislativas que tenham trazido algum impacto positivo para o povo. Entre tweets ininteligíveis, escritos numa língua que se aproxima muito do português, e conspirações contra a própria pátria, nem o filho 02 nem o filho 03 aprovaram qualquer coisa em benefício da população. Considere-se, entretanto, que estão apenas a seguir o exemplo do pai, Jair, que, ao longo de quase 30 anos friccionando a região escrotal, tampouco aprovou ou propôs qualquer coisa digna de nota na Câmara dos Deputados.
Essa característica é tão forte que mesmo a “nova geração” da extrema-direita segue na mesma toada. Nikolas Ferreira e André Fernandes, duas figurinhas carimbadas dos vídeos desinformativos do TikTok, vão completar um quadriênio só na base do dedo no c* e gritaria. Nada, absolutamente nada do que eles fizeram durante seus mandatos reverteu em algum benefício concreto para a população brasileira.
Como o caso das tarifas sobre os produtos brasileiros está a ensinar, essa tática ridícula encontra um limite na realidade. Bananinha pode vociferar à vontade contra Lula e inventar um “Xadrez 52-D”, no qual Donald Trump estaria apenas produzindo uma “armadilha genial” contra o babalorixá petista, mas o fato incontornável é que, desde que se autoexilou nos Estados Unidos, ele não tirou sequer uma foto sendo recebido pelo Laranjão. Lula, ao contrário, tem uma.
Ainda haverá quem siga acreditando nas baboseiras e invencionices dessa malta escroque. Como nunca há nada de concreto a apresentar, a extrema-direita se sustenta numa eterna expectativa hypeada do porvir. Todavia, o número de crédulos nessa bizarra fantasia é cada vez menor. Mesmo para quem odeia a esquerda até a medula é difícil se manter no looping infinito “aguarde 72h – nada acontece – aguarde mais 72h”.
Nessa quadra, a única pergunta que resta é:
Até quando o povo vai se deixar enganar pela extrema-direita?