O assédio militar dos Estados Unidos à Venezuela, ou Normalizamos o arbítrio?

Já virou notícia velha, daquelas que a gente ouve, nem presta atenção direito e já emenda para alguma novidade mais “relevante”: o bombardeio realizado pelos Estados Unidos a embarcações venezuelanas. Sem nenhum processo, nenhuma evidência, sem nem sequer se preocuparem em dizer pelo menos quem são as pessoas que estão morrendo, os Estados Unidos estão assassinando – o verbo é rigorosamente esse – supostos narcotraficantes através de bombardeios indiscriminados a barcos que navegam pelo Caribe.

São tantos absurdos no mundo de hoje que é às vezes é difícil para pensar e refletir sobre certas atrocidades. Em um mundo no qual as drogas desempenham o papel de deletério de serem causa e consequência de boa parte da violência que vivemos, ninguém liga muito se morre mais um bandido. No limite, dane-se o traficante.

Mas quem garante que as pessoas que estão sendo assassinadas são de fato traficantes? Quem assegura que os barcos que estão sendo explodidos a esmo no mar do Caribe estão carregando de fato drogas ilícitas? E mais: quem outorgou ao Laranjão o poder de ser, a um só tempo, juiz e executor dos narcotraficantes que utilizam a via marítima? A menos que a consciência mundial dos seres humanos tenha descido a níveis tribais, ninguém pode admitir que um país estrangeiro venha a matar seus concidadãos sem oferecer uma única prova e sem respeito ao mínimo processo legal, unicamente com base no pressuposto de que la garantía soy yo.

A Convenção das Nações Unidades sobre o Direito do Mar, algo como “a constituição dos oceanos”, estabelece regras claras para esse tipo de caso. Na hipótese de tráfico internacional de entorpecentes, as normas convencionais exigem que o navio suspeito deve ser apreendido, para que a tripulação possa ser levada a julgamento. Se de fato houver transporte de drogas ilícitas, a carga apreendida deve ser utilizada como prova para a condenação. Quando se bombardeia navios aleatoriamente, do alto, com câmeras desfocadas, ainda mais quando eles não podem sequer oferecer resistência, bombardeia-se também a linha que separa o Direito da barbárie.

A extensão dessa ação criminosa para o Pacífico representa uma escalada aberta das pretensões imperiais do Nero dos nossos tempos. As ações são tomadas de forma unilateral, sem qualquer critério de transparência ou accountability. A mensagem é clara: para os Estados Unidos, não existem limites. A lógica é a do “faço porque posso, e ninguém tem força para me impedir”.

No fundo, tudo isso não passa de sanguinolento teatro geopolítico. Os bombardeios servem ao propósito nem um pouco velado de assediar militarmente a Venezuela, de modo a impor a queda de Nicolas Maduro e, consequentemente, uma mudança de regime no país caribenho. Enquanto a comunidade internacional assistir a tudo em silêncio, o Laranjão prosseguirá com sua ação ilegal. Até isso acontecer, vamos ficar nos perguntando:

“Quantos dos assassinados eram culpados? Quantos eram inocentes?”

Jamais saberemos.

E não por culpa das vítimas…

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