14 anos Dando a cara a tapa – Semana especial de aniversário: O mundo em 2025

Falar do que vai acontecer no mundo neste ano que se inicia é, fundamentalmente, analisar os efeitos da (re) eleição de Donald Trump. Ainda que os Estados Unidos não sejam mais a potência única que pairava acima de todas no pós-Guerra Fria, ainda assim o seu peso é absolutamente desproporcional ao de qualquer outro país no concerto das nações. Falar do mundo sem falar dos Estados Unidos é, no final das contas, um exercício de frivolidade.

Não faz nem dois dias que Donald Trump tomou posse novamente como presidente da Roma moderna e parece que dois anos já se passaram. Numa profusão inédita de “ordens executivas”, o Nero Laranja já tentou até revogar por decreto a 14ª emenda da Constituição dos Estados Unidos, negando aos filhos nascidos de pais não naturalizados a cidadania norte-americana.

Mas se Trump representa um verdadeiro terremoto na política americana, no mundo sua (re) aparição mais se assemelha a um tsunami. Porque, quer queiramos ou não, a pedra que lá afunda gera ondas concêntricas que se espalham por todos os oceanos. Tal como foi previsto aqui, o Laranjão fez troça dos inocentes que ainda acreditavam em “moderação (risos) de sua parte. Se Trump não foi moderado no primeiro mandato, que dirá no segundo, tendo reassumido o cargo depois de ser condenado criminalmente e escapado da prisão pela tão-só razão de ter sido eleito.

Desde antes de assumir, o Nero dos nossos tempos já prometeu: anexar o Canadá, que se transformaria no 51º estado norte-americano; retomar à força o Canal do Panamá; e comprar a Groenlândia. Tudo isso e mais extravagâncias do tipo mudar o nome do Golfo do México para “Golfo da América”.

À primeira vista, pode parecer apenas loucura de um velho insano. O Canadá jamais deixará de ser uma nação autônoma para se tornar apenas mais um estado dos EUA. O Panamá não devolverá o canal aos Estados Unidos senão à base da força. E nem a Dinamarca nem a própria Groenlândia anunciaram o terreno na OLX, para quem der o maior lance. À segunda vista, porém, talvez seja o caso de rememorar Polônio ao analisar as sandices de Hamlet: Though this be madness, yet there is method in it (“Embora isso possa ser loucura, ainda assim há método nela”).

Quando Trump ameaça simultaneamente o México e o Canadá, o que ele pretende é negociar melhores termos de troca quando houver a renovação do Nafta, o acordo de livre-comércio da América do Norte. É a velha tática do corretor de imóveis de Nova Iorque que ele sempre foi: ameaça com o fim do mundo para, com a outra parte em pânico, conseguir um acordo melhor para si. O mesmo se aplica à “ameaça” de comprar a Groenlândia, que nada mais é do que mais uma forma de pressionar seus parceiros da Otan a morrer com mais uma graninha para defender a coalizão dos russos.

No fundo, a grande briga de Trump é com a China. O Império do Meio já ameaça a hegemonia americana há algum tempo e não seria surpresa vê-lo ultrapassando os Estados Unidos em PIB nominal até o final desta década. Por isso mesmo, o Nero Laranja praticamente obrigou Bibi Netanyahu a promover um cessar-fogo em Gaza e, muito provavelmente, fará o mesmo com Volodimir Zelensky, forçando-o a aceitar uma posse de facto das terras conquistas pela Rússia de Putin em troca do fim das hostilidades entre os dois países. Se Trump quer realmente encarar a China de frente, não pode ter “distrações” como guerras entre aliados para tirar o foco de sua atenção.

Se por um lado essa estratégia da força pode funcionar porque, como ele mesmo disse ao se referir com menoscabo ao Brasil, “everybody needs us” (“todo mundo precisa da gente”), por outro aplicar uma tática surrada pode ter o efeito contrário. Afinal, se você sabe que negocia com um trambiqueiro que negocia na base da ameaça, uma hora aparece alguém com cojones suficientes pagando para ver. Aí, restará ao Laranjão duas hipóteses: recuar e ver-se desmoralizado por ter o blefe exposto; ou dobrar a posta e partir pra ignorância. Nesse último caso, só nos restaria descobrir se a loucura de Trump é de fato encenada ou se é real.

Seja como for, é impossível observar o que acontece e pensar que, de alguma forma, as coisas vão melhorar. Se um país pequeno e ridiculamente desimportante do ponto de vista econômico como a Coréia do Norte já causa tanta dor de cabeça por ter um louco como presidente, imagina quando o mesmo acontece com a maior potência econômica e militar do planeta. Assim como foi previsto aqui, a eleição de Trump conduz a um mundo mais inseguro, mais instável e muito mais sombrio.

Deus nos ajude.

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