Treze anos depois, vamos recordar um dos posts mais queridos de uma das seções mais esquecidas deste espaço: as Dicas de Viagem.
E, claro, nenhuma alternativa seria mais apropriada do que Amsterdam.
É o que você vai entender, lendo.
Cidades do mundo: Amsterdam
Publicado originalmente em 8.4.11
Pra desanuviar um pouco o ambiente após a tristeza com o massacre de ontem, nada melhor do que uma viagem a uma cidade alegre pra espairecer. Em homenagem aos amigos LZ e Kellyne, com vocês: Amsterdam.

Se Londres é a cidade mais legal do mundo, Amsterdam é a mais alegre. Tão legal quanto Londres, mas há algo diferente no ar. É como se a alegria da cidade fosse uma alegria adolescente. Independentemente da idade, é como se você voltasse no tempo. De repente, você se sente com 15, 16 anos. Tudo é fácil, tudo é simples, as grandes preocupações da vida resumem-se a saber onde você vai se divertir quando a noite cair. Se há verdadeiramente uma fonte da juventude, ele deve estar em Amsterdam.
Fora a alegria e a simpatia do povo, Amsterdam em si é uma cidade linda. Bonita, arrumada, com vários museus e várias opções de diversão, diurnas e noturnas. Se não bastasse, ainda tem canais, como Veneza (com a vantagem de que eles não fedem tanto como na Serenissima).

Amsterdam é ainda uma cidade curiosa. Em nenhum outro lugar do mundo você vai ver tanto sinal de trânsito. Em um único cruzamento, você pode achar quatro: sinal de carro; sinal de pedestre; sinal de bicicleta; e sinal de Tram (os “metrôs” de superfície, o melhor modo de se deslocar em Amsterdam). Andar de bicicleta é um convite quase irresistível; há ciclovias na cidade inteira, e eu me arriscaria a dizer que a bicicleta é o meio de transporte mais usado pelos locais. Não à toa, em todo lugar que você vai – TODO mesmo – há centenas e centenas de bicicletas estacionadas (há até edifício-garagem de bicicleta na estação de trem).
Por falar em meios de transporte, não deixe de adquirir o I Amsterdam Card. É um cartão que dá passe livre em todos os transportes públicos da cidade, além de dar descontos nas principais atrações (A Casa de Anne Frank não entra, sei lá por quê).
Pra quem gosta de coisas alternativas, você pode fumar cannabis legalmente em Amsterdam. Ao contrário do que propalam por aí, a maconha não é liberada indiscriminadamente. Somente alguns bares podem vendê-la, a quantidade é restrita (5 gs, salvo engano) e você tem que fumar lá dentro; não pode sair pra fumar na rua.
A prostituição também é legalizada. “Grandes coisa”, deve pensar você. “Em Londres também é”. De fato, mas lá – por incrível que pareça – a prostituição tornou-se uma atração turística. O bairro de concentração das mulheres mundanas é o famoso Red Light District, o Distrito da Luz Vermelha. Antigamente, era uma zona suja de prostituição. Hoje, é mais um recanto para turistas curiosos verem a confusão. Há várias sex shops e boates de strip tease. E, obviamente, também há as famosas “vitrines” em que as mulheres oferecem, em trajes sumários, seus favores sexuais.

Mas Amsterdam não é só perversão e bebedeira. Há muita cultura, história e entretenimento. Alguns são obrigatórios: Museu Van Gogh, Rijksmuseum, casa de Anne Frank (do famoso Diário), e outros mais.
E, para as mulheres, há ainda várias e várias “fábricas” (na verdade, joalherias) a vender diamantes de todas as cores, lapidados de todas as formas. Se você é homem e arrimo de família, prepare o bolso: o mais baratinho dos diamantes – do tamanho de um grão de areia – não sai por menos de EU$ 200,00.
Mas chega de papo. O negócio é aproveitar. Vamos a um roteiro rápido de quatro dias:
Primeiro dia, mate logo as visitas obrigatórias aos museus. Aproveite-se do fato de que o Museu Van Gogh e o Rijksmuseum são bem próximos e visite ambos. Comece pelo Rijksmuseum, que está em reformas, e por isso “está” bem menor. Depois, vá ao museu Van Gogh, enorme, com uns 5 andares só com obras do sem-orelha. Pra descansar depois da caminhada, há em frente uma enorme praça com um campo de relva verde. Compre uma água ou uma cerveja, deite-se e coloque as pernas pro ar. Vale a pena. À noite, pegue um Tram e vá para Leidseplatz, uma praça bem central da cidade. Escolha um bar qualquer e peça uma legítima cerveja holandesa pra desopilar. Ao lado da praça há vários restaurantes. Escolha um e mande brasa.
Dia dois: uma boa opção, principalmente se estiver acompanhado de crianças, é visitar o Nemo, um edifício futurista, que funciona como um museu-oficina de coisas científicas. É muito interativo e você aprende muitas coisas de física e biologia. Em frente ao Nemo, há também uma réplica de uma caravela holandesa. Pra quem tem curiosidade de saber como é, vale a pena visitá-la. De lá, você pode seguir pra um passeio pelo Mercado de Flores (onde se vendem flores e tulipas pra você levar e plantar em casa). Aproveite também pra dar um passeio de barco pelos canais de Amsterdam. É uma visão diferente da cidade e também muito instrutiva por causa do guia. À noite, se não houver restrições familiares, vá ao Distrito da Luz Vermelha, ver como funciona a antiga zona podre da cidade (hoje zona nobre). Depois, um jantarzinho básico em algum restaurante que fique próximo.
Terceiro dia: dia de sair de Amsterdam. Siga para a estação de trem e compre um bilhete de ida e volta para Haia (den Hagen). É uma cidade encantadora, não pelo Palácio da Justiça, sede da Corte Internacional de Haia – que você não pode visitar – mas pela Mauritshuis, ou Casa de Maurício de Nassau (sim, o mesmo que governou Pernambuco). É um museu com algumas da telas mais importantes que você tem que conhecer antes de morrer: A Moça com Brinco de Pérola, de Vermeer, a primeira pintura das américas (Vista de Itamaracá, de Franz Post) e, é claro, uma das mais impressionantes e bonitas na minha opinião: A lição de anatomia, de Rembrandt. Dê um passeio pela cidade e aproveite a tranqüilidade, que contrasta com a efervescência de Amsterdam. De volta à Amsterdam, volte à Leide Platz e busque ali perto um bom restaurante para forrar o estôgamo, pois no último dia você vai andar.
Quarto dia: malhar. Ou melhor: pedalar. Alugue uma bicicleta e siga andando pela cidade inteira, impressionado como uma cidade pode ter sido estruturada de modo a que as pessoas andem de bicicleta por toda ela. Cuidado apenas com os locais. Nunca – mas NUNCA mesmo – pare pra olhar mapa, relógio, ou seja lá o que for, na ciclovia, salvo se estiver afim de levar um esporro em holandês. Depois, saia um pouco da trilha e vá para o Vondelpark, um belíssimo parque no meio da cidade, cheio de verde, água e, é claro, gente andando de bicicleta. Se estiver di$po$to, siga de lá para visitar alguns dos “Museus de Diamantes” que ficam ao lado da esplanada dos museus. Ao final da visita, você é despretensiosamente convidado a “conhecer” a loja de diamantes do museu. Hora de abrir o bolso. Ou de fugir, se for o caso.
Essa é Amsterdam. Quatro dias são pouco, é verdade. Há muito mais a conhecer. Mas toda vez que você quiser voltar à adolescência, ela estará lá, esperando por você.