Recordar é viver: “A volta à Idade Média”

Doze anos depois, a triste constatação de que nada mudou.

Aliás, mudou sim. Para pior. Bem pior.

Saímos da Idade Média e estamos no caminho do Apocalipse.

É o que você vai entender, lendo.

A volta à Idade Média

Publicado originalmente em 20.11.12

Quem assiste ao noticiário internacional deve ter percebido que, pela enésima vez nos últimos 70 anos, palestinos da Faixa de Gaza lançaram foguetes contra Israel. Como sempre acontece nesses casos, a resposta de Israel foi uma só: fogo se responde com fogo; resposta dura, rápida e letal.

Até aí, nada de novo. Mais do mesmo numa região marcada pela guerra e pelo flagelo dela decorrente: os palestinos entram com a cabeça e os israelenses com o porrete.

O traço distintivo dessa nova fricção entre palestinos e israelenses foi a declaração do Ministro do Interior israelita. Para Eli Yishai,  “o objetivo da operação é enviar Gaza de volta à Idade Média”. A chocante sinceridade do ministro israelense dá a exata medida do tamanho do estrago que vem pela frente.

Essa briga não vem de agora. Seu histórico mais recente data de 2004, quando o Hamas venceu as eleições parlamentares na Palestina e assumiu o virtual controle da Faixa de Gaza. Do outro, na Cisjordânia, mantém-se no poder a Autoridade Palestina, controlada pelos rivais do Hamas, a Fatah. A diferença entre ambas é sutil, mas marcante: o Hamas quer a libertação da Palestina por meio da guerra, enquanto o Fatah ainda tenta inutilmente buscar uma saída diplomática.

Visando a isolar – literalmente – o Hamas após a eleição de 2004, Israel e Egito organizaram um severo bloqueio por água, terra e ar à Faixa de Gaza. Foi esse bloqueio, aliás, que gerou o incidente do ataque à Flotilha da Liberdade, em 2010. Comandada por ONG’s que levavam mantimentos aos moradores da região, a Flotilha foi abordada por militares israelenses que atiraram antes de perguntar. Nove ativistas morreram no ataque, gerando protestos contra Israel pelo mundo inteiro.

Como se isso não bastasse, os israelenses resolveram construir um muro ao redor da Faixa de Gaza, de modo a impedir o acesso de palestinos ao solo israelense. Condenado pela Corte Internacional de Justiça de Haia, o muro passou a integrar a vexaminosa lista de construções que desonram seus projetistas.

Do lado dentro, a situação é simplesmente calamitosa. Como o acesso é deveras restrito, palestinos têm dificuldade em atravessar a fronteira para ir trabalhar. Mesmo a entrada de suprimentos de primeira necessidade é tormentosa. Com 1,5 milhão de pessoas, a renda per capita média da região é de menos de US$ 2 por dia. Faltam estrutura, alimentos e remédios. Tudo é um caos.

Na última operação do gênero em 2008, a Faixa de Gaza ficou sem luz. Água? Só a cada cinco dias, por algumas horas. O esgoto invadiu as ruas, porque o sistema de saneamento fora danificado pelos bombardeios. O corte do suprimento de gás suprimiu a calefação em pleno inverno. O sistema de saúde simplesmente colapsou com a quantidade de mortos e feridos que chegavam todos os dias.

Agora, a tragédia se repete. Mas, ao contrário do que disse o Ministro do Interior israelense, o objetivo da operação não é mandar Gaza à Idade Média.

Porque isso eles já conseguiram há muito tempo…

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