Encerrando esta semana comemorativa das 13 velinhas assopradas pelo Blog, vamos ver o que o Dando a cara a tapa aguarda para este 2024 no cenário internacional.
Como todo mundo que acompanha o Blog há algum tempo está careca de saber, em ano de eleição presidencial nos Estados Unidos, os olhos do mundo ficarão todos voltados para o desenrolar da disputa pelo comando da Roma dos tempos modernos. Todos os demais problemas do mundo – e eles não são poucos – estarão de certa forma condicionados ao humor do eleitorado ianque. A depender de pra onde o vento soprar ao norte do México, poderá haver raios e tempestades no restante do mundo.
Dando por certo que o famigerado ex-apresentador de O Aprendiz, Donald Trump, será o candidato dos Republicanos, pela primeira vez em mais de duzentos anos de história os Estados Unidos terão uma reprise de uma eleição anterior. Mas, ao contrário de 2020, Joe Biden não poderá contar – ou, pelo menos, não poderá contar somente – com a boa vontade dos defensores da democracia (o que inclui boa parte do Partido Republicano) para bater o Laranjão novamente.
Para além da idade avançada (81 anos), Biden é um presidente profundamente impopular. Ninguém sabe ao certo explicar o porquê. A economia vai bem, empregos foram criados aos milhões e a inflação, que beirou quase os dois dígitos (uma enormidade por lá), já se encontra em curva descendente, rumo à meta de 2% a.a. Seja lá qual for a razão pela qual o eleitor médio não se afeiçoa por Biden, o fato é que isso automaticamente faz de Trump um candidato forte, ainda que seu pesado histórico de barbaridades no cargo recomendasse alguns anos de cadeia, ao invés de um retorno triunfal àquela casa grande e branca no final da Pennsylvania Avenue.
E por falar em cadeia, é precisamente da Justiça que pode vir alguma reviravolta na eleição norte-americana. Sim, eles não tem nada lá similar à nossa Lei da Ficha Limpa. Mas, da mesma forma, tampouco há por lá o direito de só ser preso depois do trânsito em julgado da decisão. Condenou em 1º grau, o sujeito já vai direto em cana. A apelação é processada, em regra, com a figura na cadeia. Com quatro processos criminais diferentes em curso, alguns deles na bica de ser julgados, Trump conseguirá de fato concorrer e, mais ainda, se (re)eleger estando behind bars? Difícil acreditar nessa hipótese, por mais que Biden não seja exatamente um presidente querido.
Obviamente, em algum momento esse panorama deve ficar mais claro, isto é, se Trump de fato vai ganhar com um pé nas costas como se projeta nas pesquisas de hoje, ou se, por outro lado, fatores externos advindos da Justiça irão acabar barrando suas pretensões. Até lá, todo o resto do mundo ficará em suspense, sem saber para onde vai ir.
Exagero?
Basta pensar no seguinte: se, pelo meio do ano, ficar claro que Trump vai ganhar as eleições, a Guerra da Ucrânia tende a acabar rapidamente, pois Zelensky perderá seu principal patrocinador à resistência que ora oferece contra a invasão russa. Se, ao contrário, Trump for considerado carta fora do baralho, o conflito eslavo tende a continuar e a ficar congelado, exatamente como está hoje, numa variante moderna da guerra das trincheiras que prevaleceu na I Guerra Mundial.
Do outro lado do mundo, a coisa não muda de figura. Por mais que seja improvável ver a China invadindo Taiwan anytime soon, se Trump se reeleger e Putin acabar conseguindo anexar à força a parte mais rica da Ucrânia, Xi Jiping pode se ver tentado a pagar pra ver. Nesse caso, o delicado equilíbrio que existe no Oriente estaria irremediavelmente quebrado, quem sabe com Japão e Coréia do Sul entrando numa corrida armamentista contra o gigante asiático. Pior. Taiwan responde por quase 90% dos chips produzidos no mundo. Uma guerra lá teria consequências muito mais devastadoras para a economia mundial do que a invasão russa à Ucrânia.
Ao sul do equador, neste recanto esquecido do mundo chamado de Latinoamérica, tampouco estamos isentos dos tremores que vêm do lado de cima do continente. Uma eventual vitória de Trump reenergizaria imediatamente os movimentos de extrema-direita, aqui e alhures. Milei, por exemplo, se sentiria à vontade para implementar as medidas mais radicais do seu plano “libertário”, pois poderia contar com o apoio (leia-se: $$$) oferecido pelos Estados Unidos.
E nem se fale, claro, do que isso representaria para o bolsonarismo tupiniquim. Uma vitória do ídolo-mor dos bolsominions colocaria novamente a família Bolsonaro na crista da onda. Jair, provavelmente, iria pagar mais uma de vez de papagaio de pirata do Laranjão americano, para depois arrotar uma proximidade que só existe em sua cabeça. Por mais fantasiosa que seja a idéia de uma amizade entre Trump e Bolsonaro, o fato é que isso poderia servir pra catapultar as pretensões de Jair e seus aliados, tornando no mínimo mais dificultosa a tarefa de colocá-lo atrás das grades.
Como desgraça pouca é bobagem, uma vitória de Trump também eliminaria o veto imposto pelos Estados Unidos aos militares brasileiros contra qualquer quartelada bananeira. Entre outras razões, o 8 de janeiro malogrou porque altas autoridades do governo Biden visitaram seus correlatos tupiniquins e deixaram muito claro quais seriam as consequências caso eles embarcassem de vez nas loucuras bolsonaristas. Com Trump de volta à Casa Branca, essa garantia desapareceria em dois tempos.
Só nos resta, portanto, rezar para que o Bom Deus se apiede do mundo, em geral, e do Brasil, em particular, livrando-nos a todos de um retorno do Laranjão apresentador de O Aprendiz. Até novembro deste ano, todo o planeta prenderá a respiração, tenso pelo receio do que pode vir pela frente. Enquanto isso não se resolver, grandes emoções nos aguardam.