Rise of the machines, ou A obsolescência do ser humano

Era apenas uma questão de tempo.

Desde quando Alan Turing resolveu criar a máquina que viria a ser o tataravô dos computadores modernos, a evolução natural da tecnologia ditava que, mais dia, menos dia, as máquinas terminariam por suplantar seus criadores. Ninguém sabia ao certo como se daria esse avanço, nem a partir de qual momento as máquinas assumiriam a “dianteira”, por assim dizer. E, embora esta última questão ainda esteja em aberto, é seguro dizer que esse momento está mais próximo do que nunca.

Há pouco mais de seis meses, o pessoal da OpenAI lançou o agora famoso ChatGPT. O que surgiu em princípio como apenas um protótipo de um programa desenvolvido para simular conversações reais, logo evoluiu para assustar aqueles que com ele interagiam. Não são raros os relatos de gente dizendo ser praticamente impossível distinguir a máquina de um ser humano. Pior. Há casos inclusive de reações “violentas” do programa a usuários que o “confrontam” com a idéia de que ele não passa de um simulacro da realidade. Para além das negativas enfáticas, houve episódios até de “ameaças” do ChatBot a usuários do sistema.

Talvez a rapidez com a qual o ChatGPT – e outros programas similares – se desenvolveu tenha de fato assustado a maioria, mas o fato é que aquilo que chamamos de “inteligência” parece cada vez menos exclusividade do ser humano. Essa espécie de “reserva de mercado evolutiva” foi alardeada desde sempre, a ponto de gênios como Garry Kasparov ter afirmado, antes de sua fatídica disputa com o Deep Blue, que era impossível ao computador vencê-lo. Afinal, segundo ele: “It’s a machine. At the end of the day, it’s stupid”.

Todavia, já faz tempo que essa “reserva de mercado” é coisa do passado. Basta olhar ao seu redor e ver. Não faz muito tempo atrás, todo mundo gostava de viajar ao lado de alguém “achado”, que poderia se encontrar e se deslocar entre lugares de interesse sem ajuda de um mapa. Hoje, que vantagem teria esse sujeito que vem com GPS de fábrica diante de um Google Maps?

Voltando ainda um pouco mais no tempo, houve uma época em que era possível a (alguns poucos) seres humanos fazerem contas numa velocidade superior à das antigas máquinas de calcular, que dependiam de uma girada na manivela para divulgarem o resultado encontrado. Hoje, qualquer celular de quinta categoria possui uma calculadora científica capaz de fazer cálculos impossíveis a um ser humano em milissegundos. Onde foi parar a supremacia dos humanos na matemática? Em algum museu de arqueologia, provavelmente.

Mesmo coisas que hoje ainda parecem inacessíveis às máquinas logo, logo farão parte do nosso cotidiano. Desde sempre e até o presente momento, o conhecimento de línguas estrangeiras sempre foi visto como um sinal de inteligência superior e classificado como um “ativo” diferencial para o sujeito gabaritado a expressar-se em diferentes idiomas. Pois não tardará muito e o Google – ou alguma empresa do gênero – acabará por inventar uma máquina capaz de operar traduções simultâneas, as we speak.

A rigor, hoje elas até já existem, mas dependem de que você digite ou dite o texto no navegador. No futuro, não necessariamente de ficção científica, você acionará o aplicativo no seu celular e, com um fone de ouvido pendurado em sua orelha, ouvirá em tempo real, na sua língua nativa, o que um chinês em Pequim está lhe dizendo.

Imagine, agora, um programa que resolva deixar de seguir as ordens de seu criador e desenvolva consciência própria. Ligado em rede, ele poderá ler toda a enciclopédia de conhecimento humano reunida na Internet – Química, Física, Biologia, Matemática, Astronomia – em questão de minutos, quiçá segundos. Quem irá impedir esse super-programa de julgar que somos incapazes de gerir nosso planeta e assumir a p**** toda?

A verdade – é triste reconhecer – é que o verdadeiro salto evolutivo que levou os seres humanos a se julgarem superiores aos outros primatas e a “reinar sobre a Terra” parece cada vez mais um bolso vazio, do qual saem cada vez menos moedas. Em muito pouco tempo, o ser humano – ou, mais especificamente, a inteligência do ser humano – será considerada obsoleta. Não se trata de uma questão de “se“, mas de “quando” isso ocorrerá.

Estaremos preparados para esse dia?

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