Chegando ao fim desta semana especial de doze anos do Dando a cara a tapa, vamos saber o que o Blog espera para este novo ano que se inicia neste pequeno pontinho azul perdido na imensidão do espaço.
Olhando-se a questão a partir do nosso próprio umbigo, é evidente que a “grande” notícia deste 2023 é a volta do Brasil ao mundo. Depois de um quadriênio no qual os contatos diplomáticos do Brasil restringiram-se a Estados Unidos (até a derrota de Trump), Israel (até a derrota de Netanyahu) e Hungria, agora podemos voltar a conversar com nossos vizinhos e a Europa sem ser na base da patada. Tal qual aconteceu com os Estados Unidos quando Joe Biden foi eleito (para saber mais, clique aqui), o retorno do Brasil ao mundo é talvez a grande novidade deste ano que começa.
Mas qual a razão das aspas?
As aspas se justificam em razão de o Brasil possuir pouca ou nenhuma relevância no cenário global. Quatro anos ostentando a condição de virtual pária mundial – cortesia da “diplomacia” (risos) alucinada de Ernesto Araújo – são a prova mais cabal de que o mundo caminha muito bem, obrigado, se o governo brasileiro resolver voluntariamente se excluir do contexto das organizações internacionais. A rigor, o Brasil precisa muito mais do mundo do que o mundo do Brasil.
Todavia, com suas dimensões continentais e mais de 200 milhões de habitantes, é evidente que o Brasil de alguma forma tem capacidade de inserção global, nem que seja em alguns nichos estritos. Nossa grande vitrine, sem dúvida, é a Amazônia. Nesse sentido, a eleição de Lula (ele mesmo um líder mundialmente conhecido) e a posterior indicação de Marina Silva para o Ministério do Meio Ambiente têm, sim, capacidade de colocar o Brasil de volta no jogo. As doações da Alemanha e da Noruega ao Fundo Amazônia são apenas o exemplo mais concreto da diferença que faz termos gente que sabe juntar lé com cré em áreas chaves, no lugar de um ministro que defende madeireiros ilegais e um presidente que coloca a culpa pelas queimadas na floresta nas ONGs ou no Leonardo Di Caprio.
Mesmo assim, colocando a questão em perspectiva, seria pretensioso ou talvez até ingênuo acreditar que o fato de Lula ter sido eleito presidente faça com que o Brasil, em um passe de mágica, mude de patamar no cenário global. Se por um lado voltaremos a ter voz e vez em questões ambientais ou mesmo em discussões comerciais (alô, agronegócio!), é claro que ninguém vai esperar para ouvir a “voz do Brasil” quando tiverem de ser tomadas medidas mais relevantes no contexto mundial. Voltamos ao palco? Sim. Mas continuaremos a ser, por muito tempo, coadjuvantes nesse teatro.
Quanto aos papéis principais, todo mundo está careca de saber por onde a trama se desenrolará. A guerra entra a Rússia e a Ucrânia confirmou-se como o atoleiro previsto aqui, e não há qualquer perspectiva de fim no horizonte. Um cenário de vitória completa de qualquer dos lados parece descartado, seja pela aparente exaustão das forças russas, seja pela falta de homens e equipamentos por parte do exército ucraniano. Mesmo a possiblidade de entrega de tanques de guerra por parte da Europa e dos Estados Unidos não terá efeito imediato no conflito. Afinal, para além da demora na efetiva entrega dos tanques, há ainda a necessidade de treinamento por parte dos soldados ucranianos. Dessa forma, é razoável pensar que dificilmente haverá qualquer resolução de paz no primeiro semestre, quiçá neste próprio ano.
Em outra briga de cachorro grande, Estados Unidos e China devem continuar com sua Guerra Fria 2.0, dançando um balé de elefantes em torno de Taiwan, a ilhe rebelde para a qual fugiram Chiang Kai Sheck e seus nacionalistas em 1949. Dadas as condições atuais da China, com o imenso impacto tardio da pandemia de Covid, a desaceleração de sua economia e uma inflação que sempre traz alguma inquietação, é difícil imaginar que Xi JiPing resolva partir pro conflito aberto a essa altura do campeonato. Aliás, os aparentes distúrbios na transição entre um “regime de revezamento” entre líderes e um novo “Império do Meio”, com Xi JiPing na condição de “novo Mao”, tornam ainda mais duvidosa a possibilidade de uma guerra contra Taiwan e os Estados Unidos. O mais provável, portanto, é que continuemos com fricções ocasionais e “demonstrações de força” esporádicas de lado a lado, mas sem jamais passar o ponto de não retorno do conflito armado.
Em relação à Europa, desde o Brexit o continente tem experimentado uma certa decadência no cenário global. Não que seja possível dizer que países como a França ou a Alemanha sejam irrelevantes, mas não seria exagero dizer que, hoje, os principais players europeus jogam numa espécie de segunda divisão da diplomacia mundial. Às voltas com os intermináveis problemas do Euro e com uma inflação renitente (coisa que os europeus não vivem a sério há pelo menos duas gerações), é difícil imaginar que a Europa volte a dar as cartas em algum momento nesse pôquer mundial. Ademais, há ainda a guerra da Ucrânia e o problema da eterna dependência do gás russo para resolver. Tudo isso somado, devemos ver mais uma vez os europeus caminhando a reboque dos Estados Unidos quando estiverem em discussão as grandes questões internacionais.
O que se desenha para o mundo neste ano de 2023, portanto, é algo como mais do mesmo. Sem grandes emoções, mas também sem grandes sustos, as ressalvas correm por conta daquelas coisas imprevisíveis que de vez em quando surgem em países como a Coréia do Norte, por exemplo. De resto, devemos esperar algo mais parado e menos emocionante.
No contexto atual, já está mais do que de bom tamanho…