Por uma economia moderna, ou Quando o Brasil entrará no Século XXI?

Saindo um pouco da mesmice nossa de cada dia, vamos abordar um tema que geralmente passa ao largo do noticiário.

Quando se fala de “economia”, normalmente os jornais – escritos e televisivos – limitam-se a registrar se a bolsa ou o dólar subiram ou caíram em determinado dia. No limite, noticiam-se dados econômicos de alguma relevância, como a variação do PIB em determinado ano ou então o saldo da balança comercial brasileira. Infelizmente, é difícil ver alguma discussão mais aprofundada sobre o tipo de economia que o Brasil quer (ou deve) ter. E se isso já é a regra em anos “normais”, a coisa fica ainda mais grave quando temos um ano de eleições, como será este de 2022.

Quem é adulto hoje cresceu no mundo do Século XX. Isso quer dizer, em outras palavras, que o sujeito que hoje está em posição de poder – geralmente acima dos 40 anos de idade – fez-se homem sob uma determinada perspectiva do que vem a ser “desenvolvimento” ou mesmo “crescimento econômico”. No século passado, essa idéia passava quase sempre pela noção de “industrialização”, assim entendida como o desenvolvimento de uma indústria de base, fundada principalmente nos materiais básicos mais utilizados pelo ser humano: petróleo e aço. Não por acaso, o grande ícone de “estadista” brasileiro do século XX é Getúlio Vargas, que acordou com os americanos a instalação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e criou a Petrobras, com monopólio da exploração pelo Estado.

Desde então, este tem sido o padrão do “desenvolvimento” brasileiro, seja em períodos democráticos, seja em períodos ditatoriais. No governo JK, por exemplo, o grande “salto adiante” da economia brasileira é representado pela atração das montadoras internacionais para fabricar automóveis, assim como a construção de Brasília, paradigma do empreendedorismo representado pela construção civil. Disso não difere a ditadura militar, que focou principalmente na construção de hidrelétricas (Sobradinho, Itaipu e Tucuruí, só pra citar os exemplos mais famosos) e na criação de empresas estatais para fomentar o desenvolvimento (mais de 200 foram criadas nesse período).

Obviamente, desde o final da década de 90 do milênio passado até o início dos anos 2000, a visão predominante no mundo era de que desenvolvimento era basicamente isso: criar indústrias de materiais básicos e, depois, desenvolver uma rede de serviços para empregar aqueles que não fossem aproveitados na indústria. De certo modo, essa visão acabou sendo reforçada com o estouro das empresas “Ponto.com” no começo do milênio, quando parecia que a “velha economia” havia conseguido sua revanche e acabado com a conversa de que o desenvolvimento seria diferente dali para frente.

Ledo engano.

Em que pese o estouro da bolha da Nasdaq, o fato é que a economia se desenvolveu de modo muito diferente desde então. Não que já não houvesse mudanças antes, mas a alteração de rumo e de foco dos agentes econômicos só fez se acelerar desde aquela época. Quando houve a virada do milênio, a referência de “grandes empresas” eram General Eletric, Coca-Cola e IBM. Hoje, a referência são Apple, Amazon e Facebook. Nenhuma dessas três trabalha com qualquer dos materiais que o sujeito dos anos 20 entenderia como “indústria”. Com o uso intensivo de tecnologia, essas empresas não possuem sequer uma fábrica para chamar de suas; terceirizam a produção para fábricas de outros países (China ou Taiwan) e, mesmo assim, ficam com o grosso dos lucros da venda de seus produtos. Não por acaso, todas já ultrapassaram o inimaginável valor de mercado de US$ 1 trilhão.

E o que fez o Brasil nesse período todo?

Nada. Ou, em alguns casos, pior que nada (andou pra trás). Para além da insana Lei de Reserva de Mercado, que nos legou quase duas décadas de atraso na aurora da explosão tecnológica, o fato é que quase ninguém tem dado atenção ao atraso do Brasil nesse quesito. Entra ano, sai ano, vem eleição, sai eleição, todo mundo discute “emprego” sob a perspectiva de postos industriais, empregos de serviço ou mesmo no agronegócio. Mas ninguém parece querer discutir a sério a necessidade premente de fazer com que o Brasil ingresse no Século XXI e comece a fazer parte desse jogo. Contentamo-nos com o “feijão com arroz” econômico, isto é, quando há “feijão com arroz”, porque no mais das vezes estamos às voltas com as crises que nós mesmos criamos, e ficamos numa busca desesperada de encontrar uma forma mais rápida de sair do buraco em que nós mesmos nos metemos.

Não que o “mundo do Século XX” tenha acabado ou desaparecido para sempre, que fique claro. A humanidade continuará consumindo produtos que nossos avós viram chegar como grande revolução, como é o caso das televisões ou das geladeiras. Mesmo nesses casos, contudo, o paradigma virou. Quando Elon Musk resolveu pegar parte da sua fortuna e investir numa na produção de carros elétricos, houve gente que deu risada. Naquela época, as pessoas consumiam carros fabricados pela Honda, pela GM e pela BMW. Hoje, o valor de mercado da fábrica de Musk é superior ao de todas as outras fabricantes do mundo inteiro.

Seu nome?

Tesla.

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