A arquitetura no pós-pandemia

Com a internação do Presidente Jair Bolsonaro – com os sinceros desejos de que se recupere bem -, o clima político desanuviou um pouco em Brasília. Embora a situação geral permaneça mais ou menos a mesma, abre-se algum espaço na agenda para tratar das pendências temáticas aqui do Blog. E, dentre todas as seções do Dando a cara a tapa, nenhuma parece mais esquecida do que a sempre bela Arquitetura.

A arquitetura, como se sabe, refere-se à arte de desenhar, modelar e construir ambientes físicos a serem ocupados pelos seres humanos. Não por acaso, a forma através da qual se expressa a arquitetura nos mais variados lugares diz muito sobre a cultura de determinado país. De fato, é possível identificar sinais islâmicos em um imponente minarete ou traços católicos em algum edifício renascentista. Mais do que outros aspectos culturais, a arquitetura permite até mesmo revisitar o passado histórico de determinada nação. Com um pouco mais de atenção, é possível aprender mais se observando um edifício antigo do que lendo um livro sobre a história do país. A questão hoje, contudo, é saber de que modo a arquitetura do nosso tempo refletirá o mundo pós-pandêmico que (felizmente) se avizinha.

Que haverá alterações na nossa forma de encarar os espaços urbanos, parece não haver dúvida. Mas de que tipo de mudanças nós estamos tratando?

De cara, pode-se imaginar uma reorganização dos espaços fechados. Ou, mais precisamente, os espaços fechados tendem a se tornar cada vez mais raros e restritos a poucos tipos de negócio. A construção de espaços abertos, com ampla ventilação, tendem a se tornar dominantes na paisagem. É o caso, por exemplo, das academias dos condomínios. Normalmente fechadas e refrigeradas com ar condicionado, não é preciso ser nenhum gênio para imaginar que os espaços de musculação nos edifícios serão agora construídos preferencialmente em lugares mais elevados (em cima de um deck de piscina, por exemplo), com a entrada virada para o nascente, de modo a favorecer a ventilação natural. Isso, claro, para não falar dos casos mais radicais, de academias erguidas na cobertura dos prédios, ladeando os charmosos rooftops.

Obviamente, esse é um exemplo banal, quase intuitivo. Mas pequenas mudanças do nosso quotidiano pandêmico também acabarão por se impor, mesmo nos pequenos detalhes. Por exemplo, o hábito oriental de deixar os calçados à porta praticamente se enraizou no nosso dia-a-dia e é difícil imaginar que voltemos à situação anterior. Para isso, no entanto, não é difícil imaginar que os halls de entrada dos apartamentos comecem a ser desenhados para receber sapateiras e pequenos bancos, para que os visitantes possam descalçar e calçar novamente os sapatos.

Diferente não deve ser o panorama dos escritórios. Para além do home office, que definitivamente deve derrubar a demanda por prédios comerciais, mesmo nos negócios que não poderão prescindir do trabalho presencial o layout deve ser alterado. Ao contrários dos cubículos claustrofóbicos que costumam confinar os empregados de determinada empresa, o mais provável é que tenhamos amplos espaços separados unicamente por divisórias abertas, isto é, que não cheguem até o teto, de modo a permitir a circulação de ar.

Escolas em geral não devem sofrer muito, já que a maioria adota desde há muito o conceito de espaços abertos para receber os seus alunos. No entanto, faculdades e cursos superiores devem sofrer mais para adaptarem-se à nova realidade, uma vez que a maioria ainda costuma se prender a idéias ultrapassadas de lotar as salas de aluno e ligar o ar condicionado no modo “Sibéria” para que os universitários não reclamem do calor (e passem a reclamar do frio, por conseguinte).

De resto, costuma-se dizer que as grandes crises são as que geram as melhores oportunidades. No caso dos arquitetos, o adágio secular parece mais correto do que nunca. Os profissionais que conseguirem intuir para que lado o vento vai soprar poderão sair na frente e auferir grandes lucros com essa mudança. Afinal, se há uma coisa certa nisso tudo é que o mundo antes da pandemia foi um. Mas o mundo depois dela será outro, completamente diferente.

Quem viver, verá.

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